Ao pensar sobre como os profissionais de finanças podem mudar o mundo, é importante lembrar o quanto avançamos. Gosto de lembrar aos leitores que, um dia, era uma ideia marginal examinar informações contábeis e obter algo de valor para o processo de tomada de decisão de investimentos. Não chegamos às melhores práticas modernas porque um modelo de fatores caiu de uma árvore na cabeça de um investidor dorminhoco. A profissão de gestão de investimentos se desenvolveu ao longo do tempo através de um processo iterativo, onde as pessoas tentaram coisas diferentes, muitas das quais eram consideradas muito distantes do convencional para serem levadas a sério.
O que parece estranho hoje que será óbvio amanhã? Essa é uma ótima pergunta para fazer a si mesmo de tempos em tempos. Pouco se perde em prestar atenção às margens do conhecimento humano. Há muito a ser explorado. Você pode estudar riscos existenciais, aprender como ensinar a criatividade a um algoritmo ou talvez simplificar e refletir sobre os efeitos indiretos dos investimentos que você faz. O capital é uma ferramenta poderosa. Seria tolice ignorar o papel que suas decisões desempenham no mundo em geral.
Especialmente quando há tanto bem a ser feito. Para comprovar isso, considere o documentário "Vivendo com um dólar", que registra as dificuldades que alguns ocidentais enfrentaram ao tentar viver como os habitantes locais da Guatemala. Um dos aspectos mais reveladores do programa foi quando a conversa se voltou para um objetivo financeiro comum entre os guatemaltecos rurais: a posse de um fogão.
A conclusão errada a tirar disso é: "Ah, tudo o que eles precisam são fogões!" A pergunta que vale a pena fazer é: "E se eles pudessem obter um empréstimo?"
Não subestime o potencial do acesso ao crédito. Estender crédito a comunidades desatendidas é uma daquelas coisas fáceis de dizer, mas difíceis de fazer, cheia de controvérsias. Cobrar juros de mutuários empobrecidos é motivo de preocupação e levanta questões desafiadoras sobre os trade-offs entre lucros de curto prazo e prosperidade de longo prazo. Além disso, estudos têm mostrado que esse tipo de atividade, amplamente descrita como microcrédito, não é a maneira mais eficaz de acabar com a pobreza global.
No entanto, a expansão do crédito oferecido pelo microcrédito teve alguns benefícios notáveis, como a ampliação das opções de trabalho, o aumento do tamanho das empresas e a ajuda às famílias na gestão de seus orçamentos. O acesso ao crédito melhorou as escolhas disponíveis para os consumidores globais, tanto em termos de renda quanto de gastos, e essas opções não teriam sido exploradas sem o trabalho pioneiro de figuras como Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank.
Yunus, um economista de Bangladesh, criou o conceito de microcrédito na década de 1970. Ele percebeu que emprestar pequenas quantias de dinheiro para empreendedores pobres, especialmente mulheres, poderia ajudá-los a iniciar ou expandir seus negócios e, consequentemente, melhorar suas condições de vida. Seu trabalho levou à criação do Grameen Bank em 1983, que se tornou um dos principais proponentes do microcrédito no mundo.
O modelo de Yunus baseia-se na crença de que os pobres têm habilidades empresariais latentes e que, com o acesso ao crédito, eles podem transformar suas vidas e sair da pobreza. O Grameen Bank utiliza um sistema de "solidariedade de grupo", onde os mutuários são organizados em pequenos grupos e são incentivados a apoiar uns aos outros no pagamento dos empréstimos. Esse sistema comunitário demonstrou ser eficaz na redução da inadimplência e no fortalecimento das comunidades locais.
Desde sua criação, o Grameen Bank e outras instituições de microcrédito têm fornecido empréstimos para milhões de pessoas em todo o mundo. Embora o impacto total na erradicação da pobreza global ainda seja objeto de debate, há evidências sólidas de que o microcrédito ajudou muitos indivíduos e comunidades a melhorar suas condições de vida, tornando-se uma ferramenta valiosa na luta contra a pobreza.
