Em seu discurso de Ano Novo, o presidente chinês Xi Jinping relacionou três conceitos abrangentes sobre o desenvolvimento na China. O primeiro foi “construir um país socialista moderno em todos os aspectos”; o segundo, “o grande rejuvenescimento da nação chinesa”; e o terceiro: “um caminho chinês para a modernização”.
Enquanto o primeiro é o objetivo a ser construído; o segundo é a meta derradeira e o terceiro é a forma ou abordagem para atingir tanto o objetivo quanto a meta. Dito isso, Irei me concentrar no terceiro: a modernização chinesa.
A palavra modernização, em qualquer parte do mundo, significa proporcionar as necessidades e conveniências da vida, o que inclui serviços de qualidade como saúde, educação, moradia, lazer e emprego.
Como, então, distinguir a modernização chinesa dos outros tipos? Como alcançar a modernização chinesa através do desenvolvimento de alta qualidade?
O que é moderno na China
Começo com o que o desenvolvimento de alta qualidade da China não é. Não é orientado à exportação, baseado em produtos de baixo custo e baixo valor agregado. Não é uma indústria pesada, intensiva em energia e poluente. Não é excessivo investimento em imóveis e infraestrutura, alimentado por enormes programas de estímulo.
Pelo contrário, o desenvolvimento de alta qualidade da China significa gerar margens brutas elevadas para pagar salários adequadamente aos trabalhadores e reinvestir em pesquisa e desenvolvimento.
Trata-se de algo fácil de dizer, mas difícil de executar. Afinal, como gerar margens brutas maiores que exigem compradores em uma economia de mercado que pagará preços mais elevados?
Isso pode acontecer somente com especialização tanto da mão de obra quanto dos produtos e serviços. Isso porque margens brutas mais altas devem possuir características únicas.
Três aspectos modernos
Assim, pode-se resumir a modernização chinesa em três aspectos. O primeiro aborda as condições nacionais; o segundo, expressa o socialismo com características chinesas, enfatizando a “prosperidade comum”; e o terceiro reflete a cultura tradicional chinesa, especialmente a harmonia entre homem e natureza.
Destaco, então, dois pontos. Primeiro, “chinês” implica uma enorme população com disparidades significativas entre áreas urbanas e rurais. Daí porque a modernização chinesa deve reduzir esta lacuna e buscar a prosperidade comum.
Em segundo lugar, ao longo da sua longa história, a China quase sempre teve um governo forte e, de fato, no sistema atual liderado pelo Partido Comunista Chinês (PPCh), o Partido lidera todos os aspectos importantes da economia, da sociedade e da diplomacia chinesa.
Isto inclui intervenções administrativas para garantir a estabilidade social e orientar o crescimento econômico, através de planos quinquenais e de empresas e instituições financeiras estatais. Porém, sem deixar de reconhecer o papel decisivo do mercado na alocação da maior parte dos recursos.
A partir daí, os principais impulsionadores do desenvolvimento de alta qualidade são a expansão da demanda interna e o aprofundamento do lado da oferta através de reformas estruturais, promovendo a integração urbano-rural e coordenando o desenvolvimento regional, ao mesmo tempo em que melhora a proteção ao meio ambiente.
Também é fundamental para a modernização chinesa a revitalização rural. Isso porque há três grandes disparidades: entre trabalhadores e agricultores, áreas urbanas e rurais, trabalho intelectual e trabalho físico.
Inovação é modernização
É especialmente importante, então, melhorar o sistema de informação científica e avanços tecnológicos, inclusive naqueles relacionados aos direitos de propriedade intelectual.
A China procura uma estratégia de desenvolvimento orientada à inovação, que leve em conta ciência e tecnologia como principal força produtiva, talento como principal recurso e a inovação como principal motor do crescimento. Aliás, “inovação” foi a primeira das cinco principais metas do presidente Xi Jinping ao falar de desenvolvimento.
No entanto, existem contradições, desequilíbrios e inadequações – gargalos que impedem o desenvolvimento de alta qualidade. Além disso, a capacidade de inovação científica e tecnológica da China ainda não é suficientemente forte.
Ao mesmo tempo, as sanções à indústria de alta tecnologia da China são um obstáculo a longo prazo. Por isso, a inovação interna é essencial. Porém, inovações de alta tecnologia de ponta e comercialmente viáveis são um desafio.
Não podem ser legislados pelo governo central, nem garantidos pelo fluxo de capital. O que é necessário são incentivos a empreendedores em tecnologia; apoio financeiro a pequenas e médias empresas; recompensas meritocráticas em ciência e tecnologia.
Ou seja, para seguir o progresso, é preciso acompanhar a modernização chinesa.