Para traçar um plano de trading, após analisar os riscos e seus objetivos, é muito comum que diversos traders se voltem para o estudo dos indicadores de análise técnica, acreditando ser esse o próximo passo do processo. É claro, estudar os indicadores é absolutamente fundamental para o progresso de um trader. No entanto, os indicadores são apenas uma ferramenta: da mesma forma que um martelo pode ser utilizado para construir ou para destruir, um mesmo indicador com um mesmo valor pode ser utilizado como gatilho de compra ou de venda de um ativo. Por isso, antes de definir quais indicadores utilizar, é fundamental decidir qual estratégia será empregada, para somente então pensar quais indicadores podem agregar valor às suas operações.
Muita gente acredita que os próprios indicadores definem as estratégias, já que eles nos sugerem possíveis pontos de entrada e de saída em cada operação. No entanto, caso o trader não tenha clareza da estratégia que deseja seguir, é possível que ele fique perdendo tempo analisando indicadores que em nada lhe agregam, ou ainda pior: que atrapalham a performance das suas operações. Por isso é de extrema importância definir qual o tipo de estratégia a ser seguida antes que o trader possa começar a operar.
No mercado financeiro existem diversos tipos de estratégias para day trade, sendo duas delas as mais populares: a estratégia de reversão à média e a de momentum. A estratégia de reversão à média parte do princípio de que o preço da maioria dos ativos tende a assumir valores próximos à sua média recente. Desse modo, se seu preço se desviar muito da média, o trader deve acreditar que ele irá corrigir sua trajetória, convergindo novamente para a média dentro de um certo intervalo de tempo. Assim, o trader compra quando o mercado cai e vende quando o mercado sobe, utilizando o que é conhecido no mercado como uma estratégia contra a tendência.
Já a estratégia de momentum opera de maneira contrária, acreditando na tendência de manutenção da inércia: o que está caindo deve continuar a cair e o que está subindo deve continuar a subir. Dessa forma, o trader não opera contra o mercado, mas sim se apoia na tendência caso identifique um movimento com grande força, acreditando em sua continuidade, utilizando o que é conhecido no mercado como uma estratégia a favor da tendência.
Para ilustrar esses dois tipos de estratégia, a favor e contra a tendência, vamos utilizar o indicador técnico que provavelmente é o mais conhecido pelos traders, a clássica média móvel. Em sua versão mais comum, esse indicador aplicado em um gráfico de candlesticks representa a média aritmética dos preços de fechamento dos últimos N candles, onde N é o único parâmetro do indicador. O gatilho mais clássico de uso desse indicador é operar no momento em que duas médias com valores de N distintos se cruzam. Podemos assim escolher um N menor para a média móvel de curto prazo e um N maior para a média móvel de longo prazo, como por exemplo, 3 períodos para a média curta e 9 períodos para a média longa. Quando a média curta de 3 períodos cruza de baixo para cima a média longa de 9 períodos, se estivermos operando a favor da tendência realizamos uma compra e se estivermos operando contra a tendência realizamos uma venda. De forma simétrica, quando a média curta de 3 períodos cruza de cima para baixo a média longa de 9 períodos, se estivermos operando a favor da tendência realizamos uma venda e se estivermos operando contra a tendência realizamos uma venda. Repare que o mesmo indicador, utilizando o mesmo gatilho, pode ser utilizado de maneiras distintas, executando uma compra ou uma venda, a depender da estratégia que estiver utilizando naquele momento.
Além das estratégias de momentum e reversão à média, muitos traders utilizam estratégias de arbitragem em suas operações. Trata-se de um tipo também clássico mas um pouco mais complexo de estratégia, em que o operador quer se aproveitar de distorções de preços de um ativo específico negociado em múltiplas bolsas ou de ativos distintos mas que possuem alguma relação estatística entre si, ainda que sejam negociados em uma mesma bolsa. Por exemplo, na B3, operam hoje diversas estratégias de arbitragem entre os mini contratos (WIN) e os contratos cheios do índice (WIN x IND) e do dólar (WDO x DOL). É possível inclusive operar estratégias de arbitragem entre o índice e o dólar. Na SmarttBot, plataforma de robôs traders da qual sou co-fundador, temos, por exemplo, uma estratégia que opera esse par de futuros.
Outro tipo de estratégia para day trading que vem ganhando cada vez mais adeptos é a de análise de sentimento. Através de algoritmos desenvolvidos para vasculhar as redes sociais, os traders avaliam se o cenário é positivo ou negativo para o papel em questão, agindo depois com uma estratégia de momentum ou de reversão à média. Esse tipo de estratégia é um pouco mais complexa do que as outras, pois necessariamente precisa de robôs para ser executada. Alguns poderiam dizer que avaliando por alto as redes sociais pode-se obter um palpite sobre o comportamento do mercado, mas particularmente não acredito que traders devam guiar suas operações por meros palpites, mas sim através de critérios objetivos e que possam ter sua eficácia comprovada por backtests.
Por fim, há também a estratégia de market making. Nessa estratégia o trader tem como objetivo fazer negociações em curtos intervalos de tempo, diminuindo o risco das operações e realizando vários trades por dia, se aproveitando do spread entre as ordens de compra e de venda. Por exemplo, caso um ativo X esteja cotado a R$10,00 para venda e R$10,01 para compra, o trader compraria a R$10,01 e já colocaria uma ordem de venda a R$10,02, ganhando um centavo no processo caso o preço chegue ao nível de preço da sua ordem. Por ser uma das estratégias mais sofisticadas e que só é possível fazer por meio da automatização, o espaço para investidores pessoa física atuarem como market makers é muito pequeno, para não dizer inexistente. Players institucionais operam com servidores de altíssima capacidade e tecnologia, geralmente em serviços de colocation, isso é, instalados juntos aos servidores da bolsa, para terem menos latência e conseguirem melhores preços. Isso é o que se chama de HFT, do inglês High Frequency Trading, normalmente caracterizado por operações em alta frequência que giram um alto volume financeiro ou de contratos. Por isso é difícil que o investidor pessoa física possa competir com o institucional utilizando essa estratégia.
Isso quer dizer que o investidor pessoa física jamais irá conseguir ganhar dinheiro na bolsa? De forma alguma! Vimos aqui as duas estratégias básicas e fundamentais para qualquer mercado, a de reversão à média e a de momentum, a partir das quais é possível desenvolver vários critérios de operações para obter retornos consistentes no longo prazo, nunca se esquecendo de avaliar o seu perfil de risco e os seus objetivos para decidir que tipo de estratégia você deseja pôr em prática. De maneira geral, estratégias de reversão à média possuem uma taxa de acerto maior que as de momentum, porém com um ganho médio por operação vencedora menor. Já as estratégias de momentum, em sua maioria, erram mais do que acertam, mas quando acertam atingem um lucro médio significativamente superior aos prejuízos médios das operações perdedoras.
Não há nenhuma estratégia melhor ou pior do que a outra, são apenas estratégias diferentes, que podem ser aplicadas em diferentes papéis e por traders com perfis de risco e de operação diferentes. Cabe a você encontrar aquela que lhe cai melhor e que condiz com sua personalidade. Escolhida a estratégia, é hora de testá-la. Mas isso é conversa para o próximo artigo.