O cenário da riqueza global está passando por transformações significativas. E uma das principais é a transferência de riqueza para as novas gerações. Dados do relatório "Navigating the Future of Wealth 2024", publicado pela Multipolitan ao final do ano passado, mostram que até 2045, cerca de US$ 84 trilhões serão transferidos dos Baby Boomers para Millennials e Geração X. Esse movimento representa uma das maiores transições de riqueza da história e já influencia as estratégias de gestão patrimonial.
Os novos herdeiros da riqueza global estão mais conectados digitalmente, valorizam investimentos sustentáveis e buscam diversificação internacional. Segundo o Morgan Stanley (NYSE:MS), 95% dos Millennials demonstram interesse em investimentos sustentáveis, enquanto o mercado de energia renovável atingiu um recorde de US$ 333 bilhões em 2023. Além disso, o crescimento das Fintechs especializadas em ESG e a regulamentação mais rígida dos investimentos sustentáveis têm impulsionado esse mercado, garantindo mais transparência e eficiência na alocação de capital.
A inteligência artificial (IA) e o blockchain estão transformando o mercado financeiro. Hedge funds e gestores de ativos utilizam modelos preditivos para otimização de portfólios e análise de riscos. A tokenização de ativos físicos, como imóveis e obras de arte, está desbloqueando liquidez em mercados tradicionalmente ilíquidos. Segundo a Deloitte, a tokenização pode liberar US$ 1,4 trilhão em ativos imobiliários até 2025.
Mas impacto da IA no mercado financeiro vai além da otimização de portfólios. Plataformas de robôs-advisors estão democratizando o acesso à gestão de patrimônio, reduzindo custos e permitindo que mais investidores aproveitem as vantagens de uma estratégia automatizada e altamente personalizada.
O aumento da digitalização também coloca a cibersegurança como prioridade. O mercado global de crimes cibernéticos deve atingir US$ 10,5 trilhões até 2025, tornando fundamental o uso de criptografia avançada, autenticação multifator e monitoramento contínuo de sistemas financeiros. Grandes instituições financeiras já estão investindo pesadamente em soluções de cibersegurança baseadas em IA para prevenir fraudes e ataques digitais.
A globalização da riqueza também está impulsionando uma nova dinâmica de mobilidade financeira. O mercado de migração de investimentos ultrapassa os US$ 21 bilhões anuais, com programas de cidadania e residência por investimento em alta. Os EUA, Reino Unido e França enfrentam aumento de impostos sobre grandes fortunas, levando investidores a explorarem opções como Dubai, Singapura e Malta.
A ascensão do Sul Global é outro fator relevante. Investidores de regiões como África e América Latina buscam segurança e acesso a mercados financeiros mais estáveis. Em paralelo, a digitalização financeira abre caminho para cidadanias digitais e "network states", conceito promovido por visionários como Balaji Srinivasan, ex-CTO da Coinbase (NASDAQ:COIN).
Na busca por diversificação, os ativos alternativos ganham força. Curiosamente, temos o crescimento do mercado de whisky premium, com a Ásia liderando a demanda. A arte asiática também apresenta um potencial significativo, com leilões recordes para obras indianas e chinesas. Já no setor automotivo, carros clássicos de pós-guerra estão se consolidando como uma classe de investimento, com retorno médio superior a alguns índices de mercado. O valor de um Mercedes-Benz 300SE Cabriolet, por exemplo, dobrou nos últimos 10 anos.
A riqueza global está em constante movimento, impulsionada por forças tecnológicas, demográficas e políticas. Os investidores que compreenderem essas tendências e adaptarem suas estratégias de gestão patrimonial estarão mais preparados para capturar oportunidades e mitigar riscos. Seja por meio de investimentos sustentáveis, tokenização de ativos, proteção digital ou diversificação geográfica, o futuro da gestão de riqueza exige uma abordagem inovadora e globalizada.
Mais do que nunca, a interseção entre tecnologia, sustentabilidade e mobilidade financeira determinará o sucesso dos investidores na próxima década. A ascensão das fintechs e da IA promete democratizar o acesso a ferramentas sofisticadas de gestão patrimonial, enquanto novas classes de ativos, como investimentos alternativos e tokenização, expandem o leque de oportunidades.
A crescente preocupação com governança, transparência e segurança digital deve moldar o cenário regulatório global, influenciando as decisões dos grandes investidores e gestores de patrimônio. A capacidade de navegar por este ambiente em transformação, antecipar tendências e adotar uma abordagem estratégica e inovadora será essencial para garantir o crescimento e a preservação da riqueza no longo prazo.