Nos últimos dias eu venho realmente preocupada com a inflação.
Já se vão algumas horas a menos de sono pensando em como adequar os portfólios de investimento, meu e dos clientes, para se proteger desta ameaça e quem sabe ganhar com ela.
A verdade é que os comunicados do Banco Central - como o de ontem, ao aumentar a Selic em 0,75 pontos percentuais e manter a palavra ‘parcial’ quando referiu-se ao ajuste da nossa taxa básica de juros para conter a inflação - podem falar o que quiserem.
O papel aceita tudo, mas os fatos insistirão em bater à porta e a realidade, em geral, se impõe a qualquer narrativa.
Basta uma rápida navegação aqui pelo site do Investing, que você poderá ver que muitas commodities ou já estão no nível máximo de preços de toda a sua história, ou estão muito perto de atingir este ponto.
A soja, por exemplo, está negociando a cerca de 10% da máxima histórica. O nosso câmbio, naquele momento, no entanto, era de apenas R$2,00 por dólar. Faça as contas do preço da soja atual, perto das máximas, com o nosso real desvalorizado, e veja o tamanho do problema que se aproxima.
Não vejo como negar que uma soja perto das máximas com um câmbio tão desvalorizado explodirá nossa inflação de alimentos.
Tal como a soja, o milho também negocia em patamares elevados e isso passa para o preço das proteínas, por meio da ração.
As commodities metálicas também estão nas alturas, e isso já faz a Vale (SA:VALE3) negociar a mais de R$100 por ação, influenciada pelo minério de ferro em níveis de preço estratosféricos, bombado não apenas pela liquidez exacerbada nos mercados mundiais para conter a pandemia, mais também por pacotes fiscais com boa destinação de recursos para infraestrutura, como é o caso dos últimos pacotes de Biden, nos EUA.
O preço do minério naturalmente já passou para o aço e isso está sendo repassado para o preço dos imóveis em construção, pelo que venho conversando com algumas construtoras listadas em bolsa.
Outras categorias de itens da construção civil tal como acabamentos, revestimentos e porcelanas já refletem altas e escassez de produtos.
Basta olhar os recentes resultados e ouvir as teleconferências das empresas como Duratex (SA:DTEX3) e Portobello (SA:PTBL3) e Lojas Quero-Quero (SA:LJQQ3), que têm altas expressivas nas suas ações e reportam uma demanda acima da capacidade de oferta de alguns produtos, levando a preços cada vez maiores.
O cobre também negocia nas cotações máximas dos últimos dez anos e o ouro foi a grande estrela dos investimentos em proteções durante a crise nos mercados devido a pandemia em 2020 com altas expressivas.
Coloque o gráfico dos preços da madeira e você vai se assustar com o preço.
Eu poderia ficar dissertando por páginas e páginas exemplos de como a inflação está por todos os lados e muitos gestores renomados já vêm falando disso.
Mas minha preocupação agora é como investir neste cenário. Algumas hipóteses eu trago para você leitor:
Ações são ativos nominais, que costumam acompanhar a inflação e desta forma penso que não é uma má ideia ter uma parte do seu capital investido em ações.
Em segundo lugar, temos ações que têm suas receitas corrigidas pela inflação, tal como empresas elétricas. Neste caso, eu optaria por transmissoras de energia, que em minha opinião têm menos risco de mudanças nas regras da revisão tarifária, como é o caso das distribuidoras. As geradoras poderiam ser uma opção, mas diante de um eventual escassez de energia elas sofreriam.
Em terceiro lugar, ainda na categoria ações, temos as commodities, que estão se beneficiando deste cenário que descrevi no início do texto e já são as maiores altas da bolsa este ano. A Vale já acumula alta de mais de 150% desde as mínimas.
Com relação ao investimento em ações de commodities, no entanto, como eu vivi a crise de 2008 já trabalhando no mercado e vi commodities irem do céu ao inferno, mantenho um pé atrás. Eu diria: aproveite, mas com moderação. Ou para usar um termo do meu amigo Guga: Seja um otimista, mas com o dedo no gatilho.
Além disso, temos os títulos de renda fixa que são atrelados à inflação, o que acredito ser uma boa proteção para uma parte de seu patrimônio e estou alocando parte do meu dinheiro neles atualmente, principalmente após ouvir o podcast da Empiricus Radio Cash com o gestor da SPX Rogério Xavier, o que recomendo que você faça agora se puder.
Temos, além destes ativos financeiros, os bons e velhos ativos reais, que tendem a corrigir seus preços e ser tradicionais proteções contra a inflação. São os bons e velhos conhecidos investimentos dos brasileiros mais antigos que tanto sofreram com hiperinflação no país: imóveis, terras.
Aliás, tente convencer o seu avô de que imóveis não são o melhor investimento e você verá como eles foram importantes no período inflacionário.
Continuarei na minha busca por proteção, mas acredito que os primeiros insights estão aqui neste texto para vocês leitores.
Abraços
Cristiane Fensterseifer - @crisinveste no Twitter e Instagram