Publicado originalmente em inglês em 07/12/2020
O rali no petróleo já está minguando?
A quinta semana consecutiva de ganhos no petróleo pode significar uma alta limitada daqui para frente, apesar do contínuo otimismo com a narrativa das vacinas contra a covid-19.
Na janela asiática de negociação nesta segunda-feira, o petróleo americano West Texas Intermediate e o britânico Brent derrapavam 0,4% à medida que os casos de coronavírus disparavam no mundo, gerando uma série de novos bloqueios nos EUA, como no sul da Califórnia.
Esse foi outro sinal de que o petróleo estava enfrentando dificuldades para estender a corrida de alta iniciada em 9 de dezembro, após três fabricantes de vacinas para a covid-19, lideradas pela Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34), indicarem que as doses dos seus imunizantes estariam disponíveis já nesta semana.
Além dos bloqueios, os investidores do petróleo também precisam lidar com outro problema constante: a Opep.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo, cujo objetivo é oferecer os melhores preços e oportunidades de mercado para seus membros, nem sempre atende às expectativas dos investidores.
Quando o faz – como na semana passada, quando concordou em elevar a produção em apenas 500.000 barris por dia (bpd) a partir de janeiro, em vez de 2 milhões de bpd – a Opep consegue agir de forma a merecer aplausos.
Mas o cartel também consegue desapontar nos momentos mais importantes. E o desapontamento pode vir de qualquer um dos 13 membros da organização liderada pela Arábia Saudita ou da Opep+, aliança mais ampla que inclui 10 aliados sob os auspícios da Rússia.
É praticamente impossível esquecer do enfrentamento entre sauditas e russos, responsável pelo crash do mercado em março, quando o WTI atingiu sua primeira cotação negativa de –US$40 por barril.
No mais recente caso, pouco tempo depois de a Opep ficar com o mercado ao seu lado após o anúncio de elevação gradual da produção na quinta-feira, surgiram rumores no fim de semana de que o Irã, membro fundador do grupo, provavelmente atingiria sua capacidade máxima de produção no ano-novo.
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A Reuters, citando um veículo de imprensa iraniano, informou, no domingo, que Teerã havia orientado seu ministro do petróleo a preparar as instalações para produzir e vender petróleo a toda capacidade em três meses, antes de uma possível flexibilização das sanções dos EUA, após o presidente eleito Joseph Biden assumir o posto em 20 de janeiro.
A reportagem sugere que o presidente Hassan Rouhani deseja fazer com que a produção do seu país retorne ao nível de 2 milhões de bpd em 2018, antes de o governo Trump deixar o acordo nuclear envolvendo seis nações junto com Teerã e reimpor sanções que atingiram duro sua economia.
Estão surgindo muitas especulações de uma iminente volta do petróleo iraniano ao mercado devido à presidência de Biden.
O mais surpreendente, no entanto, foi a tácita aprovação iraniana, na semana passada, da modesta elevação de produção da Opep+, mesmo trabalhando nos bastidores para produzir como se não houvesse amanhã.
Como venho indagando em minhas últimas publicações – ainda assustado com o jogo psicológico travado entre os iranianos e seus rivais tão ou mais habilidosos da Arábia Saudita – por que alguém acreditaria na Opep?
Nas seis décadas de sua existência, o cartel construiu um histórico de prometer muito e cumprir pouco, apesar da sua melhor adesão de todos os tempos aos cortes de produção forçados pelo coronavírus nos últimos seis meses.
Se o Irã de fato ludibriar os sauditas, não será a primeira nem a última vez em que um membro da Opep diz uma coisa e faz outra.
Além disso, a República Islâmica tampouco pode ser condenada por sua aparente desonestidade, já que os sauditas não viram problemas em permitir que o regime Trump causasse o “máximo de dor” a Teerã nos últimos dois anos, sem se preocupar com a economia de um membro em condições de igualdade no grupo.
No mercado de metais preciosos, o ouro registrou apenas uma semana de ganhos, mas é possível que estenda sua corrida.
No pregão desta segunda-feira na Ásia, o ouro com entrega em fevereiro na COMEX de Nova York girava em torno de quase US$ 1.845 por onça, subindo US$ 4, ou 0,2%.
Alguns analistas acreditam que o caso mais otimista para o metal amarelo é agora um rompimento de US$ 1.880. Para isso, tudo dependerá de como os investidores responderão à narrativa de estímulo econômico do governo Biden.
Na sexta-feira, Biden pediu um estímulo de “centenas de bilhões de dólares” para impulsionar a economia norte-americana em 2021. Senadores republicanos, que deram o seu melhor para restringir os gastos relacionados à covid-19 após os primeiros US$ 3 trilhões aprovados a lei CARES de auxílio contra o coronavírus, em março, parecem estar dispostos em selar um acordo bipartidário de US$ 908 bilhões.
Não devemos nos esquecer de que foi a lei CARES e as subsequentes promessas – não realizadas – de estímulo que fizeram o ouro atingir máximas recordes acima de US$ 2.000 em março. Um alívio econômico maior e o enfraquecimento do dólar podem ser o que o metal amarelo mais precisa agora para rejuvenescer.
Além das ações do governo Biden fizer, o Federal Reserve também está planejando mergulhar fundo na compra de títulos após ver os decepcionantes números do mercado de trabalho em novembro, quando foram criados 245,000 postos de trabalho, contra expectativas de 470.000.
“Os bloqueios da covid e as medidas restritivas podem gerar temores permanentes no mercado de trabalho, o que deve manter a política ultra-acomodatícia do Fed”, afirmou Ed Moya, estrategista-chefe de mercado da OANDA, em Nova York, na sexta-feira.
Mesmo assim, para o ouro, existem argumentos de que o metal atingiu a parede entre US$ 1.835 e 1.850, depois de disparar desde US$ 1.770.
Além disso, outras duas coisas precisam permanecer depreciadas para o ouro subir: o dólar, que atingiu as mínimas plurianuais, e os rendimentos dos treasuries.
Se uma rotação de ativos acontecer, o dinheiro pode sair das ações sobrecompradas – inclusive o ouro – e ir para os títulos do tesouro americano.
“O comportamento do ouro mostra sua disposição de cruzar a marca de US$ 1.900, mas, ao mesmo tempo, fatores técnicos recomendam cautela”, afirmou Sunil Kumar Dixit, da SK Dixit Charting, de Kolkata, Índia.
“Como era esperado, o metal precioso está enfrentando forte resistência a US$ 1.848 e a negatividade do IFR (Índice de Força Relativa) Estocástico pode provocar alguma correção intradiária para US$ 1.830-1.818. Os compradores podem aparecer no caso de um teste das áreas de US$ 1.818-1.820, além de que uma consolidação pode ajudar o ouro a disparar novamente, rompendo US$ 1.848 em direção a US$ 1.866-1.870.”