Um dos grandes dilemas que vejo em quem quer ter mais tranquilidade nas finanças pessoais é manter a organização em tempos de crise. Situações como desemprego e inflação em alta, por exemplo, são desafiadoras para o orçamento das famílias. A regra manda que, em caso de perda de emprego ou da principal receita, que se tenha o equivalente a 1 ano de reservas para fazer frente às despesas. Mas, para quem não consegue nem dar conta de fechar o mês no azul, esse aconselhamento pode soar até ofensivo. O que fazer, então?
Antes de qualquer coisa, é preciso pensar no básico: você anota todas as despesas que tem no mês? Não há como fugir. Sem colocar todas as despesas “no papel” é impossível reduzir os gastos e fazer sobrar dinheiro, que será usado em uma reserva para emergências.
E essa falta de controle das despesas é, infelizmente, muito comportamental, muito presente na nossa cultura. Muita gente pensa que, se tivesse um salário maior, haveria mais sobras. Mas a realidade é que, como profissional do mercado financeiro, vejo casos de pessoas de diversos níveis de renda em dificuldades por não conseguir controlar suas despesas. Tanto de gente que ganha R$ 2 mil por mês como quem recebe R$ 200 mil.
Feitas as anotações, é possível partir para reduzir o nível de gastos mais facilmente. Por exemplo, quando for ao mercado, compro isso ou aquilo? O que eu posso tirar de supérfluo que é gasto fixo?
As escolhas dependem da realidade de cada família. Existem ajustes fáceis e rápidos de se fazer. Mas, caso a pessoa identifique que está vivendo num patamar que não dá conta de sustentar, é preciso ter coragem de encarar situações mais drásticas, como trocar de casa, de carro (ou vende-lo e usar apenas aplicativos), ou mudar os filhos de escola. São escolhas traumáticas no curto prazo, mas que vão ter um grande impacto de longo prazo.
O importante é criar a consciência de fazer esses ajustes, que seja para sobrar R$ 100 ou R$ 200 por mês. Parece pouco, mas é um começo e, com a ajuda do efeito dos juros compostos, esse montante vai crescer ao longo do tempo, quando aplicado.
Para essa reserva de emergências, é importante buscar uma aplicação de curto prazo, com liquidez, e 100% segura, como um CBD (SA:PCAR3). Até fundo de renda fixa, que é extremamente conservador, oferece algum risco nesse caso, pois tem marcação a mercado. O CDB tem proteção contra distorções das taxas de juros. A poupança é outra alternativa, mas ela tem a característica de a aplicação precisar cumprir os 30 dias do “aniversário” para o rendimento ser contabilizado.
Por fim, tendo começado a fazer o dinheiro sobrar e ir para reserva, é preciso manter esse “modelo mental”. É muito comum para nós, ao vermos uma sobra de dinheiro no mês, criarmos algum gasto novo. Como comprar uma TV melhor, desde que a parcela “caiba” no orçamento.
Além de acabar com o esforço feito, esse hábito de aumentar o consumo pode trazer ainda novos gastos! Uma TV maior vai consumir mais energia, demandar serviços de streaming, por exemplo. Mantendo o planejamento correto, fica mais fácil passar por momentos difíceis sem aperto.