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Como o Investimento em Ações Pode Estar Indo Tão Bem em Uma Pandemia?

Publicado 30.06.2020, 15:02
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Em 12 de fevereiro de 2020 atingimos perto dos 119.761 mil pontos no Ibovespa, para em 19 de março de 2020, pouco mais de um mês depois, termos a maior crise do século em termos de velocidade de queda, o Ibovespa foi até os 61.690 pontos. Em 08 de junho voltamos a atingir 97.600 pontos. Da primeira máxima até a mínima de março tivemos uma queda de 48,49%. Na recuperação de março até junho tivemos uma alta de 58,21%.

Passada uma das maiores quedas da história, tivemos também uma das altas históricas, o que me leva a pensar o motivo da recuperação. Procuro sempre muito (alguns até dizem que penso demais.. eheheheh), mas o que estaria por trás da alta que está ocorrendo?

Como o investimento em ações pode estar indo tão bem em uma pandemia, com PIBs mundiais negativos e em uma recessão? Será que as ações se desconectaram da realidade? Vivemos em um momento de exuberância irracional?

Atualmente o mundo está combatendo a maior epidemia dos últimos 100 anos e sim, o mercado de ações mundial – um termômetro da economia, que antecipa os movimentos que tendem a ocorrer – vem atingido máximas atrás de máximas, mesmo com todo o temor, medo e fechamento da economia que estamos vendo. Sendo assim, o momento é ideal para irmos a fundo e analisar o motivo disso estar ocorrendo, sendo alguns dos motivos elencados abaixo:

1) crença nos Banco Centrais mundiais de que eles terão a solução para tudo – escrevi já em artigos anteriores, a “coincidência” do valor injetado na economia mundial pelos quatro maiores banco centrais mundiais: FED, Banco Central Japonês, Banco Central Europeu e Banco da Inglaterra, que colocaram no mercado US$ 17 trilhões somados e que essa foi o valor da mínima até as máximas em termos de valor de mercado adicionados das bolsas mundiais: saíram de US$ 62 trilhões para US$ 81 trilhões. Investidores acreditaram nos passos dos bancos centrais, na reabertura da economia, nas pessoas voltando ao normal e ao trabalho, enfim em uma recuperação gradual, mas que seria em V;

2) crer que o número de infectados estaria normalizado e achatado, algo como que atingido os máximos de casos e estabilizado (fato que na última semana levou a certas preocupações quanto a isso, com aumento de número de pessoas infectadas, principalmente na Flórida, Texas e Califórnia). Isso merece uma observação real, in loco, eis que voltei para Flórida, local que moro e a diferença entre pessoas que usam máscaras e se cuidam, comparando com Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, local que moro no Brasil, é substancial. O uso de máscaras aqui nos EUA é apenas em academias (e mesmo assim, uns 30% não usam) e em supermercados. De resto, locais como praias, nas ruas e restaurantes, ninguém usa máscara, exceto os atendentes.

Curva de infectados

3) No curto prazo, a esperança de novas vacinas (são mais de 100 laboratórios, aqui você encontra algumas dessas empresas com cotações em bolsa) e de que encontrássemos a cura rapidamente, auxiliou na valorização das ações;

4) Melhoras na economia de curto prazo. Na Europa, precisamente Alemanha, Inglaterra e Itália, ocorreu uma recuperação em V nos pedidos de reservas pelo app Open Table, que realiza reservas de mesas em restaurantes;

5) Dados econômicos conhecidos por todos virão muito ruins no segundo trimestre, melhorando um pouco até o final do ano, mesmo assim teremos quedas fortes nos dados econômicos, sendo assim, há a crença de que os dados de 2021 e 2022 virão muito melhores que 2020 e que isso já estaria no preço;

6) Com a melhora da economia por vir e dados péssimos já nos preços, investidores não buscam mais por prêmios de risco ou melhor, exigem prêmios de risco baixos perante o cenário atual, dada a crença de que os preços dos ativos subirão;

