Promessas e mais promessas: o G20 se reuniu no sábado com a presença do presidente dos EUA, Donald Trump, e do líder da China, Xi Jinping, que concordaram em firmar, em uma data posterior, um pacto comercial entre EUA e China que instantaneamente livraria Pequim de mais tarifas de Washington, enquanto a Arábia Saudita e a Rússia concordaram com a necessidade de cortes de produção de petróleo. Esses dois eventos, ao que tudo indica, parecem ser positivos para as commodities.
Mas, indo além das aparências, muitas questões podem surgir.
É seguro dizer que os EUA vão subir as tarifas sobre as importações chinesas daqui a três meses se Pequim não abrir seus mercados como prometido? Trump com certeza ameaça aumentar a atual taxa de 10% sobre as tarifas chinesas para 25% “se o esforço de negociação falhar nos próximos 90 dias”.
E será mesmo que a China vai comprar “uma quantidade bastante considerável de produtos agrícolas, energéticos, industriais, entre outros, dos Estados Unidos para reduzir o desequilíbrio comercial”, como anunciou a Casa Branca após a conversa ocorrida durante o jantar às margens do G20 pelos presidentes Trump e Xi? Essa é uma pergunta extremamente relevante, uma vez que a China, em seu próprio anúncio, não menciona quaisquer produtos específicos, agenda ou quantidades de dólares nos chamados compromissos citados pelos Estados Unidos (abaixo está a comparação entre as declarações dos EUA e da China).
Tabela 1. Declarações dos EUA e China após jantar no G20 |
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China (link para informe à imprensa) |
EUA (link para declaração oficial) |
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Tarifas |
Ambos os lados concordam em interromper a imposição de novas tarifas, ou seja, as tarifas sobre USD 200 bilhões de mercadorias chinesas não serão elevadas de 10% para 25% no dia 1 de janeiro de 2019. |
Trump concorda em deixar inalterada a tarifa de 10% sobre USD 200 bilhões de produtos chineses e não a elevará para 25% em 1 de janeiro de 2019. Mas se o esforço de negociação falhar nos próximos 90 dias, as tarifas de 10% serão elevadas para 25%. |
Importações |
A China está disposta a importar mais mercadorias dos EUA com base nas necessidades da sua população e a solucionar gradativamente o desequilíbrio comercial. |
A China concorda em adquirir futuramente uma quantidade ainda não definida, mas bastante substancial, de produtos agrícolas, energéticos, industriais, entre outros, dos EUA, a fim de reduzir o desequilíbrio comercial. |
Outros |
Ambos os países concordam em abrir seus mercados domésticos. Eles vão acelerar as negociações para retirar todas as tarifas que foram impostas. Ambos os países podem realizar visitas mútuas oportunamente. |
Os presidentes Xi e Trump concordaram em iniciar imediatamente negociações sobre mudanças estruturais relacionadas a transferência forçada de tecnologia, proteção de propriedade intelectual, barreiras não tarifárias, invasões e roubos cibernéticos, serviços e agricultura, cuja previsão de conclusão é nos próximos 90 dias. |
Prazo |
Não mencionado |
Nos próximos 90 dias |
Fonte: CNTV, Xinhua, Casa Branca, ANZ Reserach. |
Xi fará o que Trump espera?
Em uma análise publicada no periódico Politico neste fim de semana, Scott Kennedy, especialista em China no Center for Strategic and International Studies, observa que o presidente chinês poderia contribuir muito menos para um acordo comercial do que Trump espera. Segundo Kennedy:
“A julgar pelo histórico de Xi, simplesmente vamos ver mais do mesmo e nenhuma mudança substancial."
Analistas dizem que a melhor troca de favores que poderia ser assumida pela China é o país se tornar novamente o principal destino internacional da soja norte-americana, posição que foi brevemente prejudicada pela imposição de tarifas regulatórias de Pequim sobre produtos agrícolas norte-americanos no início deste ano.
Mesmo assim pode haver alta na soja
Expectativas de maiores compras chinesas certamente podem ajudar os preços da soja a subir bastante. Os futuros de soja na Bolsa Mercantil de Chicago se recuperaram recentemente diante da especulação de que um resultado positivo para as conversas entre Trump e Xi abrirá os portões do país para importações da commodity dos EUA.
A soja na CME registrou seu maior ganho em quatro meses em novembro – um pouco abaixo de 5% – apesar da queda de 7% no ano.
