Os mercados iniciam uma nova semana de outubro com o Goldman Sachs alertando que cortou suas previsões de crescimento para os EUA neste ano e no próximo, culpando a lenta recuperação dos gastos dos consumidores no país, enquanto os preços do petróleo saltavam sem trégua e o ouro continuava anêmico, apesar de ser uma proteção contra a inflação.
O economista-chefe do Goldman, Jan Hatzius, afirmou, em nota, no domingo, que o banco de Wall Street esperava um crescimento de 5,6% nos EUA neste ano, contra estimativas prévias de 5,7%. Oficialmente, a economia americana expandiu-se a uma taxa anualizada de 6,7% no 2º tri de 2021.
Para todo o ano de 2022, o Goldman prevê um crescimento de 4%, uma queda em relação à expectativa anterior de 4,4%.
Hatzius e sua equipe no Goldman citaram a pressão de queda nos gastos dos consumidores, fortemente ligados à inflação, como razão para o corte:
“Depois de atualizarmos nossas estimativas dos principais vetores de crescimento da nossa previsão de consumo – reabertura, estímulo fiscal, poupança reprimida e efeitos sanitários –, incorporamos um efeito mais duradouro do vírus em gastos com serviços de consumo mais sensíveis, de forma que agora esperamos uma recuperação mais lenta do gasto dos consumidores”.
Essa reavaliação, em conjunto com a crença de que a oferta de semicondutores não melhorará até a segunda metade do próximo ano e de que a recomposição de estoques será postergada, gera uma “recuperação menos carregada no início do que havíamos previsto”, disse o Goldman em nota.
Segundo alerta em semanas sobre a desaceleração dos gastos dos consumidores nos EUA
O alerta do Goldman veio depois que a Universidade de Michigan afirmou, em sua pesquisa de consumo de setembro, que os consumidores americanos tendiam a atrasar compras sempre que possível, devido ao medo de desaceleração do crescimento e da maior inflação. Os consumidores respondem por 70% do PIB dos EUA.
A expectativa é que o Departamento do Trabalho anuncie, na quarta-feira, que o índice de preços aos consumidores em setembro registrou o mesmo ritmo de crescimento mensal de agosto, de 0,3%, e o ganho anual de 5,3%.
As vendas no varejo em setembro, previstas para quinta-feira, devem registrar queda de 0,2%, após um repique de 0,7% em agosto.
Na quinta-feira, também será divulgada a inflação de preços ao produtor (IPP) em setembro.
O petróleo iniciou o pregão de segunda-feira na Ásia em alta pelo quarto dia consecutivo, com o barril americano atingindo a máxima de sete anos, acima de US$81, enquanto o Brent girava em torno de US$84.
O rali nos preços do petróleo seguia firme, apesar de o vice-ministro de energia da Rússia, Pavel Sorokin, alertar que a Opep+ não permitiria um superaquecimento do mercado, já que isso poderia destruir a demanda. Sorokin disse ainda que o mercado estava equilibrado com o barril na faixa de US$45 A US$60.
O presidente russo, Vladimir Putin, também tentou conter a disparada dos preços do gás natural, na semana passada, sugerindo que Moscou poderia elevar as entradas até níveis recordes. O vice-primeiro ministro, Alexander Novak, deu a entender que uma forma de alcançar esse objetivo seria obter uma rápida certificação do controverso gasoduto Nord Stream 2 pela União Europeia, o qual pode transportar gás através do Mar Báltico diretamente para a Alemanha, evitando o trânsito por todos os países intermediários.
Rússia precisa ser mais "veemente" na Opep+
Julian Lee, analista de petróleo da Bloomberg, ressaltou, em sua coluna do domingo, que Novak evitou fazer qualquer menção à inflação do petróleo, tal como fez Sorokin.
Ele “deveria ter defendido esse ponto com mais veemência na reunião de segunda-feira da Opep+”, afirmou Lee, referindo-se a Novak, segundo homem mais poderoso nas reuniões virtuais mensais da Opep+, que reúne os 13 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, sob a liderança a Arábia Saudita, além de 10 países produtores aliados sob os auspícios da Rússia.
Diante da aceleração da inflação, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) também pode começar a reduzir seu programa de compras de ativos, enquanto outros bancos centrais na Noruega, Brasil, México, Coreia do Sul e Nova Zelândia já estão subindo juros.
O Fed divulgará a ata da sua reunião de setembro na quarta-feira, em meio a expectativas de que começará a fazer o tapering, isto é, a redução das compras mensais de ativos de US$120 bilhões, antes do fim deste ano, um importante passo para uma eventual elevação de juros.
Na sexta-feira, o relatório de empregos de setembro aquém das expectativas mostrou que a economia americana criou apenas 194.000 postos de trabalho no mês passado. Isso em si contribuiu pouco para alterar as expectativas de que o Fed pode começar a retirar seus estímulos até o fim do ano.
Jerome Powell, presidente do banco central americano, disse, no mês passado, que só precisava ver um relatório de empregos “decente” em setembro para se preparar para o tapering em novembro.
Mais pressão sobre o ouro caso o Fed endureça discurso sobre tapering na ata de setembro
Se a linguagem do Fed na ata de setembro sugerir um recuou mais agressivo do estímulo do banco central em relação à expectativa dos investidores, o efeito seria particularmente brutal sobre o ouro, que já sofreu sua pior queda em três meses (3.4%) em junho.
O ouro estava cotado a um pouco menos de US$1760 no pregão asiático desta segunda-feira.
Mas analistas do ABN Amro disseram que esperavam que o metal ficasse a US$1700 até o fim deste ano e a US$1500 até o fim de 2022, se os títulos americanos e o dólar continuassem disparando e, com isso, reduzindo a atratividade do metal.
O rendimento da nota referencial do Tesouro americano de 10 anos voltou a ficar acima do elevado nível de 1,6% na segunda-feira, enquanto o Índice Dólar, que compara a moeda americana a uma cesta de seis outras importantes divisas internacionais, com destaque para o euro, firmava-se acima o patamar-chave de 94.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.