O ano de 2020 está sendo um dos anos mais atípicos na história do mundo. Começamos o ano com uma instabilidade política, uma possível terceira guerra mundial e finalizamos o mesmo trancados em nossas casas devido ao COVID-19. Esse que por sua vez foi o grande responsável pelo aumento nas dívidas públicas de todos os países, com o Brasil não foi diferente. A dívida pública do Brasil aumentou todos os meses desde o início da pandemia, com expectativa de chegar a 100% do PIB ainda em 2020. A pandemia provocada pelo Coronavírus é responsável por uma dívida de mais ou menos 8% do PIB até o momento.
Naturalmente, com a dívida pública aumentando o investidor irá exigir um prêmio para alocar seu recurso no Brasil. Afinal, o descontrole fiscal é um problema que atinge as mais diversas áreas da economia do país. Além disso, o país tem cerca de R$ 615 bilhões em títulos públicos para pagar no primeiro quadrimestre de 2021 o que representa um desafio e tanto para o Brasil.
Com uma dívida mais alta do que a média dos países emergentes o Brasil oferece um risco muito maior para o investidor internacional do que o México por exemplo que possui um risco de crédito BBB- contra um risco BB- no Brasil. Ou seja, emprestar dinheiro para o governo mexicano é mais seguro do que para o governo brasileiro. Além disso, o Brasil perde recurso para os mexicanos em decorrência da relação risco/retorno entre os países. Enquanto o México possui um rating BBB- e uma taxa de juros na casa de 4% ao ano o Brasil se encontra em um rating BB- para uma taxa de juros em 2% ao ano.
Antes de prosseguirmos, precisamos entender a classificação do risco que citei acima. (BBB- e BB-) são notas dadas por agências de rating, essas notas indicam a situação financeira da empresa ou país analisado. Como podemos analisar no gráfico abaixo e levando em conta a tabela da S&P (Standard & Poor’s), uma das maiores e mais renomadas agências de crédito no mundo, vai de AAA (melhor risco) até D (pior risco). Quanto maior o risco, maior o retorno necessário para tornar o investimento viável. Aportar em uma empresa/país de risco sem um retorno mínimo viável não é interessante, por isso países emergentes tendem a ter uma taxa de juros maior do que países desenvolvidos.
A soma de um risco maior, uma taxa de juros menor, uma relação risco/retorno desfavorável e com outras opções no mercado o resultado só pode ser um: Fuga de capital estrangeiro. Pense da seguinte forma, você emprestaria o seu dinheiro para um país que possui um risco maior por uma remuneração menor? Não faz muito sentido. Uma fuga de capital do país torna o dólar mais escasso no país, quando encontramos uma alta demanda para poucos produtos disponíveis no mercado o preço tende a subir.
Olhando a variação do dólar e da taxa Selic no período de julho de 2019 até dezembro de 2020 iremos observar uma alta na casa de 32% do dólar em relação ao real. Do outro lado nos deparamos com uma taxa Selic que vai de 6,5% ao ano para 2%. Com uma taxa de juros menor o investidor estrangeiro tira o seu dinheiro do Brasil e envia para outros países, diminuindo a “abundância” de dólar no país e fazendo os preços subirem.
Esse evento não deve ser analisado isoladamente. Porém, o indicador de dívida em relação ao PIB de um país é muito utilizado por investidores internacionais para relacionar o risco que irão correr em relação a remuneração atrelada ao investimento. O indicador de dívida estando desfavorável faz com que o investidor perca a confiança no país e risque ele da lista.
Luccas E.R. Macario - CEA