A China está priorizando a ciência e a tecnologia para impulsionar o desenvolvimento econômico. O relatório do 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCCh) apontou a inovação como “principal motor de crescimento”.
São pilares capazes de aprimorar a educação e o desenvolvimento da força de trabalho. Para tanto, há uma necessidade contínua de “aprofundar” a reforma das empresas estatais (SOEs, na sigla em inglês), tornando-as “maiores, melhores e mais fortes” - por razões econômicas e políticas - visando a competitividade nos mercados globais.
Ao mesmo tempo, o setor privado na China enfrenta desafios e sente incertezas, mesmo após as palavras fortes de lideranças do Partido e as políticas específicas de apoio do governo chinês. Isso se refere não apenas às empresas domésticas. Há muita ansiedade entre as companhias estrangeiras que pretendem atuar no mercado chinês.
Para superar essas percepções, vencendo os desafios e criando oportunidades, o relatório do 20º Congresso Nacional do PCCh enfatizou a importância da estratégia dos “Dois princípios inabaláveis”: melhorar a competitividade das empresas estatais e otimizar o ambiente de negócios para empresas privadas.
Público-privado
Na última contagem, havia 98 gigantes SOEs controladas pelo governo chinês. Tidas como pilares fundamentais da economia da China, as empresas estatais podem executar políticas governamentais mais rapidamente, permitindo aos líderes chineses maior controle da economia, tanto para acelerar a indústria quanto para mitigar potenciais riscos.
O principal objetivo dessa estratégia é usar as empresas estatais para desenvolver tecnologias de ponta, buscando alcançar um nível de indústria avançada, como os dos Estados Unidos, onde tecnologias inovadoras e produtos transformadores provêm de pequenas e médias empresas empreendedoras, fomentando a economia digital.
Assim, a reforma das empresas estatais requer diversas medidas específicas, enfatizando as funções essenciais, como o foco em tecnologia; digitalização interna e externa; fortalecimento da governança corporativa; incentivos aos funcionários; rentabilidade e fluxo de caixa; e novos sistemas de avaliação. Tudo isso deve incentivar as empresas estatais a ousar aventurar-se, investir, assumir riscos e criar ativamente mercados.
Isso tende a reduzir a sensação entre as empresas privadas - chinesas ou não - de que as SOEs possuem vantagens injustas, já que as políticas do governo parecem favorecer as empresas públicas ao mesmo tempo em que submetem os negócios privados a escrutínio e restrições. As empresas privadas chinesas somam mais de 50 milhões.
Aliás, segundo a Câmara Americana de Comércio na China é crescente a preocupação com o ambiente regulatório chinês. Multas, fiscalização e outras ações de órgãos reguladores, que o governo chinês alega adotar devido a práticas ilegais, leva empresários americanos a considerar arriscado fazer negócios no país asiático.
Tanto que o otimismo das empresas dos EUA em relação à China caiu para mínimos históricos. Tensões geopolíticas sino-americanas somadas à desaceleração da economia chinesa estão entre as principais preocupações, citadas por 60% dos 325 entrevistados pela pesquisa da Câmara Americana e classificados como “desafios significativos”.
Estímulos privados
Porém, recentemente, autoridades chinesas fizeram promessas de apoio a empreendedores chineses, reconhecendo a cautela e a preocupação do setor privado, que é essencial para gerar emprego e renda. Além disso, o Conselho de Estado da China fez da atração de empresas estrangeiras uma prioridade para promover um “novo tipo de industrialização”, voltado à manufatura avançada e tecnologias inovadoras.
Do ponto de vista chinês, as empresas privadas e estrangeiras continuam sendo importantes, em especial em termos de tecnologia e know-how, o que torna o mercado chinês mais competitivo e, portanto, mais receptivo aos consumidores nativos. Além disso, ao mostrar a abertura do mercado doméstico a empresas estrangeiras, a China rebate a reclamação de que o país quer mercados abertos e livres para os produtos chineses no exterior, mas não para produtos estrangeiros no seu próprio país.
Insight chinês
No entanto, não se pode negar que o ceticismo do setor privado ainda prevalece. Como mais de um empresário chinês disse, em anonimato: “Eu aprecio as palavras das lideranças, mas só acreditarei nas ações do governo”. Empresários e empreendedores, locais ou estrangeiros, sentem-se encorajados, mas não estão convencidos.
Fica, então, a mensagem da Câmara Americana de Comércio: “em um mundo marcado pela turbulência, uma coisa é certa: as empresas prontas para abraçar os desafios são as mais bem posicionadas para servir seus clientes e partes interessadas de forma eficaz”.