Publicado originalmente em inglês 15/03/2021
Será que o presidente do Federal Reserve, Jay Powell, irá dizer algo nesta semana para arrefecer a alta nos rendimentos dos títulos americanos? Caso contrário, será que pelo menos indicará as próximas ações?
O Fed realizará sua reunião mensal de política monetária na próxima terça e quarta-feira. Em seguida, Powell fará sua tradicional coletiva de imprensa. A expectativa é que o anúncio de política monetária deixe os juros novamente inalterados nos EUA, que já estão há mais de um ano perto de zero por causa da pandemia do coronavírus.
Mas há grandes expectativas de que Powell demonstre certa preocupação pelo menos com a impressionante queda dos mercados de títulos públicos neste ano, com o rendimento da nota de 10 anos do Tesouro atingindo as máximas pré-pandemia acima de 1,6% no último mês.
Tentativa de Powell de conter rendimentos dos treasuries será boa para o ouro
A disparada nos títulos públicos americanos prejudicou enormemente o ouro, fazendo o metal se desvalorizar 9% desde o início do ano. Quaisquer indicações de que o Fed intensificará as compras de títulos nos próximos meses contribuirão para a contenção dos seus rendimentos e a disparada no ouro.
Jeffrey Halley, analista sênior de mercado para Ásia-Pacífico na OANDA, afirmou em nota nesta segunda:
“O desempenho do ouro e a resiliência das ações não tecnológicas indicam que os mercados podem estar ficando mais satisfeitos com a expectativa de alta da inflação e certo grau de ajuste nos custos de capital”.
Há outra razão para os investidores ficarem atentos a sinais de que Powell e as autoridades do banco central estejam preocupados com a atual disparada nos rendimentos, em meio a maiores perspectivas inflacionárias. A disparada nos rendimentos dos títulos forçou uma reprecificação nas expectativas de juros como forma de se adiantar à elevação dos juros pelo Fed no fim de 2022. Isso vai de encontro com a intenção do banco central americano de manter inalterados os juros até o fim de 2023.
Para fins de contexto, os rendimentos dos títulos estão subindo forte sob o argumento de que a recuperação nos próximos meses pode ir além das expectativas do Fed, gerando uma espiral inflacionária, já que o banco central insiste em manter os juros perto de zero.
O dólar, que geralmente cai em um ambiente de maiores temores inflacionários, também disparou segundo a mesma lógica de recuperação econômica. O status da moeda americana como reserva de valor consolidou seu papel de porto seguro, abrindo espaço para mais compras na divisa. Nas últimas semanas, o Índice Dólar voltou para perto do nível altista de 92, pensando ainda mais sobre o ouro.
Há décadas, o metal era considerado como a melhor reserva de valor em momento de preocupação com a inflação. Mesmo assim, nos últimos meses, ele foi deliberadamente impedido de atuar como ativo de proteção, já que os bancos de Wall Street, hedge funds e outros atores mantiveram posições vendidas no metal, pressionando a alta dos rendimentos dos treasuries e a valorização do dólar.
Apesar disso, uma mudança intrigante ocorreu na sexta-feira. Os preços do ouro iniciaram o dia fracos, caindo mais de US$ 20 em determinado momento; ao mesmo tempo, os rendimentos dos títulos novamente atingiram as máximas de 13 anos e o dólar disparou.
Mas, com o passar do dia, o metal passou a se recuperar e acabou registrando sua primeira semana de lucro nas últimas quadro, com o mercado futuro fechando apenas alguns dólares abaixo do pregão de quinta-feira, enquanto o preço à vista fechou em alta.
Foi uma recuperação de certa forma espetacular, considerando que tanto o mercado à vista quanto o futuro haviam perdido o suporte de US$ 1.700 no início do dia.
Não ficou imediatamente claro o que gerou esse repique.
Pode ser que o ouro esteja voltando a se comportar como um porto seguro
Mas alguns analistas, como Halley, da OANDA, acreditam que o ouro esteja retomando sua qualidade de porto seguro diante da nova era na inflação americana.
“Essa é a primeira vez na memória recente em que vejo o ouro não se desvalorizando face a tais movimentos e atuando como a proteção inflacionária que tantos de nós espera”, escreveu Halley.
No pregão asiático desta segunda, o ouro disparou acima de US$ 1.730 tanto no mercado à vista quanto futuro, antes de manter a estabilidade.
Se o ouro estiver fazendo uma reversão para alta, esses são os primeiros dias para consolidá-la, segundo Halley, para quem é necessário monitorar de perto a formação de um potencial fundo.
“O Índice de Força Relativa do ouro está confortavelmente em território neutro, o que lhe dá muito espaço de manobra. Se os rendimentos dos títulos americanos subirem nesta semana e o ouro pelo menos mantiver os níveis atuais, o sinal de possível disparada estará dado".
Petróleo preso em uma consolidação de preços
No caso do petróleo, a expectativa é que o barril de West Texas Intermediate negociado em Nova York permaneça perto de US$ 65, enquanto o britânico Brent, referência mundial do petróleo, deve ficar abaixo de US$ 70.
O WTI registrou sua primeira semana de desvalorização nas últimas três na sexta-feira. O Brent também teve sua primeira derrapada desde janeiro.
Apesar disso, os preços do petróleo continuam pelo menos 80% acima do patamar do fim de outubro, apesar de dados governamentais indicarem que a produção americana esteja se recuperando mais rápido do que o refino, após as paradas ocorridas no mês passado no Texas devido às condições climáticas.
Em seu relatório semanal de oferta e demanda, a EIA, agência de informações energéticas dos EUA, estimou que a produção petrolífera foi de 10,9 milhões de barris por dia (mbpd) na semana encerrada em 5 de março, uma alta em relação aos 10 mbpd indicados na semana fechada em 26 de fevereiro.
A EIA também afirmou que os estoques petrolíferos tiveram um acréscimo de 13,798 milhões de barris na última semana, em comparação com a expectativa de acúmulo de 816.000. O aumento da última semana foi de 21,5 milhões de barris, maior até mesmo que os 19,2 milhões vistos na semana até 10 de abril de 2020, quando a demanda petrolífera afundou após o surgimento da Covid-19.
Para compensar parte do impacto do acúmulo de estoques da semana passada, foram registradas retiradas maiores do que se previa na gasolina e destilados, segundo a EIA.
Isso permitiu que os operadores fechassem um olho em relação aos acúmulos homogêneos de petróleo e o aumento de produção desde os distúrbios no Texas.
Scott Shelton, corretor de energia na ICAP em Durham, Carolina do Norte, escreveu em nota na sexta que o petróleo estava registrando bom desempenho devido à força dos combustíveis e à “falta de correlação com o cenário macro no petróleo”.
O petróleo precisará fazer seu próprio dever de casa para romper a consolidação de preços, segundo ele.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.