“Dados são o novo petróleo” talvez seja a melhor frase clichê para começar a abordar esse tema. Brincadeiras à parte, a metáfora descreve bem o valor e a importância crescentes dos dados na economia moderna. Assim como o petróleo foi um recurso valioso que impulsionou a economia industrial no século XX, os dados são vistos como o recurso valioso que impulsiona a economia digital do século XXI.
Há paralelos legais que podem ser traçados, como o fato de que tanto o petróleo quanto os dados são matérias-primas que devem ser extraídas, processadas e refinadas antes de sua utilização. Assim, hoje, há um ecossistema inteiramente construído onde os dados são coletados, armazenados, analisados e monetizados, com diversas legislações específicas sendo desenvolvidas para protege-los.
Com os avanços concomitantes de tecnologias como Internet das Coisas (IoT) e o aumento do uso de inteligência artificial e machine learning para análise de dados, há ainda mais tração para a aceleração do setor. A projeção de crescimento da economia de dados europeia, por exemplo, é de que, em cenário otimista, haja um salto dos €184.45 bilhões vistos em 2019 para €334.20 bilhões em 2025. E, mais uma vez, assim como as máquinas eram movidas a petróleo nas fábricas, os dados é quem movem os algoritmos de inteligência artificial.
Fonte: data.europa.eu
No entanto, essa comparação é falha em um aspecto: os dados, diferentemente do petróleo, são absolutamente reprodutíveis e infinitos. Além disso, demandam preocupações ligadas à privacidade e segurança que não se aplicam ao petróleo. E é aqui que surge a necessidade latente de soluções que permitam o compartilhamento e a monetização desses dados de forma segura e que preservem a privacidade. Essa solução tem nome: plataformas baseadas em blockchain e tokenização. Com elas, os indivíduos e organizações assumem o controle de suas próprias informações. Fala aí se isso não é muito Web3?
À medida que o valor dos dados cresce, mais empresas e indivíduos procuram formas de monetizá-los, e uma grande tendência para faze-lo é por meio da tokenização, que envolve a criação de tokens digitais que representam algum tipo de ativo de dados. Já há diversas startups impulsionando essa tendência e desenvolvendo plataformas baseadas em blockchain para que estes objetivos sejam alcançados.
Projetos inovadores no setor: Ocean Protocol e Streamr
Um dos projetos que ganha destaque neste aspecto é a Ocean Protocol (OCEAN), protocolo descentralizado de troca de dados que permite o compartilhamento e a monetização dessas informações de maneira segura, preservando a privacidade do usuário. A Ocean usa a tecnologia blockchain para criar um mercado onde os provedores de dados (donos) possam vende-los diretamente aos consumidores, sem necessidade de intermediários.
Estes provedores podem definir seus próprios preços de forma flexível, enquanto os consumidores adquirem esses dados por demanda, aceitando ou não os preços estabelecidos. Em outras palavras, a ideia da Ocean é ser uma enorme biblioteca de dados, revendendo-os inclusive para aqueles que querem treinar inteligências artificiais, por exemplo, e podem recorrer ao protocolo, remunerando os donos do dado comprado. Tudo isso fornecendo diversas ferramentas de governança e gerenciamento destes dados, o que inclui controle de acesso, rastreamento da origem e capacidade de compliance com as legislações vigentes que citamos anteriormente.
Há uma série de outros protocolos que merecem estudos aprofundados como a Streamr, que se concentra no streaming e na monetização de dados em tempo real, sendo uma plataforma descentralizada que permite aos usuários compartilhar e monetizar fluxos de dados como aqueles gerados por dispositivos IoT. A Streamr também usa tecnologia blockchain para garantir a privacidade e a segurança destes dados, além de fornecer um marketplace para compradores e vendedores.
O setor tem amplo potencial de crescimento e merece uma análise especial. À medida que a economia de dados continuar a crescer, podemos ver mais startups e projetos entrando no ecossistema, assim como empresas já estabelecidas procurando maneiras de alavancar suas bases. Ainda que garantir a propriedade e privacidade de dados apresente desafios, já há blockchains caminhando em direção a um sistema cada vez mais funcional e descentralizado, preservando-os e possibilitando a monetização a partir do uso de blockchains. Seria o início do – distante - fim do monopólio das big techs?