A voz do povo
Terça-feira tenta ser mais tranquila para os mercados depois do grande tombo da véspera. Ibovespa e dólar alternam altas e baixas, sob certo alívio com China e digestão de mais uma pesquisa eleitoral. Esperada para a última segunda-feira - e motivo de grande preocupação -, a pesquisa Vox Populi ainda não saiu, frustrando os mais ansiosos.
Em paralelo, levantamento da CNT/MDA aponta ligeiro crescimento de Dilma, alguma perda de espaço de Marina e melhora do distante Aécio. Segundo turno aponta empate técnico entre Dilma e Marina, com vantagem numérica para a primeira - 42% contra 41% das intenções de voto. No PRO, conto os detalhes da pesquisa e seus eventuais desdobramentos.
Como a segunda-feira já havia sido sangrenta, com muita gente se antecipando à esperada melhora de Dilma (falava-se em diferença em favor da petista de até cinco pontos), o dia hoje permite amenizar um pouco as tensões.
Vale também lembrar que há expectativa por outras pesquisas no curtíssimo prazo e, como vazamento pouco é bobagem, qualquer alta mais destacada de estatais, bancos, BVMF e sucroalcooleiras pode ser interpretada como ganho de espaço da oposição, ao melhor estilo “rabo abanando o cachorro".
Minério ainda pesa
Outra que busca alguma recuperação nesta terça é Vale. Depois de sofrerem com a derrapada do minério de ferro, cujo preço veio abaixo de US$ 80 por tonelada na véspera, as ações da companhia tentam ressuscitar, escoradas em indicadores mais favoráveis da produção industrial chinesa.
O PMI preliminar do HSBC apontou 50,5 pontos em setembro, contra 50,2 pontos do mês anterior e 50 pontos esperados pelas projeções de consenso. Um alívio depois do descarte de um pacote de estímulos na China. Vejo o curto prazo ainda como bastante desafiador à Vale, com o sell side ainda revisando para baixo suas projeções para a companhia e diante de pressão vendedora sobre o minério de ferro.
Entretanto, sou forte comprador das ações com horizonte de médio e longo prazo. Uma de minhas táticas favoritas é adquirir papéis de empresas top notch que atravessam um mau momento e, por conseguinte, encontram suas ações depreciadas.
Em que pese o momento de curto prazo adverso, mercado parece ignorar vantagens competitivas importantes da mineradora, como maior concentração de ferro em suas jazidas, projetos de baixo custo, escala e integração logística.
Ademais, há de se pontuar que parte do derretimento do minério de ferro pode ser compensado pela escalada do dólar - Vale tem suas receitas quase integralmente denominadas na moeda americana versus custos em reais.
Lembro ainda do caráter sazonal da fraqueza da commodity (2013 é exemplo clássico) e da expulsão do produtor marginal a preços tão baixos, o que pode frustrar estimativas de entrada de oferta a curto prazo.
Compre e segure
Por essas e por outras, Vale está na nossa relação de Ações para ficar Milionário. Acho que dá para ganhar muito dinheiro comprando seus papéis agora e segurando por três anos. Vale é a única blue chip na relação. As outras são todas small caps. Gostaria de apresentar-lhes uma a uma em nosso pacote das milionárias.
Gênio criativo
Tenho sido bastante crítico à gestão macroeconômica do atual governo. Resumiria meus apontamentos em dois grandes blocos:
1) Erro ideológico, centrado na crença de que o Estado resolve melhor do que o mercado problemas da Economia. Então, em vez de estimular a concorrência, cria-se uma espiral intervencionista e uma política fiscal excessivamente gastona;
2) Erro de diagnóstico, dado pela ideia de que o problema da economia brasileira é de demanda, e não de oferta. Com isso, esquecem de endereçar questões de produtividade e estimulam a demanda agregada, criando descompasso com a oferta. Consequências previstas (não por coincidência, também observadas): inflação e déficit em conta corrente.
Bingo! Erros velhos, com implicações devidamente documentadas.
Mea culpa
Preciso corrigir-me. Não posso mais acusar o governo Dilma de cometimento de erros velhos e falta de criatividade. Abro o jornal hoje e vejo: “Governo faz nova manobra fiscal”. Dá-lhe criatividade contábil.
Retiro, ipsis litteris, trecho da edição mais atual do Valor: “O governo sacou R$ 3,5 bilhões do fundo soberano, reduziu em R$ 7 bilhões a estimativa de despesas obrigatórias e obrigará as estatais federais a transferirem mais R$ 1,5 bilhão em dividendos este ano para evitar cortes de gastos às vésperas da eleição. Tudo isso para compensar uma frustração superior a R$ 14 bilhões nas receitas de impostos por causa do fraco crescimento da economia e de uma menor arrecadação com o Refis. Mas nem assim conseguirá assegurar o cumprimento da meta de superávit primário de 1,9% do PIB para 2014.”
Mais um exemplo do descaso e da falta de transparência com as contas públicas, cuja contrapartida será aumento de impostos, mais dívida e/ou mais inflação. A falta de poupança pública guarda também relação com o erro de diagnóstico supracitado - sem poupança, não pode haver investimento, fundamental para equilibrar a relação entre demanda e oferta agregada.
04:12- Como ganhar com isso?
Para além da crítica à política fiscal e do alerta de que a heterodoxia na economia vai nos levar a uma crise financeira em 2015, há algo a se fazer já a partir de tanta criatividade. O uso das estatais como forma de angariar dividendos pode render frutos ao investidor.
Entendo que Eletrobras funciona muito bem nesse sentido. Empresa, merecidamente, bastante descontada em bolsa, mas que pode passar por re-rating em caso de vitória da oposição. Em se descartando o cenário positivo, ao menos teríamos muito dividendo pingando na conta. Combinação interessante de baixo downside com muito upside. Por isso, Eletrobras integra nossa relação de Vacas Leiteiras.
Encerro, oportunamente, com Churchill: “o pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê oportunidade em cada dificuldade.” Sou otimildo.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.