Será que os motoristas americanos resolveram mesmo pegar a estrada no feriado?
Apesar do aumento de casos de coronavírus nos EUA e de pedidos de menor socialização, multidões encheram os principais pontos de lazer do país para celebrar o Memorial Day, dando um bom sinal de retomada de viagens, que pode se traduzir em algum aumento de demanda de gasolina durante o fim de semana prolongado de três dias.
Ainda não se sabe quantas viagens rodoviárias foram feitas – outro costume do Memorial Day, além das praias cheias e dos churrascos. Sem a previsão anual da Associação Automotiva Americana devido à pandemia, não foi possível acompanhar qualquer indicador nesse sentido. O que podemos prever com certa precisão, no entanto, é que os números deste ano não chegarão nem perto dos 43 milhões de americanos que pegaram a estrada nessa mesma época do ano passado.
Qual foi o consumo de gasolina dos americanos no Memorial Day?
Javier Blas, correspondente de energia da Bloomberg, escreveu no Twitter, onde possui mais de 90.000 seguidores, que as tendências de mobilidade da Apple (NASDAQ:AAPL) para as viagens automotivas nos EUA apontavam para “um aumento significativo no número de motoristas”.
“É interessante ver como isso se traduz em mais demanda de gasolina”, afirmou Blas, observando que a demanda implícita não foi nada favorável no último conjunto de dados da Administração de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês) para a semana de 15 de maio. O gráfico de mobilidade da Apple divulgado por Blas em seu tuíte sugeria que as viagens automotivas haviam subido para a marca de 25% na semana até 22 de maio, a partir dos 10% anteriores. Mas era difícil dizer se se tratava de um ganho semanal devido à falta de indicadores granulares cronológicos.
Os estoques de gasolina nos EUA inesperadamente ganharam 2,8 milhões de barris na semana até 15 de maio, contra previsões de uma queda de 2,1 milhões de barris. Neutralizando qualquer sentimento baixista gerado pelo acúmulo de gasolina, houve uma queda de 5 milhões nos estoques do produto contra uma previsão de acúmulo de 1,2 milhão.
A propósito, o nível geral de mobilidade nos EUA pareceu depender da costa em que a pessoa vivia e da disposição maior de descumprir a lei para viver novas aventuras e viajar.
Na Califórnia, o popular Eaton Canyon Natural Area Park and Trails abriu antes do fim de semana do Memorial Day com diversas medidas de segurança , mas rapidamente fechou as portas, por causa do drástico aumento de multidões.
Por toda a cidade e os subúrbios de Chicago, os desfiles e cerimônias de solenidade com grandes públicos foram substituídos por eventos menores, transmitido online, enquanto os líderes locais tentavam prestar homenagem àqueles que morreram servindo o país, sem descuidar das regras de distanciamento social.
As apostas na alta demanda de gasolina durante o Memorial Day ajudaram o petróleo americano West Texas Intermediate a se valorizar 13% na semana passada e 230% desde o fundo tocado em 28 de abril, a US$ 10,07 por barril.
Está havendo um rali “autodestrutivo” no WTI?
No ano, o WTI ainda registra uma queda de 45%. Mas o mercado parece ter desenvolvido a velocidade de um trem-bala, e poucos “ursos” estão dispostos a ficar no seu caminho. À guisa de exemplo, ao meio dia desta terça-feira na Ásia, o petróleo norte-americano já havia se recuperado do seu declínio cumulativo de 3% desde o pregão de sexta-feira e das negociações eletrônicas durante o feriado de Memorial Day.
“Apenas uma queda abaixo de US$ 30 por barril negaria o cenário técnico altista para o WTI neste momento”, escreveu Jeffrey Halley, analista da OANDA em Nova York.
Mesmo assim, alguns estão questionando se o repique no petróleo americano já foi longe demais. Analistas do Goldman Sachs, em uma nota sobre ações de energia divulgada a clientes na segunda-fera, perguntaram se o WTI estava a caminho de um “rali autodestrutivo”.
