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Como a política de diversificação energética da Índia influencia o mercado global?

Publicado 08.02.2023, 11:40
Atualizado 09.07.2023, 07:31
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  • A Índia deve superar a China como país mais populoso do mundo neste ano, de acordo com as Nações Unidas.
  • Com isso, o consumo de energia no país é de extrema relevância para os investidores do setor em todo o mundo.
  • Manifestações durante a conferência India Energy Week indicam que o país ainda tem um longo caminho a percorrer, antes que sua demanda petrolífera atinja o pico.
  • Nesta semana, a Índia realiza sua conferência anual sobre o setor de energia, a India Energy Week. A participação de políticos, executivos e especialistas ligados ao setor em Bengaluru é uma oportunidade de examinar as necessidades energéticas atuais e futuras do país asiático.

    Já escrevi anteriormente nesta coluna sobre o aumento da demanda petrolífera da Índia e seu lugar no consumo global do produto, mas é preciso lembrar que o petróleo não é o único combustível importante para o país. Os operadores e investidores internacionais de energia devem compreender que como é composta a matriz energética atual da Índia, bem como por que sua demanda por petróleo e gás natural deve continuar crescendo.

    Com 1,4 bilhão de pessoas, a Índia é o segundo país mais populoso do mundo e vem registrando um crescimento econômico anual positivo desde 1980, com exceção de 2020, quando surgiu a pandemia. Agora, a Índia está enfrentando um grande dilema: como seguir impulsionando seu crescimento e oferecer mais oportunidades a todos os seus cidadãos, restringindo, ao mesmo tempo, a poluição e as emissões. A solução é construir um plano diversificado de infraestrutura para impulsionar essa economia do futuro a partir de uma variedade de fontes.

    Para satisfazer as demandas da sua economia e da sua população em franco crescimento, a Índia precisará expandir sua capacidade energética de forma a se igualar ao sistema elétrico de toda a União Europeia até 2040, mas o país não poderá copiar as mesmas políticas energéticas que funcionaram na Europa e em outros países. Essas políticas não são apropriadas para um país tão diverso como a Índia, levando em consideração seu conjunto de recursos naturais.

    Os operadores e investidores que estão de olho no consumo energético indiano no futuro não devem se enganar com notícias de que o aumento da demanda de veículos elétricos no país significa que o consumo de petróleo no local esteja prestes a se estagnar. A Índia ainda tem um longo caminho até que sua demanda petrolífera atinja o pico.

    Carvão ainda predomina

    Nas últimas três décadas, a Índia aumentou sua dependência ao carvão para impulsionar seu crescimento econômico. Afinal, o combustível é a opção de produção mais abundante e uma das mais baratas na Índia. Em 1990, a Índia atendeu cerca de um terço da sua oferta de energia com o carvão, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Em 2020, o produto respondia por mais de 43% do combustível do país.

    Mas o carvão é universalmente considerado como principal combustível a ser preterido, em razão do seu alto volume de emissões e poluição. Dessa forma, a Índia não pode simplesmente abrir mão do produto, já que isso privaria milhões de indianos de acessar uma fonte segura de energia. Custo e acessibilidade devem estar no centro da estratégia de diversificação energética do país.

    Combustíveis renováveis crescem, mas ainda são limitados

    Embora seja tentador aceitar os benefícios da geração solar e eólica, tais fontes energéticas, sozinhas, não seriam um plano responsável por parte das autoridades locais. Os líderes que estão reunidos em Bengaluru não deveriam pressionar a Índia a adotar o mesmo tipo de política energética dos EUA ou da União Europeia.

    Os programas climáticos ocidentais, que focam na substituição de combustíveis fósseis por renováveis, não atendem satisfatoriamente a diversidade ambiental, populacional e econômica da Índia. O futuro do setor no país não pode ser encarado de forma tão simplista, como se um único modelo energético fosse capaz de satisfazer todas as suas necessidades. Em várias regiões da Índia, os cidadãos ainda lutam para conseguir um acesso confiável à eletricidade, e a energia solar e eólica não são capazes de suprir tal demanda, em razão da baixa incidência de luz solar e da pouca força dos ventos.

    Energia nuclear e gás natural são fontes confiáveis e limpas

    Um bom primeiro passo para a Índia seria construir usinas de energia nuclear e de gás natural, a fim de fornecer cargas básicas estáveis de eletricidade aos seus cidadãos, sobretudo aqueles que nunca tiveram um fornecimento confiável de eletricidade. Esse plano requer um grande investimento em energia nuclear e possivelmente a construção de pequenos reatores modulares, a fim de abastecer vilarejos e pequenas cidades. Fontes intermitentes, como a solar e a eólica, poderiam ser implementadas em regiões onde serão mais eficientes em atender às necessidades adicionais de energia.

    Dados da AIE mostram que, além do carvão, a demanda cada vez maior de energia da Índia foi atendida pela queima de biocombustíveis e resíduos, que também são grandes poluentes.

    Os biocombustíveis resíduos (principalmente madeira e esterco animal) são usados por famílias que não dispõem de outra fonte para aquecer suas residências ou cozinhar alimentos. Mas a queima de tanta madeira e esterco causa enormes impactos na qualidade do ar no país, sem falar nos graves problemas de saúde entre a população de baixa renda.

    A Índia lançou campanhas bem-sucedidas para fornecer gás natural comprimido para uso residencial, reduzindo a necessidade de queima de madeira e esterco, mas precisa de ainda mais gás natural para continuar convertendo o combustível doméstico para essa alternativa mais limpa.

    O país pode investir em mais terminais de regaseificação e gasodutos para facilitar a importação do produto do Oriente Médio e até mesmo dos Estados Unidos e do Canadá. Isso permitiria um uso mais flexível do gás natural em usinas elétricas, bem como para uso doméstico.

    Eletrificação direcionada

    Uma característica marcante da política energética contemporânea do Ocidente é a eletrificação do transporte, da calefação residencial e da cocção dos alimentos. Embora o incentivo à adoção de veículos elétricos em algumas cidades indianas que dispõem de um fornecimento confiável de eletricidade a partir de usinas nucleares e de gás natural esteja ajudando a reduzir a poluição urbana e o consumo de gasolina, essa solução seria terrível para outras regiões do país. Os veículos elétricos não seriam úteis, por exemplo, em áreas que ainda sofrem com a intermitência da eletricidade ou para pessoas que precisam cruzar regularmente os desertos de Rajasthan, percorrer os Himalaias ou atravessar florestas no centro do país.

    Benefícios de uma política energética diversificada

    O futuro da política energética da Índia deve reconhecer a diversidade única do país. Ela não pode focar apenas no abastecimento de Déli, Bengaluru, Mumbai e Calcutá com fontes mais limpas. O resto da Índia, isto é, vilarejos, pequenas cidades e locais remotos, não pode ser deixado de lado.

    As pessoas nesses lugares também merecem aproveitar as oportunidades geradas pelo abastecimento confiável de energia e eletricidade, ainda que isso signifique construir uma nova infraestrutura e importar energia do exterior.

    Para atender suas necessidades energéticas crescentes e diversificar suas fontes de energia, sem perder de vista os custos e as oportunidades para as pessoas, a Índia não pode se dar ao luxo de cortar nenhuma das suas fontes de energia. O país precisará usar um volume maior de petróleo, gás natural, energia nuclear e renovável, a fim de atender ao seu consumo cada vez maior de energia, democratizando, ao mesmo tempo, as oportunidades para sua população.

    Aviso: A autora atualmente não possui nenhum dos ativos mencionados neste artigo.

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