Publicada originalmente em inglês em 26/10/2020
Com tanta coisa em jogo na última semana antes da eleição presidencial nos EUA, a aversão ao risco – ou, no mínimo, a cautela – tomou conta dos mercados, fazendo os investidores se refugiarem em um ativo considerado como porto seguro desde meados do ano: o dólar.
A Casa Branca e Capitol Hill confirmaram, na sexta-feira, o que o mercado do ouro já vinha suspeitando há semanas – que não haveria um estímulo contra a covid-19 antes da eleição de 3 de novembro. Mesmo assim, os investidores do ouro ficaram batendo cabeça junto com as autoridades do governo Trump e do congresso durante quase um mês sobre um possível acordo nesse sentido.
Dólar em jogo na disputa presidencial nos EUA
Com essa incerteza e muitas outras em relação à capacidade de Joe Biden de tirar a presidência de Donald Trump, os investidores macro fizeram fila para comprar dólares.
O Índice Dólar, que compara a moeda americana a uma cesta de seis divisas, valorizava-se 0,2%, a 92,94, no horário de almoço desta segunda-feira na Ásia, registrando seu segundo pregão positivo em sete dias.
A força do dólar pesou sobre o ouro, fazendo-o perder o importante patamar altista de US$ 1.900 por onça.
O ouro futuro com entrega em dezembro atingiu a mínima de US$ 1.892,60 durante a sessão, desvalorizando-se 0,3%. Mas alguns estavam certos de um repique no fim do dia – e, quem sabe, um rali do fim da semana – diante da especulação sobre uma vitória de Biden e tratativas pós-eleições de um estímulo contra a covid-19.
Desmond Leong, da AxiCorp, afirmou:
“O USD se beneficiou muito da política do presidente Trump de estímulo fiscal agressivo internamente e protecionismo comercial externamente. Isso pode acabar se um presidente democrata for eleito”.
“De fato, se o candidato opositor Joe Biden sair vitorioso, a expectativa é que acordos comerciais bilaterais mais favoráveis possam enfraquecer o dólar, em conjunto com políticas protecionistas menos agressivas, principalmente contra aliados da OTAN na Europa.”
Independente de quem vencer, os analistas convergem em que um pacote de alívio precisa ser executado o mais rápido possível.
Próximo foco: estímulo pós-eleição
E esse estímulo – livre da política eleitoral – será enorme. O foco está novamente sendo direcionado ao crescente custo financeiro da pandemia e ao que pode ser necessário para começar a enviar cheques aos americanos desempregados, manter empresas de pequeno e médio porte financiadas e preservar milhares de trabalhadores do setor aéreo e outras áreas nas folhas de pagamento. Ninguém sabe ao certo qual será o número. Mas não seria demais pensar que será igual ou superior aos US$ 3 trilhões desembolsados em um pacote combinado de alívio emitido entre março e abril.
Adam Button, analista-chefe de câmbio da Forex Live, afirmou o seguinte em uma publicação na sexta-feira:
“A história mostra que praticamente todos os governos acossados pela instabilidade fazem a mesma coisa: gastam dinheiro”.
Se bem que as ações devam disparar de forma geral assim que o estímulo for revelado, no âmbito das commodities, a situação do ouro é particularmente “impressionante”, classificou Button.
“Ainda estamos em um momento sazonalmente fraco, mas se houver qualquer fraqueza em novembro, será hora de comprar”, complementou Button, referindo-se à incapacidade de o metal amarelo cruzar os US$ 1.950 por onça no mês passado.
“Senão, a compra será em dezembro a qualquer preço. Alguém vê topo nesse mercado? Tudo indica que vai explodir”.
Os investidores também ficarão de olho nos dados do PIB do terceiro trimestre na quinta-feira para avaliar a recuperação desde o tombo recorde de 31,4% no 2º tri. As previsões são de um crescimento igualmente robusto de 31,9% em junho. Se os números desapontarem, o dólar provavelmente despencará, impulsionando o ouro.
Incerteza na Opep e covid-19 pesam sobre a perspectiva do petróleo
No mercado petrolífero, o jogo psicológico da Opep pesou sobre o sentimento. Em julho, o grupo anunciou recuos na política de produção diante de uma deterioração constante na demanda. Nem a Arábia Saudita, que domina o grupo, nem a Rússia, sua maior aliada, deixaram claro se as mudanças foram anuladas ou simplesmente adiadas até o fim do ano.
O barril de West Texas Intermediate negociado em Nova York, principal indicador do preço do petróleo nos EUA, registrava queda de 71 centavos, ou 1,8%, a US$ 39,14. Na semana passada, o WTI se desvalorizou 2,5%.
Já o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência mundial para o petróleo, subia 69 centavos, ou 1,6%, a US$ 41,38. Na semana passada, o Brent se desvalorizou 2,7%.
Para piorar a perspectiva no petróleo, saiu a notícia de que as infecções por coronavírus nos EUA aceleraram no fim de semana, com os casos atingindo novo recorde diário de mais de 83.000. O surto também subiu na França, atingindo mais de 50.000 casos no domingo.
Pelo lado da oferta, a Reuters noticiou que a petrolífera estatal da Líbia, a National Oil Corp, encerrou a situação de força maior em dois portos estratégicos de exportação e afirmou que extrairia 1 milhão de barris por dia em quatro semanas, a um ritmo mais rápido do que se pensava.
“A recente disparada de casos de covid-19 e outras iniciativas de restrição em partes da Europa estão pesando sobre o sentimento, diante da preocupação com o que isso significa para a demanda”, afirmou a ING Economics em nota. “Para piorar, temos o fato de que a Líbia parece estar voltando a ofertar seu produto ao mercado mais rápido do se esperava”.
Aviso de isenção: Barani Krishnan não possui posições nas commodities ou investimentos sobre os quais escreve.