Após uma sucessão de eventos macroeconômicos, já é quase consenso de que o momento atual seja um dos mais desafiadores dos últimos tempos para a gestão de recursos.
Depois de atravessarmos por uma das maiores pandemias da história, o excesso de liquidez e os desarranjos das cadeias de suprimentos trouxeram à tona o desafio da inflação global, que foi amplificado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Sob esse aspecto, a semana passada foi um marco importante para os países europeus, tendo em vista a retomada (mesmo que lenta) do fluxo de gás russo pelo Nord Stream 1. Para as demais economias, o acordo entre a Rússia e a Ucrânia para o embarque de grãos pelo Mar Negro é visto com alívio, uma vez que a última é grande exportadora de commodities agrícolas. Nos últimos três anos, por exemplo, Ucrânia e Rússia foram responsáveis pela exportação global de 18% e 28% de milho e trigo, respectivamente.
Na realidade, o cenário no leste europeu não está tão fácil quanto parece. Especialistas argumentam que a retomada de fluxo de gás russo é mais uma estratégia de Putin para manter a Europa refém de sua energia e que o desligamento completo aconteceria mais próximo do início do inverno europeu. Já o acordo para exportação dos grãos parece que não surtirá o efeito desejado, uma vez que poucas horas após o combinado, mísseis russos bombardearam alvos no porto de Odessa, o maior da Ucrânia.
Quando olhamos para a China, também surge um punhado de divergências. Ray Dalio, fundador da Bridgewater e um dos maiores investidores de todos os tempos, segue convicto que a China, país que já visitou diversas vezes nas últimas três décadas, possui oportunidades incríveis de investimento.
Por outro lado, não há como discordar que os dados econômicos provenientes da China são no mínimo suspeitos e sua política de “Covid Zero” tem se mostrado um verdadeiro fracasso. Além disso, a onda de calote no pagamento do financiamento imobiliário e os demais problemas neste mercado chinês – a maior classe de ativos do mundo, avaliada em US$ 62 trilhões – pode levar a uma contaminação para os demais setores e impor mais dificuldades para o gigante asiático.
Passando para os Estados Unidos, as dúvidas também são grandes. Afinal, a economia norte-americana segue pujante ou prestes a entrar em recessão?
A recente carta da Vinci foi precisa. Pela ótica dos dados reais, que entram na composição do PIB, a economia segue forte. Os níveis de produção industrial têm batido recordes consecutivos e os dados de consumo mostram altas recordes reais sucessivas. Pela ótica dos dados de sentimento, aqueles de mais alta frequência, a história é outra. A confiança do consumidor medida pela Universidade de Michigan está em recorde de baixa e o PMI composto anunciado na semana passada ficou abaixo da marca de 50, indicando contração na atividade.
Em conferência intitulada “It’s all in Fed’s Hands Now”, os executivos da Blackstone (um dos maiores private equity do mundo) se mostraram mais pessimistas e defenderam um cenário no qual a inflação norte-americana (e global) é crônica. Já Larry Fink, o CEO da BlackRock (NYSE:BLK) (BVMF:BLAK34) (a maior gestora do mundo com US$ 10 trilhões sob gestão), admitiu na semana passada a possibilidade de os EUA entrarem em uma recessão, mas afirmou que ela deve ser moderada e que a inflação será ajustada com o tempo.
No Brasil não é diferente. Acenos populistas, eleições polarizadas, furo do teto de gastos, inflação elevada e tantos outros assuntos têm dominado as discussões e deixado os investidores avessos ao risco. Em contrapartida, o nível de valuation perante as demais classes de ativos (inclusive a renda fixa) segue bastante atrativo.
Essas dúvidas e opiniões opostas dos mais variados especialistas podem ser paralisadoras para o investidor. Contudo, não fazer nada também é uma decisão de investimento. Para lidar com o desconhecido, minha sugestão é a diversificação de seu portfólio de investimentos e a ampliação do seu horizonte temporal, de modo a se apropriar dos diversos prêmios de risco ao longo do tempo.