Está nas mãos do Federal Reserve o destino do dólar e, consequentemente, do ouro nesta semana.
A geopolítica também deu as caras pela primeira vez em meses para impulsionar o “porto seguro”, depois que o site de notícias Politico publicou que o Irã estava planejando retaliar os Estados Unidos, oito meses após a morte do seu mais importante general, Qasem Soleimani.
O petróleo, enquanto isso, parece ter evitado um deslize maior abaixo dos US$ 40 por barril, diante de reportagens de que o furacão Sally, segunda tempestade em menos de um mês, seguia em direção a plataformas de energia na costa do Golfo do México, nos EUA, logo após o furacão Laura, em 26 de agosto.
O que também manteve o petróleo no positivo foram as expectativas de que a Arábia Saudita e a Rússia usem a reunião da Opep+ de quinta-feira para tratar de preocupações com a sobreoferta no mercado. Mas alguns analistas defendem que a aliança liderada pelos sauditas sob os auspícios russos não será capaz de fazer o suficiente para evitar um teste das mínimas nos níveis intermediários de US$ 30.
“A reunião virtual da Opep+ nesta semana será bastante tensa”, afirmou Jeffrey Halley, analista radicado em Sydney da plataforma nova-iorquina de negociações on-line OANDA.
“A oferta abundante, o possível retorno das exportações da Líbia, a falta de adesão dos membros e uma perspectiva de demanda mais amena estão deixando o grupo de cabelos em pé.”
Halley disse ainda:
“Eu duvido que a Opep+ irá fraquejar nesta semana e voltar a sinalizar cortes maiores de produção, não há disposição para tanto. Assumindo isso como um cenário-base, os preços do petróleo estão vulneráveis a correções mais profundas nesta semana.”
No caso do ouro, Halley observou que, embora o metal amarelo tenha resistido à tempestade da liquidação das ações na semana passada, a atenção dos investidores estava em outro lugar.
“O mais provável é que o status quo prossiga até que o término da reunião do Fomc na quarta-feira pela tarde e tenhamos uma visibilidade maior sobre a política monetária e a direção do dólar”, afirmou, referindo-se à {{ecl-168||reunião} do Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed entre terça e quarta-feira.
Presidente do Fed deve voltar ao tema da inflação
Se bem que as taxas de juros nos EUA em si não serão uma novidade na reunião do Fed nesta semana – já que o banco central americano parece se sentir mais confortável com sua política de juros entre zero e 0,25% –, o presidente da instituição, Jerome Powell, deverá revisitar a missão do banco central de deixar a inflação ficar mais alta por mais tempo durante sua coletiva de imprensa na quarta-feira.
Se Powell fizer isso, a tendência é que o Índice Dólar, que serve de alternativa ao ouro, se desvalorize, dando impulso ao metal amarelo. O índice, que compara a moeda norte-americana a uma cesta de seis importantes divisas, especialmente o euro, caía 0,26% no pregão asiático, embora tenha se mantido acima do seu patamar altista de 93.
O otimismo com uma vacina contra a Covid-19 fez o dólar derrapar e elevou os mercados acionários. Os contratos futuros de S&P 500 em Wall Street subiam 1,3% antes da abertura do pregão desta segunda em Nova York. As ações dispararam com o anúncio de que a AstraZeneca (NYSE:AZN) e a Universidade de Oxford haviam retomado os ensaios clínicos da vacina contra o coronavírus no Reino Unido, depois de uma pausa de uma semana devido a preocupações de segurança.
No momento em que escrevo, o contrato futuro de ouro com entrega para dezembro nos EUA subia US$ 6,15, ou 0,3%, a US$ 1.954,10 por onça na COMEX de Nova York, estendendo a alta da semana passada de 0,5%.
O preço spot do ouro, que reflete as negociações em tempo real em lingotes, saltava US$ 8,13, ou 0,3%, para US$ 1.945,92. Na semana passada, o metal se valorizou 0,4%.
Os gráficos ainda mostram desafio para máximas no ouro
O grafista técnico Dhwani Mehta, especialista em ouro, observou em uma publicação no site FXStreet, que o lingote estava prestes a romper um triângulo descendente no gráfico de uma hora, após fechar acima da resistência formada pela linha de tendência de baixa a US$ 1.949.
