Entre destaques da agenda doméstica desta semana, tivemos o debate do ICMS, tributo estadual que responde por parte do preço dos combustíveis. Políticos em Brasília e o Ministério da Economia têm pressionado os estados a rever alíquotas.
Entenda: desde novembro de 2021, o chamado "preço médio ponderado ao consumidor final" está congelado. É sobre esse preço que incide o ICMS. Antes disso, havia uma correção a cada 15 dias.
Desde março, o Governo Federal zerou, até 31 de dezembro de 2022, as alíquotas do PIS/Pasep e da Cofins, tributos federais, sobre diesel, biodiesel, querosene de aviação e gás liquefeito derivado de petróleo e de gás natural. E a gasolina?
A gasolina segue sendo tributada. Passa a valer, a partir de julho, a cobrança de uma alíquota fixa em reais (PLP 11/20) sobre os preços dos combustíveis, mas detalhes da transição ainda estão pouco definidos.
Debate do ICMS: de olho nisso, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, enviou um ofício ao ministro da Economia, Paulo Guedes, no qual diz ter visto com "estranheza" a decisão do Confaz que estabeleceu alíquota de ICMS única para o diesel em patamar mais elevado do que o cobrado pela maior parte dos estados.
O clima em Brasília piorou nesta semana depois do aumento de +9 por cento no diesel anunciado nas refinarias da Petrobras (SA:PETR4) e da saída do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Para o seu lugar, o presidente Jair Bolsonaro (PL) escolheu o ex-capitão Adolfo Sachsida.
Arrecadação recorde: apesar do ICMS para os combustíveis estar congelado desde setembro passado, os preços estão historicamente elevados, motivo que levou à arrecadação recorde de estados na parcial deste ano.
No modelo atual, com alíquota calculada sobre o preço, a arrecadação aumenta quando o preço do combustível aumenta.
Com isso, a arrecadação do ICMS sobre combustíveis somou pelo menos 34,3 bilhões de reais nos quatro primeiros meses deste ano. O número é o maior desde o início da série histórica, em 1999.
Novo reajuste dos combustíveis
Pela 4ª semana consecutiva, o preço da gasolina subiu e segundo dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo), o valor encontra-se no maior patamar desde 2004, quando foi iniciada a série histórica.
Porém, o que muitas pessoas não sabem é que o preço da gasolina está diretamente relacionado ao preço da cotação internacional do petróleo.
Entenda a política de preços da Petrobras
Desde 2016, a Petrobras adota o PPI (Preço de Paridade Internacional), cuja ideia é bem simples: os preços cobrados nas refinarias seguirão as flutuações do preço do barril de petróleo no mercado internacional.
Assim, se o petróleo Brent (referência para Petrobras) subir, o preço subirá ao longo da cadeia até chegar aos postos de gasolina. A lógica também é válida para queda nos preços.
A grande questão é que durante muito tempo o petróleo ficou estável na casa dos 60 dólares, e isso não trouxe grandes flutuações no preço da gasolina.
Mais recentemente, as medidas de estímulo pós Covid-19 e, é claro, a guerra na Ucrânia fizeram o preço do barril praticamente dobrar, saindo de 60 para 112 dólares o barril.
Petróleo Brent. Fonte: Bloomberg
Petróleo alto é (ou deveria ser) bom para Petrobras
Quanto maior o preço do petróleo, melhores serão os resultados de uma empresa petroleira.
Como ela depende diretamente da commodity, quanto mais valorizada estiver, maiores serão os resultados.
Petróleo Brent e EBITDA Petrobras. Fonte: Bloomberg
Logo, para os acionistas, é importante que o petróleo fique em níveis mais altos.
Só temos um pequeno problema
A Petrobras é uma empresa estatal e, quanto maiores forem seus lucros, pior fica a visão da população em relação ao governo.
Um crime inadmissível
Após divulgar o resultado do 1T22 com lucro histórico de 44,5 bilhões de reais, crescimento de +3.178 por cento, o presidente Jair Bolsonaro chamou o lucro da companhia de “crime inadmissível”.
Porém, como vimos acima, o repasse para combustíveis – gasolina e diesel – acompanha o preço internacional do Petróleo tipo Brent.
E o resultado nem foi tudo isso…
À primeira vista, o aumento expressivo do lucro nos leva a crer que a companhia está com o melhor resultado do mundo, mas isso não é totalmente verdade.
Empresas exportadoras, como a Petrobras, costumam ter dívidas em dólar. Essas dívidas flutuam junto ao câmbio e por vezes acabam trazendo efeitos positivos ou negativos no lucro líquido.
Como a receita também é dolarizada, isso não preocupa, mas polui a análise.
Para resolver esse problema, nosso analista afirma que basta olhar para o EBITDA. E é aí que vemos que o resultado não foi nenhum absurdo.
Fonte: Petrobras | Tabela de Indicadores 1T22
A Petrobras encerrou o trimestre com EBITDA de 77,7 bilhões de reais, crescimento de 59 por cento, bem abaixo dos 3 mil por cento do lucro líquido…
O crescimento foi bom, mas não foi nada espetacular.
Petrobras: oportunidade ou um value trap (armadilha de valor)?
Negociando abaixo de 3x lucros e 2x EBITDA, a Petrobras é bastante barata. Ainda mais se comparada com pares internacionais, que negociam próximos a 9x EBITDA e 15x lucros.
Petrobras, Occidental P., Petro Rio, Chevron (NYSE:CVX) EV/Ebitda (marrom) e Preço/Lucro (branco). Fonte: Bloomberg
Porém a Petrobras é uma empresa estatal que, em média, troca de presidente a cada 18 meses. Nos últimos 36 anos, passaram pela cadeira de CEO 23 nomes diferentes.
Quando o preço do petróleo sobe, os acionistas ficam contentes, mas logo ficam preocupados. A interferência do governo sempre preocupa.
A nosso ver, é ruim ter uma companhia utilizada para segurar os preços da gasolina (para conter inflação) como foi feito em governos anteriores.
Isso gera um medo no mercado que embute um desconto nos múltiplos da empresa, tornando-a barata.
É barata, mas o crescimento é modesto
A Petrobras já é responsável por mais de 75 por cento da produção de petróleo do Brasil. Ou seja, não há muito mais espaço para crescer.
Outra alternativa seria o Brasil encontrar gigantes poços a serem explorados. Isso não deve ocorrer.
Sem grandes variações na produção, o crescimento de resultados fica muito dependente do preço do petróleo.
Petrobras (em branco) e Petróleo (em azul). Fonte Bloomberg
Nesse sentido, ninguém sabe se o preço estará 60 dólares, 80 dólares ou 100 dólares.
Quando olhamos para as cotações da Petrobras e do petróleo, vemos que elas andam muito parecidas.
Mesmo crescendo um pouco mais (236 por cento vs. 130 por cento), destacamos que a Petrobras sempre crescerá junto aos preços do petróleo.
Partindo da premissa de que o petróleo já está em níveis bastante elevados e que a Petrobras tem um espaço limitado para crescimento – é a maior entre as petroleiras –, preferimos apostar em outras empresas do setor.