"Com o WTI na faixa inferior dos US$ 30 por barril, existe a preocupação de que a produção de shale oil possa ser revertida e acabar justificando um período mais prolongado da restrição da atividade de perfuração de shale oil", declarou o Goldman, voz mais influente de Wall Street nas negociações de petróleo.
Brent possui mais estoques flutuantes neste momento
A Energy Intelligence, de Nova York, enquanto isso, declarou que os estoques mundiais de petróleo e derivados registraram um salto recorde de 1 bilhão de barris neste ano no período de janeiro a abril, podendo haver outro acúmulo de 400 milhões de barris antes dos cortes de produção e antes que a recuperação da demanda possa rebalancear o mercado em meados do ano.
Os estoques de petróleo subiram em todas as partes – primeiramente nos principais centros de negociação; em seguida, em locais mais secundários e, depois, no mar, onde houve outro recorde de petróleo armazenado em superpetroleiros para venda em data posterior.
Ainda que os acúmulos de estoque estejam ocorrendo em todo o mundo, o fluxo para tanques norte-americanos está desacelerando, e os principais centros nos EUA estão começando circular o petróleo através do sistema novamente.
A Energy Intelligence disse ainda:
“Os gerentes de terminais vêm oferecendo espaço de armazenagem em centros de negociação cobiçados, como os terminais de produtos da Nymex no porto da cidade de Nova York, e no porto petrolífero offshore de Louisiana, em St. James.”
Além disso, o site Seevol.com registrou um declínio de 4,26 milhões de barris na semana até 22 de maio no centro de Cushing, Oklahoma, que armazena o petróleo entregue com base na expiração dos contratos spot de WTI.
A estimativa do Seevol indica um declínio constante nos estoques de Cushing. Na semana anterior até 15 de maio, a EIA registrou uma queda de 5,8 milhões de barris em Cushing. A drenagem dos estoques de Cushing tem sido um dos vetores do bom desempenho do WTI em relação ao seu rival Brent nos último mês. Embora ambas as referências apresentem queda similar no ano, o Brent só se valorizou 8% no ano passado, contra 13% do WTI.
Tensões sino-americanas também preocupam o mercado
Deixando de lado os dados da EIA, o comportamento do petróleo nesta semana também dependerá da evolução das tensões sino-americanas.
A possibilidade de uma guerra comercial entre China e as economias do Ocidente cresceu no domingo, quando Pequim acusou Washington de tentar desencadear uma “nova guerra fria”, já que o presidente Donald Trump estaria disposto a apoiar Hong Kong durante os protestos democráticos contra a China continental. Trump já havia sugerido que a China disseminou o coronavírus para tentar enfraquecer seu governo.
“A China não tem qualquer intenção de mudar nem substituir o governo dos EUA”, declarou o ministro de relações exteriores da China, Wang Yi, no domingo, quando houve a última escalada nas tensões entre as duas maiores economias do mundo. “É hora de os EUA desistirem de tentar mudar a China e interromper seu histórico esforço para modernizar sua população de 1,4 bilhão de habitantes."
Ouro estável a US$ 1.730 em meio a “ruídos” em ações e dólar
No caso do ouro, os futuros do metal amarelo começaram a semana de forma bastante moderada, mantendo a estabilidade acima do nível de US$ 1.730.
Embora a tendência de alta de longo prazo do ouro parecesse intacta, os “ruídos” diários nas ações e no dólar passaram a pesar sobre o metal precioso, segundo analistas.
“Acreditamos que o comportamento das ações e de outros ativos de risco provavelmente está respaldando o apetite dos investidores, o que reduziu a atratividade do ouro no corto prazo”, declarou Kyle Rodda, analista de mercados da IG, à Reuters.
“Ainda parece haver forte resistência para que os preços do ouro rompam a marca distante de US$ 1.740 ou 1.750.”
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