Recentemente, recebemos a notícia sobre os índices inflacionários do Brasil, dos Estados Unidos e da China. Dados importantes, pois influenciam diretamente nas perspectivas econômicas, incluindo política de juros, para os próximos meses. Em junho, os preços subiram 0,1% em junho na maior economia do mundo, enquanto por aqui a alta foi de 0,2%, exatamente igual ao índice chinês. Nos três casos, os números ficaram abaixo daquilo que os especialistas previram.
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No caso brasileiro, o número de junho ajuda muito porque a tragédia climática no Rio Grande do Sul gerou alta nos preços de alguns produtos primários, como alimentos, e a expectativa era de que isso contribuísse para o aumento inflacionário. Mas não foi o que aconteceu e esse arrefecimento pode sinalizar ao Banco Central de que é possível seguir com a política de redução da taxa de juros. Uma Selic menor é o que o mercado pede, se for possível, claro, porque estimula o investimento e aquece a economia, que é o que precisamos e almejamos.
Nesse ponto, os dados estadunidenses também são favoráveis para nós porque a diminuição dos preços ao consumidor fortalece por lá a tese de redução dos juros por parte do Federal Reserve (FED, banco central dos EUA). O caso americano merece um estudo porque o que acontece por lá tem contrariado as teorias econômicas. Desde 2021, o FED tem elevado os juros básicos para conter a inflação. Mas o “remédio” tem sido em vão porque a economia teima em crescer e gerar empregos, o que faz a renda aumentar e a demanda por produtos e serviços idem. Resultado: os preços não baixaram.
E por que é tão importante para nós brasileiros que os juros baixem nos Estados Unidos? Simples, quando os juros estão altos por lá, os investidores retiram o capital de países emergentes como o nosso e o aplicam nas bolsas estadunidenses. É que lá é considerado o país mais seguro para se investir. E é natural os investidores buscarem os lugares de menor risco para deixar o dinheiro. Claro que é feita uma análise de custo-benefício, pois em certas ocasiões a segurança rende tão pouco que vale a pena arriscar mais, porém, não é o caso deste momento.
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Sendo assim, a inflação menor por lá contribui para redução de juros tornando o nosso mercado mais interessante, o que atrairá capital estrangeiro e nacional que migrou para lá. O caso chinês, por sua vez, pode não ter o mesmo significado para nós. É que o dragão inflacionário pode ter várias interpretações. Pode indicar alta de preços desastrosa como na Argentina ou indicar uma desaceleração econômica, queda da demanda que é o que acontece na China.
A economia chinesa passa por um momento de desaquecimento. E no caso deles a inflação em queda mostra isso porque ela não é fruto do banco central chinês para baixar preços. Ela acontece naturalmente por conta da retração do consumo. Entre os setores mais impactados estão o de alimentos e o de imóveis.
E, de novo, o que o Brasil tem a ver com isso? Ora, nosso país é exportador de commodities. E a China é nosso maior parceiro, o maior comprador de nosso minério de ferro, de nossa soja e por aí vai. Uma recessão por lá afetará nossas exportações e, de quebra, o desempenho financeiro de muitas empresas. Isso é ruim para a economia como um todo e para o mercado financeiro em particular.
Precisamos, então, ficar atentos às medidas que o governo chinês tomará para incentivar o consumo e o investimento, assim como acompanhar os próximos passos dos governos brasileiro e norte-americano. O cenário geral terá muita influência nos rumos de nossa economia, nos preços das ações e no desempenho daquelas companhias que pagam dividendos. Como se vê, a inflação é um índice extremamente importante. Um bom investidor jamais a ignora em suas decisões.
(*) Vicente Guimarães é CEO da VG Research