Os preços do petróleo devem tentar voltar para as máximas da invasão na Ucrânia em março, à medida que a União Europeia avança na proibição à maioria dos produtos petrolíferos da Rússia e a China encerra seus bloqueios sanitários de mais de dois meses em Xangai, grande centro financeiro do país.
O ouro, enquanto isso, pode ficar preso em sua mais recente consolidação de US$ 1850-1830 por onça, diante da luta do Índice Dólar para permanecer acima do patamar de 100 pontos e da primeira alta semanal em um mês da taxa do título de 10 anos do Tesouro dos EUA.
Depois de mais de dois meses de idas e vindas, a UE concordou em reduzir drasticamente suas importações de petróleo da Rússia até o fim de 2022, gerando preocupações com a oferta já restrita no mercado, em meio ao aumento da demanda antes do pico da temporada de viagens automotivas de verão nos EUA e na Europa.
Líderes da União Europeia concordaram, em princípio, em cortar 90% das importações do petróleo russo até o fim deste ano, resolvendo o impasse com a Hungria em relação à mais dura sanção do bloco a Moscou desde a sua invasão na Ucrânia há três meses.
O petróleo do tipo Brent, negociado em Londres e que serve de referência mundial de preços, subia US$ 1,63, ou 1,4%, para US$ 119,23 no contrato com entrega em agosto, durante a sessão asiática de negociações. Já o contrato com entrega em julho, que expira na segunda-feira, fechou ontem à noite a US$ 121,67.
O barril de West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova York e que serve de referência para os EUA, valorizava-se US$ 1,36, ou 1,2%, para US$ 118,54 no contrato com entrega em julho.
Ambas as referências devem fechar em alta pelo sexto mês consecutivo, com o Brent subindo 9%, e o WTI, 13%, em maio.
O Brent atingiu as máximas de 14 anos um pouco acima de US$ 139 em 7 de março, cerca de duas semanas após a invasão da Rússia na Ucrânia, desencadeando uma série de sanções contra as exportações de energia e outros produtos de Moscou. O WTI reprisou sua própria máxima de 2008 no mesmo dia, ao superar levemente US$ 130.
Os analistas acreditam que esses picos podem ser testados novamente nos próximos dias, quando os mercados petrolíferos enfrentarem uma tempestade perfeita provocada pela restrição de oferta decorrente da proibição da UE, da previsão de disparada de demanda na China e da recusa dos exportadores petrolíferos da Opep+ em aumentar sua produção quando se reunirem no fim desta semana.
“A ação dos preços do petróleo nesta semana sugere que a oferta de produtos refinados está piorando", declarou Jeffrey Halley, diretor de pesquisa para Ásia-Pacífico da plataforma online de negociações OANDA.
“A proibição imposta pela UE ao petróleo russo complica ainda mais o cenário, e eu me pergunto até quando os mercados conseguirão satisfazer suas necessidades com outras fontes, sem se importar com a alta dos preços do barril”.
Alguns especialistas, no entanto, acreditam que, após romper US$ 120, os ganhos no barril podem ser reduzidos, já que os mercados já haviam precificado as restrições aplicadas pela UE.
Praticamente todos os membros da UE concordaram com a proibição, sugerindo que “o mercado já estava precificando as sanções que o bloco se autoimpôs, bem como o fluxo muito mais reduzido de petróleo russo para a Europa neste ano”, ressaltou Stephen Innes, sócio-executivo da SPI Asset Management, em comentários feitos à Reuters. Segundo o analista:
“Eu acredito que o mercado esteja precificando uma demanda maior na Ásia via China. A grande preocupação, no entanto, é a disparada dos preços nas bombas, o que pode acabar gerando alguma destruição de demanda.”
A expectativa é que a demanda da China acelere após a flexibilização das restrições contra a Covid-19. Xangai anunciou o fim dos bloqueios sanitários de dois meses e permitirá que a vasta maioria das pessoas na maior cidade chinesa deixe suas casas e dirija seus carros a partir de quarta-feira.
Pelo lado da produção, a Opep+ deve manter seu acordo firmado no ano passado durante sua reunião de quinta-feira, aprovando uma leve alta na produção de 432.000 barris por dia, segundo seis fontes da organização, refutando os pedidos do Ocidente de aumentar mais rápido a oferta, a fim de reduzir a disparada dos preços.
Já faz mais de um ano que a Arábia Saudita garantiu ao grupo, formado por 23 países exportadores de petróleo, uma oferta de petróleo abaixo das necessidades do mercado, a fim de manter os preços do barril em um nível ótimo. Ainda que a crise de oferta fosse manejável até o fim do ano passado, a invasão na Ucrânia e as consequentes sanções à Rússia reduziram a oferta em mais 3 milhões de barris por dia pelo menos, deixando os países consumidores praticamente sem respiro.
Para intensificar a crise, os Estados Unidos estão sofrendo uma grave restrição de oferta de gasolina e, sobretudo, de diesel, em razão do fechamento e da redução de capacidade de várias refinarias durante a pandemia de coronavírus.
As refinarias norte-americanas que continuaram em operação estão agora fornecendo apenas o que podem – ou o que desejam –, sem investir nada na expansão da capacidade atual ou aquisição de plantas ociosas que poderiam reabrir e fornecer algum alívio aos consumidores do país. Uma motivação para as refinarias procederem assim: lucrar com a atual situação que pode ser diluída em uma expansão. Outra razão é o longo período necessário para que uma nova refinaria comece a gerar lucro.
A Bloomberg estima que mais de 1 milhão de barris por dia de capacidade de refino de petróleo nos EUA –– ou cerca de 5% do total – foram afetados pela pandemia de Covid-19, que inicialmente dizimou a demanda petrolífera em 2020. Fora dos EUA, a capacidade encolheu mais 2,13 milhões de barris por dia, segundo a consultoria de energia Turner, Mason & Co. Conclusão: sem planos de expansão no horizonte, a restrição só deve piorar.
Também nesta semana, serão divulgados os dados do mercado de trabalho nos EUA referentes ao mês de maio, na sexta-feira. A expectativa é que a economia americana tenha adicionado 320.000 postos de trabalho neste mês, desacelerando em relação aos 428.000 em abril. Se o número vier abaixo das estimativas, pode ter um impacto negativo sobre os preços do petróleo, em razão do nexo entre o mercado de trabalho e o petróleo.
Os investidores do ouro também ficarão atentos aos números laborais nos EUA, especialmente em termos de crescimento salarial e redução da ocupação para 3,5%.
O calendário econômico dos EUA terá ainda dados sobre contratações no setor privado, abertura de postos de trabalho JOLTS, um indicador de demanda bastante acompanhado no mercado, e os números semanais de pedidos iniciais de seguro-desemprego.
Dados do ISM sobre a atividade na indústria e no setor de serviços também estarão no centro das atenções, em meio a preocupações com o impacto da alta dos preços e com os problemas na cadeia de suprimentos. Também será divulgado o relatório sobre a confiança do consumidor.
Os investidores do ouro terão a oportunidade de ouvir várias autoridades do Federal Reserve sobre a perspectiva econômica na próxima semana.
Na quarta-feira, quem deve se pronunciar é o presidente do Fed de Nova York, John Williams, e o chefe do Fed de St. Louis, James Bullard; no dia seguinte, é a vez da presidednte do Fed de Cleveland, Loretta Mester.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.