O presidente dos EUA, Donald Trump, mais uma vez provou que é o maior desestabilizador dos mercados de petróleo, com seu vaivém de última hora sobre as tarifas contra o México, que pode prolongar o rali de recuperação do petróleo da semana passada.
Já no front dos metais preciosos, a expectativa é que o ouro continue sua ascensão até atingir seu próximo alvo a US$ 1.400 por onça, diante das apostas de que o Federal Reserve preparará o terreno para realizar cortes de juros em sua reunião de 18-19 de junho. Um afrouxamento do Fed enfraquecerá o dólar estadunidense e impulsionará alternativas à divisa norte-americana, principalmente o ouro e outras commodities passíveis de investimento, como o petróleo.
Petróleo sai do mercado de baixa... Por enquanto
O recuo de Trump em relação à sua ameaça de impor tarifas graduais de 5% a 25% ao México, a partir desta segunda-feira, elimina um dos principais obstáculos do petróleo, permitindo que seus preços saiam do mercado de baixa para o qual foram empurrados.
O petróleo norte-americano West Texas Intermediate e o britânico Brent chegaram a se desvalorizar mais de 20% em relação às máximas de 2019, atingidas em abril, por causa de preocupações com o fato de que as tarifas mexicanas poderiam prejudicar gravemente os negócios nos EUA. O México exporta componentes automotivos, televisões, vestuário, álcool, produtos agrícolas e combustível para os EUA em negociações diárias que somam US$ 1,7 bilhão.
Até quinta-feira à noite, Trump sustentava que as tarifas eram firmes, demonstrando não estar convencido com a promessa do México de tentar interromper o fluxo de drogas e imigrantes ilegais do seu lado da fronteira com os EUA – sua pré-condição para colocar fim à ação.
Mas, diante da possibilidade de uma recessão mundial provocada pela guerra comercial EUA-China e do alerta de membros do seu próprio partido Republicano e da sua equipe de que ele poderia prejudicar um importante mercado com as novas tarifas, Trump recuou na sexta-feira e aceitou as promessas do México. O New York Times informou que o novo acordo de imigração com o México, comemorado por Trump no domingo, consistia em grande de ações já prometidas há vários meses.
Há mais de um ano, a maioria das ações e políticas de Trump relacionadas ao petróleo tem favorecido os ursos do setor – um resultado não muito surpreendente, já que ele acredita que os preços altos da gasolina nas bombas podem prejudicar sua campanha de reeleição em 2020. O intenso desgosto do presidente pela Opep e sua influência nos preços do petróleo também tem provocado enfrentamentos entre ele e o cartel, na forma de tuítes para pressionar o mercado.
Trump teria outro plano para derrubar o petróleo?
Ainda não se sabe se Trump poderia tentar fazer o mercado cair de novo, depois da trégua declarada ao México e da valorização do petróleo, que já recuperou 7% desde a sua pior queda na quarta-feira e pode continuar subindo por causa da elevação do tom da Opep a favor dos cortes de produção. Ele ainda tem a guerra comercial com a China que ainda paira sobre a economia mundial. Economistas dizem que, se as tarifas forem ampliadas para todo o comércio entre os dois países e os mercados despencarem em resposta, o PIB mundial poderia sofrer um impacto de US$ 600 bilhões em 2021, quando ocorreria o pico do impacto.
A outra carta na manga do presidente, por assim dizer, seria firmar um acordo com o Irã. Além dos tuítes atacando a Opep, outra grande arma de Trump para desestabilizar o mercado petrolífero tem sido suas sanções ao Irã, que contribuíram para a restrição na oferta mundial de petróleo. A ofensiva de Trump contra Teerã, sem falar nas sanções dos EUA contra a Venezuela, tem sido um dos seus poucos e surpreendentes presentes aos touros do petróleo, impulsionando o rali do produto no início deste ano.
Irã e dados da EIA podem trazer volatilidade ao petróleo
Embora tenha adotado uma postura bastante hostil contra o Irã, o presidente também disse que está aberto a um novo acordo nuclear com a República Islâmica, que pode ser forçada a aceitar sua oferta por conta das suas dificuldades econômicas. Se isso de fato for anunciado, as exportações petrolíferas iranianas, que estão abaixo de 1,5 milhão de barris por dia (bpd), podem alcançar os níveis pré-sanções de cerca de 2,5 milhões de bpd. Isso poderia frustrar as tentativas da Opep, que ironicamente inclui o Irã, de elevar os preços por meio da restrição no abastecimento.
O outro fator imprevisível, evidentemente, é o conjunto de dados semanais da Energy Information Administration, dos EUA, que vem surpreendendo o mercado com números elevados de estoque de petróleo, gasolina e destilados há quatro semanas. Os estoques petrolíferos, em particular, subiram quase 44 milhões de barris desde meados de março, com as refinarias operando abaixo do padrão de 95% de capacidade para esta época do ano. Analistas que geralmente são altistas para o petróleo expressaram sua descrença nos números da EIA, chegando inclusive a criticar a agência por realizar “ajustes e estimativas com muitas falhas” . É preciso esperar para ver se os dados da EIA confirmarão a tendência nesta semana.
No ouro, o lingote e os futuros do metal amarelo dispararam pelo oitavo dia seguido até as máximas de 14 meses, na sexta-feira, impulsionados por apostas de que o Federal Reserve poderia cortar as taxas de juros depois de dados de emprego nada empolgantes em maio.
Teste dos US$ 1.400 do ouro dependerá da linguagem do Fed
Na semana passada, o presidente do Fed, James Powell, garantiu aos mercados que o banco central fará o que for necessário para proteger a economia dos EUA contra uma recessão provocada por guerras comerciais e preservar quase uma década de crescimento recorde.
O ouro se valorizou cerca de US$ 70, ou quase 6%, desde o último fechamento negativo, no dia 28 de maio. O ouro spot, que reflete as negociações em lingote, atingiu a máxima de 2018 a US$ 1.348,34 na semana passada. Os futuros de ouro para entrega em agosto atingiram o pico de fevereiro, a US$ 1.352,55.
A maioria dos especialistas em ouro acredita que os futuros do metal atingirão US$ 1.400 até 19 de junho, quando o Fed deverá publicar sua próxima declaração de política após sua reunião mensal. Embora não haja expectativa de que o banco central decidirá cortar a taxa de juros imediatamente nessa rodada, os traders acompanharão de perto a linguagem da declaração, a fim de avaliar se adota um tom mais ameno e se poderia haver um afrouxamento nos próximos meses.
Os mercados futuros de fundos federais estão precificando um corte de meio ponto neste ano e outros 40 pontos-base (iguais a 0,40%) em 2020.