Analistas técnicos no Investing.com já classificaram o contrato de soja com vencimento em janeiro na CME, que fechou o pregão de sexta-feira a US$ 8,94 por bushel, como “Forte Compra”, sem incluir como fator a possibilidade de maior demanda chinesa. Com base no padrão técnico de Woodie, a possível resistência mais alta para o contrato está em US$ 9,06 por bushel, o que representa um ganho de 12 centavos por bushel ou 1,3% a partir dos níveis atuais.
Mohammed bin Salman e Putin fazem sua parte pelo petróleo
E o que dizer do petróleo? Também ocorreu no G20 uma reunião reservada entre o príncipe saudita Mohammed bin Salman e o presidente russo Vladimir Putin, considera tão importante para o petróleo quanto as discussões de Trump e Xi foram para o comércio.
De acordo com a agência de notícias oficial da Arábia Saudita, os dois líderes discutiram o rebalanceamento do mercado mundial de petróleo. Putin declarou mais tarde a repórteres que a Rússia chegou a “um acordo para prolongar nosso consenso” com a Arábia Saudita. Decodificando seus anúncios, o significado é o mesmo: Moscou apoiará Riad em sua tentativa de anunciar cortes de produção quando a Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) se reunir nos dias 6 e 7 de dezembro.
Depois de atingirem suas máximas em quatro anos exatamente há um mês, tanto o petróleo West Texas Intermediate, dos EUA, quanto o Brent, do Reino Unido, perderam quase um terço do seu valor devido a temores de excesso de oferta. Dos dois, o WTI é o que está em situação mais delicada, ao atingir as mínimas de 13 meses abaixo de US$ 50 por barril na sexta-feira.
Embora a Rússia não seja membro da Opep, por ser a terceira maior produtora mundial de petróleo – em primeiro lugar estão os Estados Unidos e, em segundo, a Arábia Saudita –, Moscou se tornou um player disposto a contribuir com o chamado rebalanceamento de mercado desde 2016 pelo cartel de 15 membros. Foi graças à cooperação entre Rússia e Arábia Saudita que o WTI se recuperou das mínimas de quase US$ 25 por barril em 2016, durante mais um excesso de oferta gerado pelo petróleo de shale nos EUA. Os Estados Unidos não possuem uma empresa petrolífera nacional e não colaboram com a Opep.
Repique do petróleo não durará muito tempo sem cortes significativos
Neste ano, os russos se mostraram reticentes a dar seu apoio imediato a Riad para um corte, apesar de Putin ter demonstrado um comportamento amigável para com o príncipe MbS no G20. No entanto, líderes mundiais deixaram de lado o jovem líder árabe por sua alegada participação no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, que era um dos seus críticos mais vorazes. Mesmo assim, Putin disse a jornalistas que “não havia um acordo final sobre os volumes” a serem cortados.
Notícias na imprensa na última sexta-feira davam conta de que a Opep estava trabalhando em um corte de 1,3 milhão de barris por dia (bpd), a partir da produção de outubro de 32,9 milhões bpd.
O WTI fechou o pregão de sexta-feira cotado a US$ 50,93 por barril. A perspectiva técnica diária do Investing.com recomenda “Forte Venda”, com o nível 3 de suporte de Woodie em US$ 47,73 — voltando aos níveis de setembro de 2017. O Brent era negociado a US$ 58,25 antes do fim de semana e também recebia recomendação de “Forte Venda”. O nível 3 de suporte para o mercado de petróleo no Reino Unido está em US$ 55,20 — mínima que remonta a outubro de 2017.
Sem cortes substanciais, pode ser difícil sustentar um rali em qualquer um deles, declarou Dominick Chirichella, diretor de risco no Instituto de Gestão Energética de Nova York:
“A menos que a Opep e seus parceiros não membros reduzam a produção em pelo menos 1 milhão de barris por dia na reunião de 6 de dezembro, o mercado não dará muita importância à cúpula e poderá jogar os preços ainda mais para baixo.”
Enquanto isso, a província canadense de Alberta pode ter feito um favor aos sauditas antes da reunião da Opep ao anunciar, no domingo, que cortaria sua produção petrolífera em 325.000 bpd a partir de janeiro, a fim de tentar reverter a histórica queda de preços que fez com que o petróleo canadense fosse negociado a valores ainda menores do que os do WTI.