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Commodities: Ouro Corrige Novamente, com Mudança Repentina do Fed

Publicado 02.07.2021, 13:47
Atualizado 09.07.2023, 07:31
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Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com

  • Ouro falhou no nível de US$1900
  • Fed “apertou” a política monetária sem fazer um aperto monetário em 16 de junho
  • Perspectiva de juros maiores pesa sobre o ouro
  • Uma mudança de “transitório” para “temporário” não muda a tendência
  • Basileia III pode dar suporte ao ouro – Comprar em correções é uma das estratégias que geraram mais resultados por mais de duas décadas

Nesta mesma época do ano passado, o ouro fechava o segundo trimestre de 2020 a US$1798,10 por onça. No 3º tri de 2021, seu preço atingiu a máxima recorde de US$2063. O primeiro semestre de 2021 encerrou na quarta-feira, 30 de junho, e o metal amarelo estava um pouco acima de US$1770 por onça, não tão abaixo do nível ano a ano. O preço do ouro se valorizou em bases trimestrais, fechando a US$1706,60 no mercado futuro, com o contrato mais ativo sendo negociado a US$1713,80 em 31 de março de 2020.

O ouro subiu de forma constante desde o fim de março até superar o nível de US$1900 no fim de maio e início de junho. O sentimento altista crescia até o preço perder o patamar de US$1900 há alguns dias, antes da reunião de junho do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). Ele evaporou após o último relatório do banco central sobre a economia e uma repentina mudança em seu tom sobre o futuro da política monetária americana.

O ouro é uma moeda e uma commodity. O metal amarelo tem uma função única no sistema financeiro mundial que é do interesse de pelo menos três segmentos. As propriedades do ouro o tornam um metal industrial com uma variedade de aplicações. As pessoas cobiçam o ouro e o utilizam em joias, ornamentos e também para reserva de valor. Os bancos centrais validam a função do ouro como moeda, já que o mantêm como parte integrante das suas reservas de câmbio internacional. O ouro tem uma longa história, que remonta à Antiguidade.

Mas seu valor se depreciou após a reunião do Fed de junho. Esse movimento resultou diretamente da interpretação do mercado de que o banco central americano havia mudado de atitude.

Ouro falhou no nível de US$1900

O ouro futuro na Comex para agosto superou o nível de US$ 1900 no dia 25 de maio após tocar a mínima abaixo de US$ 1680 em março. O ouro voltou a subir ao longo dos meses de abril e maio. O nível de US$1900 se tornou um ponto de pivô para o metal precioso, atingindo a máxima de US$1191,20 em 1 de junho. Em 11 de junho, menos de uma semana antes da reunião do Fomc de junho, o ouro derrapou abaixo do nível de US$1900. E não voltou mais.

Ouro Diário (Fonte: CQG)

O gráfico diário mostra o declínio no preço do ouro que acelerou a queda em 16 de junho, após a reunião do Fomc. Até agora, o ouro atingiu a mínima de US$1750,10 em 29, de junho e estava um pouco acima do nível de US$1770 em 30 de junho, não tão distante da mínima mais recente. O ouro não desafiou o fundo de março, porém a tendência de curto prazo continuava baixista no fim de junho.

As posições em aberto na compra e na venda do ouro futuro eram de 453.360 em 29 de junho e caíram de 533.343 em 21 de maio, quando o metal estava em direção ao nível de US$1900. O declínio de 15% na métrica pode não ser uma validação técnica de uma emergente tendência de baixa no mercado futuro, mas significa uma longa liquidação dos investidores frustrados ao longo das últimas semanas.

Os indicadores de momentum de preços diários e de força relativa estavam perto de condições sobrevendidas no fim de junho. A volatilidade histórica diária acima do nível de 14% era maior do que quando o ouro estava na sua máxima mais recente. A variação de preços do ouro tende a se elevar quando sua cotação está em tendência de baixa.

