Publicado originalmente em inglês em 01/03/2021
Há uma semana, nesta coluna, alertamos para o fato de que os preços do ouro e petróleo haviam atingido pontos de inflexão, após a derrocada do dólar e os estragos da nevasca que atingiu a produção de óleo e gás no Texas.
Ambos os eventos ficaram para trás e, em seu lugar, surgiram novos riscos que nos levam a fazer um alerta de Pontos de Inflexão 2.0.
Esta semana reserva grandes volumes de negociações e possivelmente alta volatilidade nos principais ativos dos mercados de energia e metais preciosos.
Isso ocorre no momento em que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, prepara-se para falar sobre a economia, o Departamento de Trabalho divulga os números de emprego em fevereiro nos EUA e a Opep+ realiza mais uma reunião que pode ser crucial para os preços do petróleo.
No caso do ouro, o pronunciamento de Powell em um evento online realizado pelo Wall Street Journal na quinta-feira, assim como os números de emprego a serem divulgados na sexta serão essenciais. Powell está tentando garantir aos mercados que o Fed tem a inflação sob controle, independente das convicções dos investidores. Para os dados do mercado de trabalho em fevereiro, a expectativa é que sejam criados 165.000 empregos, acima da expansão de 49.000 em janeiro.
Os dois eventos ocorrem enquanto os investidores do ouro tentam alcançar os níveis intermediários de US$ 1.700, quem sabe rompendo a marca de 1.800, já que a alta dos rendimentos dos títulos americanos na semana passada gerou condições sobrevendidas no metal.
Ouro imerso na confusão da inflação
Em meio a todos os rumores de mercado, o ouro parece estar imerso em uma confusão sem fim.
Essa confusão está sendo gerada pelos bancos de Wall Street que fazem de tudo para tentar explicar porque um ativo que há décadas é considerado como proteção No. 1 contra a inflação e a desvalorização do dólar não para de derreter a cada semana, mesmo com os Estados Unidos imprimindo trilhões e trilhões de dólares para combater o coronavírus.
A teoria propagada na semana passada é que a inflação atual é de custos, e não do tipo “aderente” que corrói a economia, de acordo com Jeffrey Halley, diretor da corretora OANDA para o mercado Ásia-Pacífico.
Nesse ambiente, as altas de preço começam a aparecer após um ano no Índice de Preços ao Consumidor e refletem a expansão da economia, enquanto a inflação perigosa, ligada a salários e espiral de preços, continua minguada, segundo Halley, ao tentar esclarecer a versão refinada de Wall Street.
Ao ficarem fixados de maneira míope a esse tipo de inflação, os investidores se aferram a uma explosão de demanda com a reabertura das economias desenvolvidas durante a vacinação, de acordo com Halley. Ele disse ainda:
“O fato é que os dados mostraram um aumento na demanda até agora, apesar das paredes erigidas pela pandemia em todo o mundo".
Mas é possível argumentar que quem operou vendido no ouro ultimamente também demonstrou certa miopia diante de alguns dados divulgados.
Pegue, por exemplo, o derretimento do metal na semana passada, que começou após os dados evidenciarem uma queda semanal de 13% nos pedidos de seguro-desemprego nos EUA, atingindo a mínima de três meses. Dois fatores de fundo, aos quais o mercado deu pouca atenção, explicam a queda nessa métrica: as nevascas que podem ter prejudicado os pedidos e investidores sobre fraudes nas entradas registradas no estado de Ohio.
Se os números da próxima semana forem ajustados por causa desses dois eventos, a retomada dos pedidos que deixaram de ser feitos pela crise climática pode ficar acima da possível fraude em Ohio. O ouro, nesse caso, seria literalmente vendido por quem tem uma visão curta da economia.
Até agora, o Fed mostrou pouca ansiedade para tentar acalmar a alta galopante nos rendimentos dos treasuries. Powell reiterou na semana passada que a política monetária continuará frouxa por algum tempo.
Na madrugada desta segunda, o ouro com entrega em abril na COMEX de Nova York registrava alta de US$ 24,60, ou 1,4%, a US$ 1.753,40 por onça. O metal fechou em queda de 2,6% na sexta, após despencar para US$ 1.715,05, seu menor nível desde junho. O pior de tudo é que sua desvalorização em todo o mês de fevereiro foi de 6,6%, a maior desde 2016.
