Essa análise foi publicada em inglês em 20/07/2020 e traduzida no mesmo dia
Os investidores do petróleo devem intensificar sua briga nesta semana para manter os preços do produto acima ou pelo menos perto dos US$ 40 por barril, na medida em que a disparada de novos casos de covid-19 ameaça fazer com que importantes cidades dos EUA decretem outro lockdown.
Em um fascinante replay do primeiro trimestre, quem está comprado no petróleo talvez tenha assumido posições difíceis de desfazer rapidamente, principalmente se a economia sofrer mais do que o imaginado na nova rodada de infecções por coronavírus.
Depois de atingir a cotação de -US$ 40 em abril, o barril de West Texas Intermediate, referência do petróleo nos EUA, vem acelerando de forma constante e praticamente ininterrupta para cerca de US$ 40 no mercado futuro. Qualquer avanço a partir desse ponto pode ser delusório.
Com o mundo diante de um novo surto de covid-19, os Estados Unidos voltam a ser mais atingidos do que a maioria dos países. Cerca de 90% dos leitos de UTI no Arizona estão ocupados. Enquanto isso, a Flórida registrou em um único dia deste mês mais infecções do que toda a União Europeia.
O “Lockdown 2” está sendo avaliado em locais como Houston, Los Angeles e Miami. A Califórnia, centro tecnológico dos Estados Unidos, já mandou fechar todos os negócios com atividade em ambientes fechados. Se mais cidades aplicarem restrições dessa natureza, podem colocar em sério risco os preços do petróleo, impulsionando, ao mesmo tempo, o ouro, porto seguro da maioria dos investidores de commodities.
O WTI registrava queda de 25 centavos, ou 0,6%, a US$ 40,50 por barril no início desta segunda-feira na Ásia, respondendo às últimas preocupações de saúde.
Os futuros do Brent, referência mundial do petróleo, caíam 27 centavos, ou cerca de 0,6%, para US$ 42,87. O Brent caiu abaixo de US$ 16 em abril, antes de superar a marca dos US$ 40 na semana passada.
Uma nova rodada de fechamentos de empresas pode ser extremamente danosa aos Estados Unidos depois da devastação econômica causada pela primeira onda em março.
Economia perde fôlego após o fim dos primeiros confinamentos
“Há sinais cada vez mais evidentes de que a economia americana está perdendo fôlego após o fim dos primeiros confinamentos, com os números semanais de desemprego permanecendo elevados e novas medidas de quarentena sendo reintroduzidas em diversos estados", afirmou Dominick Chirichella, diretor de risco e negociação do Instituto de Gestão Energética em Nova York.
Chirichella afirmou que o setor de extração e produção nos EUA retirou de operação 180, ou 88.8%, das sondas, as quais estavam produzindo, entretanto, 2.125.000 barris por dia, ou 23,9% a mais do que em outubro de 2014.
Apesar da alta dos casos de covid-19, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo deu um passo ousado na semana passada, ao reduzir os cortes de produção que o grupo vinha mantendo entre maio e junho.
Opep diminui cortes e vai em direção ao penhasco
A aliança Opep+, liderada pela Arábia Saudita com os auspícios da Rússia, afirmou que retiraria 7,7 milhões de barris por dia do mercado a partir de agosto, ante os 9,6 milhões acordados em julho. Trata-se de um recuo de 20%.
É um movimento praticamente rumo a um penhasco, já que a demanda de combustíveis ainda é débil, sem falar na ameaça de um segundo lockdown em grandes cidades americanas.
John Kemp, analista de petróleo da Reuters, afirmou em uma publicação na sexta-feira:
“A Opep+ está ansiosa para ver preços maiores para o petróleo o mais rápido possível, mas essa ambição não deve se concretizar no curto prazo pela fraca demanda de combustíveis.”
Operadores de combustíveis e refinarias mais pessimistas
Kemp disse que as refinarias e os operadores dos mercados de combustíveis estavam ficando mais pessimistas com a perspectiva para a economia mundial e os transportes durante o resto do ano, mesmo com os produtores da Opep+ tentando alçar os preços a patamares mais elevados.
O analista disse ainda:
“Os prêmios de preço para gasolina e diesel sobre o petróleo têm permanecido estáveis ou em queda há quase quatro semanas desde 23 de junho, em meio à ansiedade cada vez maior de um reaparecimento do coronavírus e novas de imposições de lockdowns".
Mais de 137.000 americanos morreram por causa da doença e mais de 3,9 milhões já foram infectados. O presidente Donald Trump, em uma entrevista à Fox News veiculada no domingo, insistiu que o aumento de casos positivos de covid-19 entre a população americana se tratava apenas de “resquícios” e uma consequência do aumento dos testes.
“Isso se deve ao fato de termos excelentes testes, porque temos os melhores índices de testes do mundo”, disse Trump em entrevista à Fox. “Se não fizéssemos testes, não seria possível mostrar esse gráfico. Se tivéssemos testado metade disso, os números também seriam menores”, disse o presidente, atribuindo os números em sua maior parte a jovens “com resfriado”.
Ouro busca novos picos acima de US$ 1.800
No mercado de metais preciosos, a expectativa é que o ouro registre novos picos acima de US$ 1.800 nesta semana, depois de disparar por seis semanas seguidas até agora.
Os futuros do ouro na COMEX atingiram as máximas de nove anos a quase US$ 1.830 em 8 de julho. O ouro à vista atingiu a máxima de 2011 acima de US$ 1.818 no mesmo dia.
Ed Moya, estrategista sênior de mercado da OANDA, em Nova York, afirmou:
“Os preços do ouro estão subindo de forma constante, à medida que aumentam os temores de uma segunda onda viral.”
Os parlamentares americanos retornam a Washington na segunda-feira para discutir novos programas de auxílio contra o coronavírus, enquanto os investidores também ficam de olho nos líderes europeus em Bruxelas em relação ao estímulo proposto para impulsionar suas economias.
Deixando de lado o coronavírus, o risco eleitoral também está se tornando um fator importante para os investidores do ouro residentes nos EUA, já que as pesquisas mostram uma liderança crescente do ex-vice-presidente Joe Biden em relação a Trump antes da votação de 3 de novembro, disse Moya.
“Wall Street não pode mais ignorar as pesquisas e já começou a precificar o risco de Biden na presidência.”
Aviso de isenção: Barani Krishnan não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.
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