O sucesso do microcrédito também inspirou outras formas de financiamento socialmente responsável. Hoje, existem várias organizações de fintech (tecnologia financeira) que estão explorando o conceito de "finanças de impacto". Essas empresas buscam alinhar o investimento financeiro com metas sociais e ambientais, buscando obter retornos financeiros ao mesmo tempo em que contribuem para a resolução de problemas sociais e ambientais.
A abordagem de finanças de impacto reconhece que o capital pode ser um catalisador poderoso para mudanças positivas no mundo. Ela visa combinar os objetivos de retorno financeiro com a promoção de práticas sustentáveis, investimento em comunidades carentes, desenvolvimento de tecnologias limpas e muito mais. Essas iniciativas mostram que o mundo das finanças está evoluindo para abraçar uma abordagem mais holística e consciente, onde o sucesso financeiro está intrinsecamente ligado ao sucesso social e ambiental.
No entanto, assim como no microcrédito, a área de finanças de impacto não é imune a desafios e questões complexas. A avaliação do impacto real das iniciativas, a medição dos resultados sociais e a busca por um equilíbrio entre o retorno financeiro e o impacto social são algumas das áreas que ainda precisam ser aprimoradas.
Outra área em que as finanças podem fazer a diferença é na promoção de investimentos sustentáveis e responsáveis. O conceito de investimento responsável refere-se a práticas que incorporam fatores ambientais, sociais e de governança (ESG) nas decisões de investimento. Isso significa considerar o impacto ambiental e social das empresas e projetos em que se investe, além das perspectivas financeiras.
Muitos investidores estão percebendo que a sustentabilidade e a responsabilidade social são fundamentais para proteger o valor de suas carteiras no longo prazo. Empresas que adotam práticas responsáveis têm maior probabilidade de evitar riscos ambientais e regulatórios, além de serem mais resilientes a mudanças nas expectativas dos consumidores e nas demandas da sociedade.
A ascensão do investimento responsável também está incentivando empresas a adotarem práticas mais sustentáveis. Para atrair investidores comprometidos com a responsabilidade social, muitas empresas estão melhorando suas políticas ambientais, implementando práticas de governança mais transparentes e adotando medidas para promover o bem-estar dos funcionários e comunidades.
Além disso, as finanças têm um papel fundamental a desempenhar no financiamento da transição para uma economia de baixo carbono. À medida que o mundo enfrenta o desafio da mudança climática, investimentos em energia renovável, transporte limpo e tecnologias verdes tornam-se cruciais para reduzir as emissões de carbono e limitar o aquecimento global.
Os chamados "títulos verdes" são um exemplo de inovação financeira que está ganhando destaque nesse cenário. Esses títulos são emitidos para financiar projetos que têm benefícios ambientais, como a construção de parques eólicos ou a melhoria da eficiência energética em edifícios. Os investidores que adquirem esses títulos estão fornecendo capital para iniciativas que promovem a sustentabilidade e, ao mesmo tempo, obtêm retornos financeiros.
Outra área em ascensão é o investimento de impacto, que busca não apenas gerar retornos financeiros, mas também medir e relatar os impactos sociais e ambientais de seus investimentos. Essa abordagem é particularmente relevante para investidores que desejam combinar seus valores pessoais com suas estratégias de investimento.
O campo das finanças sustentáveis e responsáveis está em constante evolução. Novas abordagens, produtos e tecnologias estão emergindo continuamente, e o mundo das finanças está se adaptando para enfrentar os desafios e oportunidades globais. A crescente conscientização sobre questões ambientais, sociais e de governança está impulsionando uma mudança na maneira como os negócios são conduzidos e como os investimentos são feitos.
Em conclusão, as finanças têm o potencial de desempenhar um papel significativo na construção de um mundo melhor. Desde o microcrédito e o financiamento de impacto até o investimento responsável e o apoio à transição para uma economia de baixo carbono, as oportunidades são vastas. À medida que os profissionais de finanças buscam soluções inovadoras e socialmente responsáveis, eles podem contribuir de forma tangível para a redução da pobreza, o crescimento sustentável e a proteção do meio ambiente, demonstrando que a excelência financeira pode ser aliada ao progresso social e ambiental.