Ao aplicar em ações de empresas, é imprescindível que o investidor conheça e saiba como mitigar os maiores riscos inerentes à bolsa de valores e ao ciclo de vida das companhias. Entender o que deve ser evitado, assim como conectar o cenário atual da economia com uma carteira de ações diversificada é suficiente para proporcionar ao investidor ganhos consistentes na bolsa de valores, mesmo em cenários de estresse econômico.
Mapear os riscos não é uma tarefa fácil, e exige auxílio de profissionais especializados e com vasta experiência no mercado acionário. Nesse artigo, destacamos os principais riscos que destroem as aplicações dos investidores. O primeiro é a fraude contábil. Quando os executivos das companhias alteram os números financeiros das empresas, realizam negociação de ativos e passivos por um preço diferente daquele divulgado publicamente, ou omitem informações em suas demonstrações financeiras e em órgãos reguladores, dentre outras práticas ilícitas, dizemos que houve fraude contábil.
O risco de fraude é o mais difícil de ser antecipado pelo minoritário, dado que exige uma análise minuciosa sobre os executivos responsáveis pela gestão da companhia, assim como o seu relacionamento com os clientes e fornecedores da empresa em questão. Uma das ferramentas mais eficazes para avaliar o caráter da gestão é entender como os executivos da companhia se auto remuneram e como tem sido o histórico de remuneração executiva em comparação ao comportamento de indicadores de lucratividade e performance da companhia. Se a remuneração atrelada aos altos cargos da companhia vem crescendo em um ritmo muito acelerado, proporcionalmente maior quando comparado à geração de caixa e ganho de escala da companhia, conclui-se que os executivos não estão alinhados aos interesses dos acionistas, e essa conta é refletida na geração de lucro líquido e caixa.
Em janeiro de 2023, vivenciamos um dos maiores escândalos da história do varejo no Brasil: o rombo nas Lojas Americanas (BVMF:AMER3). A varejista havia ocultado dívidas financeiras e inflado receitas para bonificar os diretores da companhia. As ações registram forte queda em questão de dias, logo após a divulgação do escândalo.
Outro risco das ações é a competição e desuso. Imagine investir em uma empresa que, em um determinado momento, os produtos comercializados por ela não sejam mais úteis para as pessoas, ou quando novas concorrentes entrarem no mercado, com novos produtos, mais eficientes e baratos, interrompendo as vendas dessa empresa ou forçando com que ela abra mão de margens por meio da redução de preços na tentativa de se tornar mais competitiva. Quando uma companhia reduz seu preço e, consequentemente, apresenta queda na lucratividade, suas ações seguem o mesmo ritmo negativo. Em grande parte dos casos, a perda causada por novas entrantes no mercado são irreversíveis, mesmo em grandes empresas e consolidadas, como aconteceu com a Ambev (BVMF:ABEV3) após a entrada da Heineken, assim como a Cielo (BVMF:CIEL3) após a entrada de diversas adquirentes (maquininhas de cartão) como Rede, GetNet, PagSeguro (NYSE:PAGS), Mercado Pago, Safra Pay, Stone (NASDAQ:STNE), dentre outras.
Por fim, temos o risco de aumento no custo de capital, marcado pelos ciclos de alta na taxa de juros e inflação. Ele tem como reflexo a queda da lucratividade e, como consequência, desvalorizações agressivas nas ações de empresas cíclicas e alavancadas, sendo essas duas classes as mais vulneráveis frente ao ciclo de alta nas taxas de juros e inflação. Caso você possua aplicações em empresas sensíveis ao juros em momentos de turbulência na economia, poderá perder todo o seu patrimônio.
As empresas do segmento de logística e hospitais que se alavancaram para financiar o seu crescimento ao longo de 2019 e 2020, momento no qual a taxa de juros e inflação global estavam em patamares mínimos, perderam grande parte da sua geração de fluxo de caixa livre ao longo de 2022 e 2023 como reflexo do aumento em suas despesas financeiras (juros da dívida), e suas ações seguiram o mesmo ritmo de queda. As companhias intensivas em capital necessitam constantemente de dívidas para financiar a manutenção e expansão de seus ativos.
O problema surge quando essas empresas rompem seus covenants (limite alavancagem por parte da companhia para proteger os credores), e necessitam realizar sucessivos follow ons (emissão de novas ações) para reduzir o endividamento e respeitar o que foi acordado com as instituições que concederam crédito à empresa, o que dilui os acionistas minoritários e pressiona de forma negativa o valor de suas ações. As ações de empresas intensivas em capital e alavancadas possuem um volatilidade significativamente maior, dado que pequenas variações na taxa de juros acarretam em um crescimento ou queda acelerada no volume de lucro líquido.
O primeiro passo para reduzir o risco de investir em ações é conhecer quais são. Para montar uma carteira eficiente de ações no longo prazo, é preciso analisar o ativo e os fatores que podem fazê-los se desviarem das perspectivas ao longo do tempo. Antes de buscar a renda variável, todo investidor deve avaliar minunciosamente os resultados divulgados e a governança corporativa das empresas. Ao selecionar os ativos do portfólio, o segundo passo é acompanhar os fatores macroeconômicos que vão impactar no comportamento das ações e os fatos relevantes divulgados ao mercado. Com isso, a carteira se torna mais eficiente.
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