“A próxima barreira no radar dos compradores está na máxima de sexta-feira a US$ 1.955. Um rompimento dela colorará em risco o nível de US$ 1.960”, escreveu Mehta. “O interesse de compra pode acelerar acima desse último patamar, abrindo as portas para a máxima de quinta-feira a US$ 1.966 , em direção ao alvo do padrão a US$ 1.978. O Índice de Força Relativa ficou achatado, mas ainda acima da linha intermediária, permitindo mais ganhos”.
O ouro segue bem abaixo das máximas recordes de quase US$ 2.090 registradas na COMEX e do pico do lingote acima de US$ 2.073, ambos atingidos no dia 7 de agosto.
Os gráficos mostram que o ouro spot precisa chegar a pelo menos US$ 1.968 para recuperar parte do impulso frenético que o fez atingir as máximas recordes do mês passado.
“A reação do mercado aos US$ 1.968 dará uma ideia da sua trajetória futura”, afirmou outro grafista técnico especializado em ouro, Sunil Kumar Dixit. “Mas o ouro na verdade precisa fechar acima de US$ 1.973 e cruzar US$ 1.993 para retomar o impulso de alta”.
Dixit disse ainda:
“Pelo lado da baixa, um rompimento abaixo de US$ 1.935 e um fechamento inferior a US$ 1.920 podem levar a um teste do patamar de US$ 1.900. Uma fraqueza maior pode aumentar as chances de uma mínima mais baixa que podem atingir US$ 1.850-1.800.”
Sauditas e russos devem realizar reunião de monitoramento da Opep+ na quinta-feira
No mercado petrolífero, os sauditas e russos realizarão uma reunião de monitoramento na quinta-feira para avaliar se os cortes de produção da Opep+, que começaram a ser reduzidos em agosto, ainda estavam evitando um excesso de oferta.
No momento em que escrevo, o barril de West Texas Intermediate negociado em Nova York, principal indicador do preço do petróleo nos EUA, registrava queda de 0,10 centavos, ou 0,27%, a US$ 37,23. O WTI se desvalorizou 6,1% na semana passada, ampliando a queda da semana passada de 7,5%.
Já o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência mundial para o petróleo perdia 14 centavos, ou 0,35%, a US$ 39,69. O Brent se desvalorizou 6,6% na semana passada, ampliando a queda da semana anterior de 5,3%.
Os preços do petróleo se estabilizaram com a intensificação da força da tempestade tropical Sally no Golfo do México, a oeste da Flórida, no domingo, podendo atingir a categoria 2 de furacão. A tempestade está causando distúrbios à produção petrolífera pela segunda vez em menos de um mês, após o furacão Laura varrer a região.
Preocupação com excesso de oferta e demanda pesa sobre o petróleo
Um furacão geralmente impulsiona os preços do petróleo devido ao fechamento forçado das plataformas de produção, mas a pandemia de coronavírus tem distorcido essa dinâmica, ao afetar a demanda de combustíveis. Isso vem limitando os ganhos tanto no WTI quanto no Brent.
Depois de revigorar os preços do petróleo em relação ao seu colapso sem precedentes no primeiro semestre, a Opep+ não está conseguindo ver uma recuperação da demanda de combustíveis em razão da nova disparada da pandemia. Tanto o WTI quanto o Brent perderam o patamar de US$ 40 por barril na semana passada, pela primeira vez desde junho.
Para complicar ainda mais a situação da oferta petrolífera, alguns exportadores da Opep+ não estão respeitando suas cotas, inclusive o esteio da aliança, a Rússia.
Se esse dilema não bastasse para os sauditas, o general desertor da Líbia, Khalifa Haftar, se comprometeu a acabar com o bloqueio petrolífero ao país norte-africano, o que pode aumentar ainda mais a oferta em até um milhão de barris por dia, os quais devem chegar ao mercado no devido tempo. O movimento de Haftar pode fazer bem à liberdade civil na Líbia. Mas certamente não é uma grande notícia para a Opep nem para o petróleo neste momento.