Fed “apertou” a política monetária sem fazer um aperto monetário em 16 de junho

Em 16 de junho, a declaração do Fed foi benigna. O banco central deixou a taxa de juros inalterada na faixa de 0 a 25 pontos-base. Não chegou a alterar seu programa de flexibilização quantitativa, dizendo que seguirá comprando US$120 bilhões em títulos de dívida a cada mês. O banco central elevou sua previsão de PIB de 6,5% para 7% em 2021. Também elevou suas expectativas de inflação de 2,5% para 3,4% neste ano. O Fed elevou a taxa de recompra de ativos em cinco pontos-base, uma leve alta.

Sete membros do Fomc disseram que previam uma elevação das taxas no horizonte em 2020, com dois membros votantes esperando duas elevações de juros. O Fed “apertou” a política monetária com sua declaração e retórica, mesmo sem qualquer mudança substancial na política monetária da reunião de 16 de junho.

Perspectiva de juros maiores pesa sobre o ouro

A perspectiva de juros maiores pesou sobre os preços do ouro. Depois de abrir um pouco acima de US$1860 em 16 de junho no mercado futuro, seu preço caiu cerca de US$100 até 18 de junho.

A perspectiva de juros maiores nos EUA fez o ouro cair porque aumenta o custo de carregar uma posição comprada no metal. O ouro compete com outras classes de ativos em termos de fluxos de investimento. A elevação dos juros torna os títulos de dívida mais atraentes do que o metal precioso. Os juros maiores nos EUA também aumentam a função do dólar como moeda de reserva. Com a moeda americana rendendo mais, quem sofre é o preço do ouro. A valorização do dólar historicamente é baixista para o metal amarelo.

Uma mudança de “transitório” para “temporário” não muda a tendência

O Fed chamou a alta das pressões inflacionárias de “transitórias", enquanto os preços do cobre, madeira e paládio atingiam máximas recordes em maio. Os grãos e diversas outras commodities atingiram máximas plurianuais. Os preços da energia continuam em disparada, e o ouro havia superado US$1900 antes da atual liquidação. A inflação de ativos não se limita aos preços das matérias-primas. O mercado imobiliário está em alta. O Índice Case Shiller de preços de imóveis atingiu a máxima histórica em maio. O mercado acionário está nas máximas recordes.

Em outra mudança sutil, o banco central alterou “transitório” para “temporário” para caracterizar as pressões inflacionárias.

A mudança de retórica pode ser sutil, mas, se o Fed mudou de visão, pode fazê-lo novamente, e pressões “moderadas” de inflação podem estar no horizonte nos próximos meses. A retórica não muda a tendência. Os preços estão subindo, o que não surpreende em vista do tsunami de liquidez monetária e estímulos fiscais desde o início da pandemia em 2020.

Basileia III pode dar suporte ao ouro – Comprar em correções é uma das estratégias que geraram mais resultados por mais de duas décadas

Basileia III, que entrou em vigor em 28 de junho de 2021, classifica o ouro físico alocado como uma classe de ativos de nível 1 na mesma categoria que dinheiro. Os saldos de ouro não alocados receberão o valor de 85% do metal alocado. Segurar ouro em papel, na forma de saldos não alocados em agentes independentes ou fundos como GLD terão uma classificação menor. Basileia III pode aumentar a demanda por barras e moedas de ouro. Yogi Berra disse certa vez que “eles lhe dão caixa, que é tão bom quanto dinheiro”. O fato de o ouro estar no nível mais alto de Basileia III pode aumentar o valor do metal, na medida em que os bancos centrais e instituições financeiras têm razões maiores para comprar e segurar o metal como parte integrante das suas reservas.

Há mais de duas décadas, comprar o ouro em correções tem gerado excelentes resultados.

Ouro Trimestral (Fonte: CQG)

O gráfico trimestral de longo prazo ilustra que, desde que o ouro tocou o fundo em US$ 252,50 em 1999, vem registrando máximas e mínimas ascendentes. A tendência é sempre sua melhor amiga nos mercados e, no ouro, ela é de alta.

O Fed pode ter afetado o ouro no curto prazo com sua retórica, mas o banco central está emparedado quando o assunto é pressões inflacionárias maiores. O ouro é um barômetro da inflação, com muitos mercados gritando que a inflação está subindo. A expectativa é que o ouro registre nova mínima mais alta e inclusive toque novas máximas na continuação da tendência iniciada no fim do século passado.

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