Quem nunca parou para olhar nos sites que mostram indicadores de ações ou até noticiais que mostram uma lista com os maiores pagadores de dividendos dos últimos 12 meses ou as ações com maior dividend yield e se perguntou, “poxa deveria ter investido nessa ação”? Na verdade a pergunta que todo o investidor deve fazer é, “será que esse dividendo é sustentável no longo prazo”? Para não cair na “pegadinha” de investir nas populares listas que só refletem o passado e estão longe de garantir o futuro, existem algumas análises a que o investidor precisa estar atento. Segue a receita contra a chamada “armadilha de dividendos”.
Dividend Yield – Pares
O dividend yield é indicador que mostra em porcentagem o retorno que aquela empresa proporcionou em dividendos sobre o valor do papel, ou seja, soma todos os proventos pagos nos últimos 12 meses e divide pelo valor da ação.
É importante analisar esse indicador e comparar tanto com a média do mercado como também com o próprio setor que a empresa está inserida. Se o dividend yield está muito maior ou menor que a média, o investidor precisa realizar uma análise com mais profundidade para entender os motivos. Pode ser que a companhia em questão tenha mais ou menos risco que o mercado e isso está precificado no valor da ação.
Payout
O Payout é um indicador que mostra o quanto do lucro líquido de um determinado período de uma empresa foi distribuído em forma de dividendos, ou seja, se a empresa distribuiu todo o seu lucro líquido em proventos, esse indicador será de 100%.
Por incrível que possa parecer, esse indicador pode mostrar mais do que 100%, ou seja, a empresa está distribuindo mais do que o lucro apurado naquele período, e é aí que o investidor precisa redobrar a atenção.
Isso acontece geralmente porque a empresa teve algum evento extraordinário que a possibilitou de distribuir mais do que 100% do lucro, seja porque teve alguma venda de um ativo ou lucros acumulados de anos anteriores, por isso é importante verificar esse indicador olhando os anos anteriores e se a empresa manteve uma distribuição menor do que 100%.
Recorrência/Volatilidade
Nesse caso, para a ação ser classificada como empresa de dividendos, deveria, ao menos, realizar uma distribuição todo ano, com exceção daqueles anos atípicos de prejuízo.
O investidor deve olhar o histórico da empresa. Verificar se a empresa distribuiu dividendos todos os anos em um período mínimo de 5 anos já é um bom ponto de partida. Caso exista uma inconsistência nessa análise, por exemplo, distribuiu em 2 anos seguidos e depois voltou a distribuir somente 3 anos depois, é um bom indicativo de que aquele dividendo não é recorrente.
Crescimento
Esse é um passo importante para entender a sustentabilidade dos dividendos realizando uma simples análise verificando os dividendos distribuídos pela empresa nos últimos anos e se teve um crescimento ao longo dos anos.
Conforme dito anteriormente, muitas empresas têm eventos extraordinários que ocasionam em distribuição fora do comum, como venda de um ativo, que podem levar o investidor a acreditar que aquele dividendo se repetirá no futuro.
Endividamento
Dentro do mesmo assunto, acerca da sustentabilidade dos dividendos, é importante analisar o nível de endividamento de uma empresa. Uma ação com um endividamento alto, especialmente no momento que temos hoje com uma taxa de juros alta, pode ter dificuldade em continuar com lucro crescente. Desta forma, a distribuição de dividendos futura pode ser prejudicada.
O indicador mais utilizado no mercado é o endividamento líquido da companhia dividido pelo seu EBITDA, que mostra o número de anos que levaria para aquela empresa pagar a sua dívida líquida, caso o seu EBITDA permaneça constante. Um nível saudável de endividamento para empresas do setor elétrico, por exemplo, é de menos que 3x seu EBITDA e para outros setores menor que 2,5x.
Não existe uma matemática perfeita para formar uma carteira vencedora de dividendos. Afinal, os dados que estão disponíveis são um retrovisor do passado que não garantem o futuro. No entanto, é preciso ser cauteloso quando pensamos em investimentos de longo prazo, pois a decisão requer que haja uma sustentabilidade dos resultados futuros. Se fiar somente em dicas sobre quem já performou bem no passado sem saber o porquê de seus desempenhos é uma decisão baseada somente no trivial e com investimentos, nada pode ser trivial.