Um dos hábitos que eu já comentei aqui nas colunas que é essencial para construir um patrimônio, ou seja, “ganhar dinheiro”, é investir em educação financeira. Sem ela, não é possível tomar decisões corretas. O outro é sempre estar atento ao cenário para reposicionar investimentos quando necessário. Não dá para investir numa previdência privada e “esquecer” dela, por exemplo. Atualmente, a alta da inflação é um ótimo exemplo desses dois pontos, tanto para iniciantes quanto para iniciados.
Inflação é a alta generalizada nos preços e é medida por indicadores. Os mais famosos são IPCA, INPC (ambos do IBGE), IPC-Fipe e os da “família” IGP (IGP-M, IGP-DI, INCC, IPCA, IPC da Fundação Getulio Vargas). E esses índices apontam que estamos em um movimento de alta mais persistente. Vejo economistas prevendo que esse ciclo pode impactar os juros básicos até 2026.
Do lado do consumidor, já estamos bem acostumados com ciclos de alta de preços, por causa da hiperinflação das décadas de 80 e 90. Porém, é necessário cuidar também do investimento.
O primeiro passo é identificar como a inflação influencia suas aplicações para se proteger e identificar oportunidades. Proteger porque quanto mais os preços sobem, mais o dinheiro perde valor.
As aplicações mais diretamente ligadas à inflação são as com rendimentos atrelados aos índices. Como títulos do Tesouro, de renda fixa e fundos de investimento que investem nesses ativos. Outra referência dessas aplicações é o IMA-B, índice da Anbima calculado sobre as taxas médias de títulos públicos lastreados em IPCA.
Importante saber que o comportamento desses índices é distinto. O IPCA que é reflete a “média” do consumo dos brasileiros, ele é bem menos volátil que o IMA-B. Este último varia muito com a movimentação dos títulos vendidos. Todos os dias, é gerado um coeficiente e, no final do mês, temos o índice. Ou seja, aplicações atreladas ao IPCA são mais indicadas para proteger o poder de compra. Ao IMA-B, por outro lado, por ter variação maior. Podem ser apostas para arriscar mais e ter ganhos maiores.
A composição varia conforme os objetivos e estratégias de cada um. De modo geral, um investimento atrelado a IPCA pode ser de baixo ou médio risco, de acordo com a estratégia do produto.
Um erro comum em momentos de mudanças do indicador é correr para movimentar a carteira, mas é preciso cautela. Vender títulos do Tesouro, por exemplo, que caso vendidos antes do vencimento podem ser negociados tanto com ágio, como com deságio. Esse movimento deve ser feito com cuidado porque, ao comprar um título diretamente do governo, pagamos o valor acordado. Mas, para vende-lo antes do vencimento, precisamos de um comprador no “mercado secundário” – ou seja, outro investidor.
Neste momento de mudanças econômicas, em que vemos o IPCA acumulado em 2021 chegar a um patamar de 5,67%, e de 9,68% nos últimos 12 meses, vale a pena olhar no site do Tesouro as opções disponíveis. Os papeis que replicam o índice IPCA e pagam mais um percentual pré-fixado, mesmo estando sujeitos a distorções econômicas, podem proteger sua carteira e garantir um ganho real (ou seja, rentabilidade menos inflação) melhor.
A dica que dou é: em momentos de alta, se encontrar títulos mais interessantes, direcionar os novos aportes para eles. Daí a necessidade de se ter uma reserva para oportunidades. Dessa forma, a carteira vai sendo rebalanceada. Se o desconto no mercado secundário estiver muito alto, o ideal é manter o ativo em vez de pagar esse “pedágio”. Outra estratégia para quem se sente impelido a vender assim que os rendimentos mudam é investir uma parte em títulos com rendimento semestral. Com um rendimento mais constante, diminui o impulso de se vender tudo a qualquer preço.