Não sei se é a proximidade de um novo ano que deixa a todos um pouco mais otimistas com o futuro, ou se nossas previsões estão corretas. O certo é que estamos enxergando o mundo e o Brasil com lentes cor de rosa. Como diz a música: “pinga colírio nessa paisagem, que eu quero uma imagem clara”.
Fato é que começamos a semana bem mais otimistas com o desempenho das economias e, por consequência, com o dos mercados. A semana embute a decisão do FED sobre política monetária, onde existe o quase consenso de que os juros básicos serão elevados em 0,25%, saindo do patamar entre 2,00% e 2,25%. Porém, se existe consenso para isso, é certo que o FED deve ser mais suave em suas previsões, o que significa que pode elevar juros em 2019 somente duas vezes, em vez de quatro, como era originalmente previsto.
Os demais bancos centrais de países desenvolvidos, como BOE (BC Inglês), BCE (BC Europeu), BoJ (BC Japonês) e outros, devem adotar posturas mais condescendentes, enquanto o PBoC (BC da China) deve voltar a adotar medidas de maior flexibilização monetária. Já que a economia está desacelerando e há declarações do Politiburo de que querem crescer em faixa “razoável”, manter emprego, comércio e investimentos.
Como temos afirmado, no cerne dessa postura está a percepção de desaceleração global, com os EUA, que ainda lideram a expansão, sofrendo desaceleração mais fortemente no final de 2019, com alguma possibilidade de recessão curta, já que a política tributária mais leve adotada por Trump deixará de fazer efeito. Então, é de se prever que taxas de juros poderão ainda subir, porém de forma mais suave, assim como a redução do tamanho dos balanços dos bancos centrais.
Política monetária distendida por mais tempo será benéfica para países emergentes, principalmente os desequilibrados (e até alguns desenvolvidos) e para contornar a grave situação de países e empresas endividadas, na teoria a nossa maior preocupação. Citamos estudo recém divulgado pelo BIS – Bank for International Settlements – uma espécie de banco central dos bancos centrais, no qual os técnicos deixaram explícito que estão preocupados com o tamanho da dívida dos bancos fora dos EUA, merecendo larga atenção. Atestam que os emergentes foram o motor do crescimento global (vide China e Índia), mas a perspectiva é incerta.
Do lado comercial, nossa visão é também mais clara. Aparentemente, os EUA e a China chegarão em denominador comum sobre tarifas de propriedade intelectual e conseguirão reduzir o diferencial do comércio bilateral que no último mês de outubro foi recorde de superávit para a China em mais de US$ 43 bilhões. Guardamos boas expectativas para o Brexit, apesar de hoje a situação estar completamente indefinida. Theresa May terá trégua para negociar depois de ter ganho o voto de desconfiança, o mesmo acontecendo com Macron da França.
A Itália parece caminhar para compor com a União Europeia, com Conte e Tria negociando redução do déficit orçamentário de 2019 para 2,04% do PIB (antes era 2,40%), e a União Europeia querendo mais. Dessa forma, é possível algum entendimento, já que não convém endurecer.
No cenário local, ficamos na expectativa do novo governo de Jair Bolsonaro e sua boa equipe de ministros e segundo escalão. Ainda não conhecemos exatamente as prioridades e profundidade das medidas que devem ser adotadas, mas a consciência de todos sobre o que fazer deve ajudar bastante nas definições. Porém, no caso específico da reforma da Previdência, seria oportuno queimar etapas e adotar parte do que já está discutido da reforma de Temer, ao invés de perder tempo e sinalizações importantes advindas da maior velocidade de ajuste.
Enfim, somos mais otimistas com os mercados, diante da leitura de sinalizações melhores no mundo e no Brasil. Só resta agora que os investidores estrangeiros voltem com recursos para reequilibrar fluxos.