Quando o gigante cargueiro Ever Given ficou preso no Canal de Suez em março, muita gente ficou preocupada com o impacto na logística global que iria sofrer fortes atrasos.
De repente um dos pontos de maior fluxo de cargas no mundo estava completamente engarrafado. Alguns especialistas falavam que poderiam levar até 9 semanas para descongestionar e como o mundo já se encontra em um cenário de forte demanda por produtos (com a reabertura da economia), o estrago estava feito. Felizmente o cargueiro conseguiu ser solto após 6 dias, mas o problema na cadeia logística global está longe de ser resolvido. E esse problema não começou com o Ever Given e nem deve ser resolvido ainda por vários meses.
O buraco é mais embaixo.
Com o advento do coronavírus a cadeia produtiva global ficou de pernas pro ar. Primeiro, pois no começo de 2020, a oferta e demanda por produtos praticamente parou, já que as pessoas estavam em casa. E depois, com a reabertura da economia, a demanda explodiu, enquanto a oferta não acompanhou.
Após dezenas de trilhões de dólares jogados na economia pelos governos ao redor do mundo, através de injeção monetária e auxílios emergenciais, os consumidores têm aumentado cada vez mais sua demanda por bens de consumo (sofás, geladeiras, bicicletas etc.). Muitas vezes esses produtos são produzidos em diversos países e precisam atravessar o planeta até chegar no seu destino final.
A demanda está tão forte que os preços cobrados para levar um cargueiro de contêiner da China para o Brasil subiram 700% no último ano. E esse impacto não se limitou à indústria de cargueiros de contêineres. A mesma coisa aconteceu com os petroleiros e cargueiros de commodities agrícolas, que viram a demanda explodir, sem navios suficientes para acompanhar.
Atualmente, cerca de 90% do comércio mundial (cerca de 11,1 bilhões de toneladas em produtos) é transportado pelos mares, totalizando quase US$ 4 trilhões por ano. E existem cerca de 5.446 navios cargueiros de contêineres pelo mundo.
Para piorar a situação, a produção de novos contêineres tem caído desde 2018, enquanto que o número de contêineres destruídos tem crescido, criando, assim, menos oferta de contêineres no mundo diante da forte demanda.
Como a variante Delta piorou a situação
Um dos pontos de maior fluxo mundial acaba sendo a China, que é a maior exportadora do mundo.
Em maio, o porto chinês de Yantian, na cidade de Shenzhen, que detém 25% de todo o comércio chinês com os EUA, foi impactado por uma explosão de casos de Coronavírus, com a variante Delta, o que causou várias quarentenas e redução no número de trabalhadores do porto.
Por conta disso, mais um engarrafamento de navios ocorreu. E esse teve muito mais impacto do que o Ever Given no Canal de Suez, pois causou quase 20 dias de fluxo reduzido.
FOTO: Forte congestionamento em junho no porto de Yantian, na China
Embora a situação tenha começado a normalizar desde o final de junho no porto chinês, os problemas logísticos globais devem perdurar por vários meses ainda, diante da forte retomada do consumo global e tradicionalmente a temporada de forte demanda se arrasta até o período natalino. Ademais, a variante do coronavirus, Delta, continua a se alastrar por vários países, o que pode causar mais disrupções nos portos.
Quem tem se beneficiado disso?
Claramente, quem tem se beneficiado são os que conseguem subir seus preços diante do desequilíbrio na cadeia, notadamente as empresas de cargueiros de contêineres. Esse mercado é dominado por empresas fora dos EUA, que muitas vezes passam por baixo do radar dos grandes analistas financeiros.
Empresas como Navios Maritime LP (NYSE:NMM), Danao (NYSE:DAC) e ZIM Integrated Shipping Services Ltd (NYSE:ZIM) têm visto suas ações explodirem nos últimos meses (após anos de perdas, diga-se de passagem). A DAC, por exemplo, subiu quase 2.000% nos últimos 12 meses.
Esse setor normalmente trabalha com baixas margens e tem muita competição. Entretanto, após anos de sofrimento com queda nos lucros, o mercado se reaquece e, ao que aparenta, tende a permanecer aquecido ainda por vários meses.
E você, o que acha? É uma oportunidade ainda ou ela já passou?
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