O barril de petróleo está tendo dificuldades para se manter no patamar de US$ 40, à medida que aumentam as expectativas de que a superdisciplina produtiva da Opep em relação aos cortes finalmente acabará nesta semana.
O ouro, enquanto isso, deve permanecer confortável no nível de US$ 1.800 em meio a apostas de que o dólar deve se desvalorizar ainda mais depois de quatro semanas consecutivas de perdas, atraindo mais compras no metal precioso, na medida em que muitos acreditam que o porto seguro irá registrar novas máximas recordes nos próximos meses.
No mercado de petróleo, os principais membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, liderada pela Arábia Saudita com o auxílio da Rússia, devem se reunir em uma conferência virtual na quarta-feira para debater a produção atual e futura do grupo. E tudo indica que essa não será uma reunião comum para a Opep+, como sugerem alguns veículos de imprensa.
A Arábia Saudita, cabeça da organização que há meses vinha insistindo para que os outros membros do grupo mantivessem a produção reduzida a fim de dar suporte ao voo do mercado desde os preços abaixo de zero em abril até cerca de US$ 40 por barril neste momento, pode optar por aumentar a produção a partir de agosto, segundo reportagens
Sauditas apostam que a demanda de petróleo voltará ao “normal”
Autoridades da Opep que falaram com repórteres sob a condição de anonimato explicaram que a mudança na estratégia saudita ocorre em meio a sinais de que a demanda petrolífera está retornando ao que Riad acredita ser “normal”, após meses de consumo deprimido devido aos confinamentos gerados pelo coronavírus.
Em abril, a Arábia Saudita, maior exportadora mundial de petróleo, liderou uma iniciativa que fez com que o grupo de 23 produtores cortasse coletivamente a extração em 9,7 milhões de barris por dia (bpd), à medida que a pandemia causava o colapso da demanda petrolífera.
Agora a Arábia Saudita e a maioria dos participantes da coalizão apoiam o afrouxamento das restrições. Delegados disseram a repórteres que, de acordo com a proposta de Riad, a Opep+ relaxaria os cortes em 2 milhões para 7,7 milhões de bpd.
Mas será que nível de consumo é tão confortável assim para a Arábia Saudita mudar o rumo da produção a essa altura do campeonato? Principalmente se levarmos em conta que a ameaça da pandemia está longe de terminar; ao contrário, parece estar ganhando força de novo.
Os futuros do West Texas Intermediate, referência do petróleo nos EUA, registra queda de 79 centavos em Nova York, ou 1,95%, a US$ 39,76 por barril, no momento em que escrevo.
Já o Brent, referência mundial do petróleo, derrapava 68 centavos, ou 1,57%, a US$ 42,56, em Londres.
“Muito se tem falado sobre uma possível reviravolta no mercado de petróleo caso haja um relaxamento nos cortes”, declarou Jeffrey Halley, analista da OANDA em Nova York, em um comentário escrito na segunda-feira.
“50% de chance” de a Opep ir para qualquer lado
Halley confessou, no entanto, que estava dividido quanto à possibilidade de os sauditas elevarem a produção neste momento, dizendo que havia “argumentos persuasivos para ambos os lados”.
“A expectativa é que o petróleo continue volátil até a divulgação das recomendações do Comitê de Monitoramento Ministerial Conjunto da Opep”, afirmou.
Vale destacar que a Agência Internacional de Energia (AIE) está prevendo mais consumo de petróleo, o que reforça os argumentos a favor do rebalanceamento. A AIE, sediada em Paris, foi uma das razões para a alta dos preços do petróleo na semana passada, ao elevar sua previsão de demanda de 400.000 bpd 92,1 milhões de bpd, depois de citar um declínio menor do que o esperado no consumo para o segundo trimestre.
A AIE tem adotado uma perspectiva austera no petróleo nos últimos anos, contrapondo-se à Opep dominada pelos sauditas, que está determinada a manter o suporte dos preços do óleo em qualquer condição. Alguns analistas se surpreenderam com o fato de a agência prever um número positivo para a demanda petrolífera, já que o mundo permanece aferrado ao medo de uma crise financeira maior decorrente de uma nova onda de covid-19.
O Goldman Sachs declarou em nota que, apesar de a desaceleração do crescimento da produção de shale oil nos EUA gerar macroimplicações positivas para o setor de óleo e gás, “aumentam as preocupações com a demanda em ambas as commodities".
O banco de Wall Street declarou:
“Isso se deve em parte à elevação dos casos de covid-19, bem como a preocupações de curto e longo prazo com o futuro da demanda e do refino de petróleo”.
Disparada nas infecções aumenta preocupações com a demanda petrolífera
A disparada de novos casos de coronavírus nos Estados Unidos arrefeceram as expectativas de uma rápida recuperação no consumo de combustível, mesmo com o progresso nos trabalhos de desenvolvimento de uma vacina.
O recorde diário de infecções nos EUA levantou dúvidas sobre o ritmo da reabertura econômica após os confinamentos, bem como sobre a retomada das aulas com a chegada do outono no país. As mortes por covid-19 nos Estados Unidos também começaram a aumentar levemente, após a disparada na quantidade de casos em meados de junho. O aumento das fatalidades ocorreu em dois dos estados americanos mais populosos: Califórnia e Texas.
Apesar de os especialistas em doenças infecciosas esperarem que o número de mortes não cresça a ponto de se igualar à carnificina ocorrida no estado de Nova York em abril, onde número diário de mortes atingiu o pico de quase 1000, ainda não está claro qual será a velocidade do aumento de fatalidades nos estados mais afetados nas próximas semanas.
Ouro se mantém no patamar de US$ 1.800 com expectativa de novos recordes
Nos metais preciosos, o ouro spot está um pouco acima de US$ 1.800 por onça, rumo à tão cobiçada máxima histórica de US$ 1.900 em um futuro não muito distante.
Desde a crise financeira, o movimento dos preços do ouro tem espelhado quase que perfeitamente a rentabilidade dos títulos do tesouro americano de 10 anos protegidos pela inflação que, na semana passada, tocaram a mínima de sete anos de -0,78%. O Wall Street Journal observou, na sexta-feira, que a relação entre os movimentos de preços dos dois ativos sofreu variações, mas não houve um rompimento significativo na última década.
Outros analistas, como Georgette Boele, do ABN AMRO, já avaliam que o ouro irá além dos US$ 1.900, prevendo que em 2021, os preços atingirão cerca de US$ 2.000 por onça.
“A narrativa da covid-19 não vai desaparecer, e não acreditamos que o Federal Reserve mudará o rumo dos juros em breve, o que deve dar suporte aos preços do ouro”, declarou Stephen Innes, estrategista-chefe de mercado da AxiCorp, empresa de serviços financeiros.