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Complicou Geral para o Investidor

Publicado 14.03.2022, 16:59

Se o Brasil já tinha complicações demais para serem resolvidas em decorrência da pandemia, agora, em ano de eleições gerais, é que complicou mesmo, com os efeitos da guerra batendo à nossa porta. O primeiro impacto – e mais previsível – é a expansão da inflação, com a necessidade de o Bacen alterar a taxa de juros. Isso não se coaduna com a expansão do PIB, apesar do carregamento deixado para o ano de 0,3%, por conta do PIB do quarto trimestre e expansão de 4,6% em 2021.

Mas os efeitos vão se acumulando. Na semana passada, o governo lançou plano de fertilizantes, falando em explorar terras indígenas, se for permitido, mas são posturas de efeito de médio e longo prazo. Ocorre que, também na semana, o presidente Putin proibiu a exportação de fertilizantes, onde o Brasil tem dependência em alguns nutrientes de até 95%, fundamentalmente trazidos da Rússia e Ucrânia, com importações de cerca de 25%. A ministra Tereza Cristina está no Canadá tentando ampliar cotas de exportações para o Brasil, mas certamente teremos dificuldades e preços mais altos pela escassez desses insumos básicos, com menor produtividade por hectare plantado.

Em véspera de eleição e com tantos problemas (inclusive para reeleição), o governo tenta ações mais populistas, como aprovar “transferências especiais” para municípios, que não precisam passar pelo parlamento e sem definição de verba, um resquício das maquiagens feitas na Era Dilma.

Igualmente, os aumentos de combustíveis anunciados pela Petrobras (SA:PETR4) na semana passada, que visaram melhor adequação à paridade internacional para evitar a possibilidade de desabastecimento, soaram obviamente muito mal entre os caminhoneiros, que voluntariamente começaram a paralisar transportes, movimento que pode ganhar força nos próximos dias com a mobilização. Sorte que, pelo menos no curto prazo, o barril de petróleo voltou a ceder, depois de ter batido US$ 130 no Petróleo WTI. Agora, falamos de cotação próxima de US$ 103 e com a taxa cambial próxima de R$ 5,03 (em 14/03). Isso descomprime um pouco as manifestações políticas de parlamentares e segmentos da sociedade organizada.

Com dificuldades e encarecimento de fertilizantes, é de se supor que os produtos agrícolas fiquem mais caros no geral, e as exportações acompanhem essa tendência global. Bom para os exportadores de matérias-primas e produtos intermediários, mas ruim para os exportadores de proteína animal pela elevação de custos daí decorrentes, e claro, para o mercado interno, que terá que repassar custo em alta ao consumidor final. Isso sem contar que os combustíveis afetam toda a cadeia produtiva e batem também na prestação de serviços.

Não é por outra razão que a nova pesquisa semanal Focus de 14/03 trouxe a expectativa de inflação de 2022 em alta para 6,45% (anterior em 5,65%) e cada vez mais longe do teto da meta de 5%. Forçando também a inflação prevista para 2023 em 3,70%. A taxa Selic também deslocou para 12,75%, de estacionada por semanas em 12,25%. Ainda assim, há quem fale em Selic no final do ciclo em mais de 13%. 

A previsão de dólar mais ameno suaviza um pouco os problemas, mas não deixa a certeza de perenidade por conta dos problemas externos de exposição de bancos ao eventual calote da Rússia, e a característica mais de curto prazo de ingresso de recursos externos, aproveitando a enorme taxa real de juros que atingimos. Portanto, falamos de recursos mais de curto prazo e que podem retornar por aversão ao risco ou por taxas menos atraentes, caso o Bacen não acelere a elevação dos juros.

Por tudo isso é que repetimos que o próximo presidente, seja qual for, receberá um legado complicado para administrar, com a necessidade de emplacar reformas que já deveriam ter sido feitas e tendo que ajustar uma economia que ainda pode sofrer um pouco mais, caso ações populistas entrem na pauta nos próximos meses, mesmo com as limitações imposta pela Lei Eleitoral. Notem que o governo não descarta a possibilidade de editar o Estado de Calamidade.

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