A alta inicial nos preços do petróleo e do ouro na semana apresenta um cenário complexo para os investidores, que precisam lidar com a esperança de vacinas e tratamentos, de um lado, e possíveis medidas de confinamento em meio aos aumentos de casos de covid-19, de outro.
A cotação do petróleo subia mais de 1%, diante da perspectiva de que a Opep+ manteria os atuais cortes de oferta, por preocupações com a fraqueza da demanda de combustíveis, após uma disparada das infecções de coronavírus e produção maior na Líbia.
No ouro, os preços tanto do mercado futuro quanto à vista saltavam, com os investidores procurando se proteger da queda da atividade econômica em países e com a imposição de medidas mais rígidas de segurança em estados americanos, devido aos aumentos de casos de coronavírus.
Petróleo sobe graças a dados melhores na Ásia
Dados mostrando uma recuperação na segunda e terceira economias do mundo, China e Japão, também deram suporte ao petróleo no pregão asiático desta segunda-feira. O impulso maior veio dos maiores números diários de todos os tempos no processamento de petróleo pelas refinarias chinesas em outubro.
“O constante avanço dos dados econômicos na Ásia sugere que deve haver uma recuperação no consumo na região”, afirmou Jeffrey Halley, analista da OANDA em Sydney.
“A expectativa de impacto econômico pela covid-19 nos EUA deve ser amenizada pelo avanço na Ásia, o que tem reduzido as pressões baixistas".
O West Texas Intermediate, principal referência do petróleo nos EUA, registrava alta de US$ 0,53, ou 1,3%, a US$ 40,66 por barril, no início desta madrugada.
Já o Brent, referência mundial do petróleo, derrapava 42 centavos, ou 1%, a US$ 43,20, em Londres.
Os ganhos ocorreram na esteira da alta de mais de 1% no índice futuro Dow, sinalizando uma forte abertura em Wall Street.
Tanto o WTI quanto o Brent se valorizaram mais de 8% na semana passada, graças a todo o otimismo dos investidores após a divulgação do progresso dos ensaios para a vacina de covid-19 da Pfizer (NYSE:PFE), desencadeando um forte rali nos ativos de risco no início da semana.
Mas, ao final da semana, ficaram claras as condições extremamente desafiadoras de armazenamento da vacina da Pfizer, bem como sua difícil logística de entrega, o que mitigou os ganhos.
Ouro registra movimento misto
No caso do ouro, os contratos futuros com entrega em dezembro nos EUA subiam US$ 1,20, ou 0,1%, a US$ 1.887,40, depois de se desvalorizar 3,4% na semana passada, sua pior semana desde o fim de setembro.
Já o ouro spot, que reflete as negociações em lingotes, conseguiu ficar positivo durante pregão asiático desta segunda, subindo 43 centavos, ou 0,02%, a US$ 1.889,91.
Os futuros do ouro afundaram mais de US$ 100 por onça, ou 4,5%, na segunda-feira, seu pior resultado desde agosto. Na sexta-feira, porém o porto seguro havia recuperado parte das perdas, atuando como hedge contra o aumento de casos de covid-19.
Um grande lockdown nos EUA, similar ao período de março-abril, pode ser inevitável se os governadores estaduais decidirem fechar os territórios sob sua jurisdição para impedir a disseminação do vírus, mesmo que o governo Trump se recuse a iniciar tal movimento.
O medo de sobrecarga das UTIs hospitalares reapareceu nesta semana, já que as infecções por coronavírus registraram novos recordes diários, ultrapassando 184.000 casos na sexta-feira. De acordo com a Universidade Johns Hopkins, mais de 11 milhões de americanos contraíram o vírus desde fevereiro, e mais de 246.000 já morreram por complicações causadas por ela.
A possibilidade de um segundo bloqueio nacional é bastante concreta. O conselheiro da força-maior do presidente eleito Joseph Biden, Dr. Michael Osterholm, afirmou que a interrupção de quatro a seis semanas dos negócios poderia ajudar a frear a pandemia.
E não são apenas os EUA que estão enfrentando restrições econômicas. Na Europa, a operadora de rodovias Vinci registrou na sexta-feira que o tráfego caiu 48% na primeira semana cheia de novembro, em resposta às últimas medidas de saúde pública do governo francês. As medidas na segunda maior economia europeia devem permanecer em vigor pelo menos até 1 de dezembro. A Inglaterra também está em estado de lockdown, enquanto a chanceler alemã Angela Merkel alertou, na sexta-feira, que as restrições recentes do seu governo às reuniões sociais podem ter que durar até o ano-novo.
Tudo isso pode fazer a volatilidade aumentar no petróleo e no ouro.
Desde que o petróleo americano rompeu as máximas de 10 semanas acima de US$ 43 na quarta-feira, já corrigiu cerca de US$ 3 por barril.
No caso do ouro, a oscilação entre US$ 1.850 e US$ 1.900 por onça pode se tornar uma consolidação semipermanente, a menos que o estímulo econômico nos EUA contra a covid-19 seja aprovado no ano-novo, impulsionando o metal precioso.
“Existe o temor de uma segunda onda, com lockdowns e restrições, além do fato de que o mercado precisa levar em conta (algum) estímulo” para a economia dos EUA, afirmou Eli Tesfaye, estrategista sênior de mercado da RJO Futures. “Portanto, o mercado, em algum momento, precisa antecipar esse caixa e precificar a possível inflação”.