O ouro spot, que reflete as negociações em tempo real em lingotes, subia US$ 20,08, ou 1,2%, a US$ 1.754,48.
Ouro pode tentar buscar US$ 1.800
O repique pode superar 1.800 – ou reverter a direção e retestar o nível intermediário de 1.700 – segundo Sunil Kumar Dixit, de Kolkata, Índia.
O analista explica:
“Desde que o ouro spot fique acima de US$ 1709, o movimento de alta deve buscar a MME de 10 dias a 1.771 e depois a MMS de 20 dias a 1.796, quem sabe a MME de 50 dias a 1.820. Se os preços se sustentarem acima da MME de 50 dias, o ouro spot pode escalar até a MMS de 100 dias a 1.848 e a MMS de 200 dias a 1.882.”
Pelo lado da baixa, Dixit alerta o seguinte:
“O ouro pode ficar mais fraco se os vendedores voltarem a castigar o mercado abaixo de 1.709. Dessa forma, os níveis a 1.650-1.640 podem ser expostos”.
Os mercados ainda aguardam o próximo teste do pacote de estímulo do presidente Joseph Biden no Senado após sua aprovação na Câmara, o que faz o ouro ficar em um ponto de inflexão.
O petróleo enfrenta teste na reunião da Opep
Os mercados de petróleo estão, enquanto isso, em uma posição precária, após registrarem o quarto mês seguido de valorização em fevereiro.
O barril de West Texas Intermediate negociado em Nova York subia US$ 1,13, ou 1,8%, a US$ 62,63. Na sexta, caiu 3,2%, mas voltou a subir 4% na semana passada. Em fevereiro, sua valorização foi de quase 18%, ampliando os avanços em torno de 8% em janeiro, 7% em dezembro e 27% em novembro.
Nos atuais preços, o WTI também está sendo negociado em níveis vistos pela última vez em janeiro de 2020, antes da aparição da pandemia que dizimou o mercado por meses.
Já o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência mundial para o petróleo, subia US$ 1,19 , ou 1,8%, a US$ 65,61. Na sexta, caiu 3,7%, mas voltou a subir 2,5% na semana passada. Em fevereiro, o Brent subiu 15%, estendendo os ganhos de 8% em janeiro, 9% em dezembro e 27% em novembro. Além disso, atingiu a máxima de 13 meses a US$ 66,81 em fevereiro.
A Opep+, aliança de produtores de petróleo sob a liderança da Arábia Saudita e da Rússia, irá se reunir na quinta-feira para definir as cotas de abril. A reunião anterior se encerrou com o compromisso de permitir que a Rússia e o Cazaquistão elevassem sua oferta, enquanto a Arábia Saudita compensaria o aumento líquido com um corte temporário de 1 milhão de barris por dia.
O reino prometeu realizar essas restrições adicionais apenas em fevereiro e março, mas alguns veem sinais de que isso pode mudar com o andamento das negociações.
A Bloomberg noticiou no início da semana que Riad estava publicamente solicitando aos membros do cartel que fosse “extremamente cautelosos”, apesar de os preços do petróleo se recuperarem até a máxima de um ano. Nos bastidores, o reino sinalizou que preferiria que o grupo mantivesse a oferta estável, segundo delegados. Moscou, por outro lado, indica que ainda quer avançar com um aumento de produção.
Mas alguns analistas, como Patrick de Haan, do portal GasBuddy, estão otimistas que os preços do petróleo vão resistir à reunião da Opep:
“Para interromper e potencialmente reverter a alta meteórica do petróleo, seria necessário um aumento de vários milhões de barris para fazê-lo voltar a US$ 50. Com a recuperação da demanda, tudo indica que o mercado provavelmente irá consumir mais de 2 mbpd".
“Qualquer coisa abaixo de 1 é muito baixo."
Fontes da Opep+ consideram que um aumento de 500.000 barris por dia seja factível sem causar um acúmulo de estoques, enquanto as economias se recuperam.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. Como analista do Investing.com, ele apresenta visões distintas e variantes divergentes de mercado. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.