A semana passada foi a pior do petróleo desde abril de 2020 e se tornou um novo marco nos livros de história sobre sua negociação. Mas ainda não há clareza em relação à sua direção nos próximos dias.
A resposta só será dada quando tivermos detalhes mais precisos sobre a extensão das infecções, hospitalizações e fatalidades causadas pela nova variante ômicron do coronavírus. Isso pode parecer óbvio.
Mas, para os mercados e tomadores de decisão que buscam informações que fluem na velocidade de nanossegundos, estar à frente de cada novo fato da nova rodada da pandemia é tão importante quanto lidar com suas consequências.
Quem tiver dúvidas quanto a isso, basta ver a reação da aliança de produtores de petróleo Opep+, que atrasou em 48 horas suas reuniões técnicas agendadas para esta segunda e terça-feira, antes da tão importante reunião dos seus ministros, liderados por Abdulaziz bin Salman, da Arábia Saudita, e Alexander Novak, da Rússia.
“Isso é para oferecer mais tempo à avaliação do mercado à luz das preocupações com a nova variante da Covid-19”, afirmou Eamonn Sheridan, do portal ForexLive.
No momento em que escrevo, o barril do petróleo americano West Texas Intermediate subia 4,5%, a US$71,22, recuperando quase metade da queda de 11% sofrida na sexta-feira, no que foi sua mais forte desvalorização intradiária desde o primeiro grande impacto da Covid há quase dois anos.
Já o britânico Brent, referência mundial do petróleo, subia 3,8%, a US$ 71,31 por barril, depois de afundar 12% na sexta-feira.
Repique do petróleo é prematuro?
Para muitos touros, a incipiente recuperação após o tombo da semana passada foi encarada com alívio.
O repique ocorreu por causa de investidores buscando pechinchas diante de toda a desvalorização ocorrida na sexta-feira e de especulações de que a Opep+ pode suspender seus aumentos de produção em resposta à variante ômicron.
“Não posso deixar de ressaltar que as mínimas de sexta-feira provavelmente foram a barganha do ano, para quem queria se posicionar no petróleo, seja no mercado físico ou especulativo”, declarou Jeffrey Halley, diretor de pesquisa da OANDA para a Ásia.
Phil Flynn, analista do Price Futures Group, de Chicago, compartilha da mesma visão, descrevendo o WTI a US$72 por barril como “barato”.
“Em relação ao preço do petróleo, foi como uma liquidação de Black Friday”, escreveu Flynn em um comentário antes do fim de semana.
“Se eu tivesse algum risco de alta de preços, aproveitaria esse recuo como oportunidade de hedging”, complementou.
“Não sei qual é a gravidade dessa nova variante e se ela acabará provocando lockdowns de grandes proporções. Se essa variante, de fato, acabar sendo muito pior do que a delta, tudo é possível”.
Muitos acreditam que o tombo do petróleo por causa da ômicron está longe do fim.
“Armadilha para os touros”, escreveu Samir Madani, renomado especialista em rastreamento de petroleiros, em seu Twitter no domingo.
“A China não vai comprar nesses preços”, complementou Madani.
“Ela só o fará se os preços caírem mais. Levaremos pelo menos duas semanas para entender essa variante ômicron e para que haja um consenso entre os especialistas. Podemos ver uma desvalorização maior até lá”.
A Covid-19 voltou para o topo da agenda dos investidores, em meio a temores de que a nova variante ômicron possa afetar a recuperação econômica mundial, depois de transcorridos quase dois anos da pandemia.
Busca de proteção faz ouro se valorizar levemente
E isso também pode decidir a direção do ouro, que subia 0,5% antes da abertura dos mercados em Nova York e depois de se valorizar 0,7% na sexta-feira, por causa da busca por proteção.
“O ouro encontra resistência a US$1800 e 1815 no início da semana, com a subida até 1770 por onça nesta manhã, um movimento dúbio para os padrões de abertura do mercado futuro na Ásia numa segunda-feira”, ressaltou Halley, da OANDA.
“Pode ser que o ouro encontre compradores em torno de US$1780. Uma falha em US$1770 sinaliza um reteste de 1760 e 1740 por onça.”
A nova variante do vírus também pode gerar dúvidas quanto à rapidez com que o Federal Reserve retirará os estímulos para combater a espiral inflacionária nos EUA.
Isso fará com que o relatório de empregos no país, previsto para sexta-feira, e o depoimento de Jerome Powell, presidente do banco central americano, na terça-feira, ao lado da secretária do tesouro Janet Yellen, sejam acompanhados de perto.
Antes de sexta-feira, os investidores estavam otimistas com a força da recuperação econômica, em meio à ampla disponibilidade de vacinas e avanços nos tratamentos e apesar de temores com a alta constante da inflação.
Um robusto relatório de empregos em novembro pode corroborar o cenário de aceleração do desmonte do programa de estímulos de US$120 bilhões mensais do Fed em sua próxima reunião em meados de dezembro. Mas uma nova onda da pandemia pode colocar em dúvida esses planos.
Preocupações com a alta da inflação, bem como sinais de aceleração da retomada da economia, fizeram com que os investidores começassem a precificar um aperto monetário mais rápido nos EUA.
A expectativa é que o relatório de empregos de novembro mostre uma geração de 550.000 postos de trabalho, fazendo com que a taxa de desocupação recue levemente para 4,5%.
O calendário econômico da semana também prevê a divulgação dos índices de gerentes de compras da indústria e serviços, além de dados sobre vendas de casas pendentes. confiança do consumidor e Livro Bege do Fed.
Jerome Powell, que acaba de ser renomeado à chefia do Fed pelo presidente Joe Biden, deve fazer um depoimento perante o Comitê Bancário do Senado, em Washington, a respeito da Lei CARES e do programa de estímulos do banco central para enfrentar a pandemia. A secretária do tesouro, Janet Yellen, também participação da audiência, que também deve ser realizada no Comitê Financeiro da Câmara, na quarta-feira.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.