7) Crença de que os bancos centrais irão comprar tudo o que puderem, incluindo ativos como ações, bonds, dívidas de boa e má qualidade, colocando dinheiro na mão dos vendedores desses ativos, que terão capacidade para reinvestir em novos ativos, fazendo com que esses se valorizem, levando para baixo os yelds, taxas de juros e os retornos futuros;

8) FED e outros bancos centrais aparentemente não diferenciarão títulos bons de ruins e isso trará como consequência, mesmo que os bancos centrais obviamente não comprem todos os títulos, uma elevação no preço dos títulos similares aos que foram comprados pelos bancos centrais, trazendo uma valorização nesses também;

9) Estava ouvindo e lendo artigo recente do Jeremy Siegel, falando alguns pontos importantes, entre eles que a taxa de juros tende a ficar baixa por um longo período de tempo no mundo, assim como os bonds tendem a ficar baixos por um longo período de tempo. Quanto menor a taxa de juros, menor será a taxa de desconto utilizada para a avaliação dos ativos, como consequência uma maior valorização no valor presente do fluxo de caixa descontado, que é a maneira mais usada para avaliação dos ativos e assim, uma maior valorização no valor das empresas cotadas em bolsa;

10) Com os bancos centrais facilitando empréstimos, veremos companhias refinanciando suas dívidas e com possibilidade de tomar mais empréstimos, independentemente de quão ruim é a situação dessas companhias, algumas conhecidas como companhias zombie, onde o pagamento de juros é maior que o Ebitda gerado por essas empresas;

11) Invasão dos investidores pessoa física com a entrada de capital especulativo, similar a jogos de apostas no mercado acionário, principalmente nos EUA. Comentei em artigo anterior que o Governo Americano disponibilizou US$ 1200 de graça para cada residente nos EUA e nos últimos 3 meses não tivemos jogos de esporte, basquete, NBA, futebol americano e há muita aposta relacionada aos esportes e grande parte desse dinheiro foi para o mercado de ações, que é visto por muitos como um “cassino”, sendo o único cassino aberto. Além disso, empresas praticamente quebradas e negociadas a menos de R$ 1,00 tiveram altas fortes nos últimos dias, tais como a empresa de locação de veículos Hertz (NYSE:HTZ) nos EUA (que pediu concordata) e empresas como Gol (SA:GOLL4), Azul (SA:AZUL4) e CVC (SA:CVCB3) no Brasil, com dívidas grandes e que tiveram seus negócios praticamente interrompidos. A falta de critérios para investimentos em empresas nessa situação nos mostra a falta de filtro na análise desses investimentos, auxiliando a alta na cotação desses ativos;

Sinal amarelo, onde e em quais setores

Com a entrada de investidores pessoa física em alta também no Brasil e por ter 15 anos de mercado financeira trabalhando profissionalmente, sempre foi ideia aqui de passar dados aqui para investidores que estão começando evitando os erros que cometi. No momento atual venho frisando sobre a alta e descompasso entre preço e valor de várias empresas brasileiras e dos EUA, principalmente ligadas ao setor tecnológico. Abaixo podemos ver a cotação do setor de tecnologia dos EUA comparado com outros setores sem tecnologia. Impressiona a valorização, onde a média das empresas techs dos EUA, chegou a 160x lucros, o que é um dos maiores da história. Acredito em correções nesse setor e uma hora o mercado se dará conta do quão caro estão pagando por ativos como esses.

No gráfico abaixo podemos ver em azul a diferença empresas em que o consumidor pode ficar em casa e empresas que ele precisa sair, como restaurantes e empresas de aviação…

Já no Brasil, penso que setor de varejo e empresas como B2W (SA:BTOW3) e outras já andaram bem, assim como empresas exportadoras. Acredito em uma estabilização do dólar e várias dessas empresas já teriam incorporado isso no preço. Esses setores estão caros ao meu ver.

Como setores atrativos, dada a queda de juros, o setor de construção e bancos, assim como algumas estatais como Eletrobras (SA:ELET3), Sanepar (SA:SAPR11), ainda interessantes.

Fico por aqui! Ótimos negócios para todos!

Era isso!!
Um grande abraço

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