O mundo dos investimentos está passando por uma transformação sem precedentes. Não se trata apenas da ascensão da tecnologia, que democratizou o acesso a novas classes de ativos, mas de uma mudança cultural profunda, impulsionada pelas gerações Millennials (32-42) e GenZ (22-32). Diferente dos investidores tradicionais, esses novos protagonistas do mercado não estão satisfeitos com ações e títulos convencionais. Eles buscam retornos diferenciados, impacto social e conexão com seus valores pessoais, moldando uma nova forma de enxergar o dinheiro e o futuro.
Estudo recente realizado pelo Bank of America (NYSE:BAC), mostra que os jovens estão muito mais interessados em investir em ativos alternativos do que em ações comercializadas nas bolsas de valores. Segundo o levantamento, 75% dos estadunidenses entre 21 e 42 anos de idade não consideram que atualmente seja possível obter retornos acima da média investindo apenas em ações e títulos tradicionais. Apenas 32% dos investidores com idade superior a 43 anos têm a mesma opinião.
E mais: 80% dos jovens investidores procuram investimentos alternativos em substituição aos ativos do mercado tradicional. Entre eles, capital privado, matérias-primas, ativos imobiliários, obras de arte, entre outros ativos da economia real.
Outro dado, publicado recentemente pela Bloomberg, mostra que estas duas gerações estão abandonando a tradicional estratégia de 60-40 (ações e títulos) em favor de ativos alternativos como criptomoedas e colecionáveis, incluindo carros raros e tênis. Um alerta que fica é que 94% dos investidores da Geração Z e Millennials mostram interesse em ativos alternativos, enquanto apenas 57% dos Baby Boomers têm o mesmo perfil.
Claro que uma coisa continua igual, que é a busca por rentabilidade. Mas a tolerância a risco é bem diferente entre as gerações. Outra diferença é a forma de escolher os ativos. Impacto, senso de identidade e sustentabilidade são outras propriedades que passam a ser avaliadas junto com os bons e velhos “retorno, risco e liquidez”. É por esta razão que o estudo do Bank of America, revela que 75% dos millennials investem em produtos e empreendimentos sustentáveis contra 21% dos entrevistados mais velhos.
Além dessas mudanças comportamentais, há um fator estrutural que irá acelerar ainda mais essa transformação: a maior transferência de riqueza da história. Até 2045, estima-se que US$ 84 trilhões passarão das mãos dos Baby Boomers para Millennials e GenZers, de acordo com o estudo Navigating the Future of Wealth 2024, da Multipolitan. Com mais recursos à disposição, essas novas gerações tendem a consolidar essa nova abordagem de investimentos, reforçando a ascensão dos ativos alternativos no cenário global.
O desafio agora é claro: o mercado financeiro está pronto para atender a essa nova demanda? As instituições precisam repensar seus produtos, estratégias e relacionamento com esse novo investidor, que busca mais do que rentabilidade – ele quer propósito, segurança e inovação.
Os ativos alternativos deixaram de ser uma tendência passageira e passaram a desempenhar um papel estratégico na diversificação e proteção patrimonial. No Brasil, esse movimento ganhou ainda mais força devido à volatilidade da Bolsa de Valores e aos recentes escândalos contábeis, como os das Americanas (BVMF:AMER3) e Light (BVMF:LIGT3), que minaram a confiança do investidor no mercado tradicional.
Ao contrário das oscilações bruscas das ações listadas em Bolsa, os ativos alternativos oferecem um grau maior de previsibilidade e menor correlação com os mercados convencionais. Além disso, permitem que investidores explorem novas fontes de rentabilidade, blindando suas carteiras contra crises e mudanças abruptas no cenário econômico.
A diversificação não é apenas uma estratégia inteligente – é uma necessidade para enfrentar um mundo financeiro cada vez mais dinâmico e incerto. Com o avanço da tecnologia e o amadurecimento do mercado, o acesso a investimentos antes restritos a grandes fortunas, como fundos de private equity, royalties musicais, imóveis de alto padrão e até arte tokenizada, agora está ao alcance de um público muito mais amplo.
Os agentes financeiros precisam estar preparados para essa revolução. A demanda por novas soluções já é uma realidade e quem não se adaptar corre o risco de ficar para trás. Oferecer produtos inovadores, transparentes e alinhados com os valores e expectativas dessas novas gerações será fundamental para garantir relevância no mercado do futuro.
A transição já começou. Os ativos alternativos não são mais um complemento – são protagonistas na construção de carteiras robustas, resilientes e alinhadas com a nova era do investimento global.
À medida que essa nova era se consolida, quem souber oferecer valor real, adaptar-se às expectativas dos investidores modernos e ampliar o leque de oportunidades disponíveis sairá na frente. O futuro do mercado financeiro será cada vez mais plural, acessível e conectado com a nova realidade do investidor global.