Um dia de cada vez: esse pode ser o melhor conselho de como navegar nos mercados de petróleo e ouro neste momento.
Tudo indicava que os preços do petróleo continuariam seu repique nesta semana, graças a uma combinação de eventos, como a reunião da Opep, as tensões na Síria, os estímulos de bancos centrais e a ação especulativa.
Mas notícias de que a disseminação do coronavírus não para de piorar pode fazer com que Wall Street caia novamente, dando dor de cabeça para quem está tentando segurar posições compradas no petróleo. Os Estados Unidos registraram a segunda morte provocada pelo vírus no fim de semana, enquanto o número de mortos no mundo atingiu mais de 3.000 pessoas, além de outras 88.000 infecções.
O foco desta semana no petróleo estará voltado principalmente à reunião da Opep+ que finalmente permitirá que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) realize os cortes de produção que vinha propagando há semanas.
Reunião da Opep gira em torno da Rússia
No momento em que escrevo, a reunião de dois dias da Opep a partir de quinta-feira ainda estava de pé, embora houvesse rumores de que pudesse ser cancelada se a Rússia se recusasse a entrar no jogo ou os delegados se retirassem por causa dos temores do aumento de contágio pelo vírus.
Pelo menos uma reunião da indústria de energia já havia sido cancelada desde domingo. A CERAWeek, que aconteceria de 9 a 13 de março, é um dos eventos mais prestigiados do setor, reunindo ministros de petróleo e altos executivos das indústrias de energia e finanças em Houston, e foi cancelada por causa da retirada de delegados e aumento de restrições de viagens, na tentativa de conter a disseminação do vírus, segundo os organizadores.
“A Arábia Saudita estaria pressionando os parceiros da Opep+ a concordar com cortes adicionais de 1 milhão de barris por dia na oferta”, declarou Dominick Chirichella, diretor de risco e negociação do Instituto de Gestão Energética em Nova York, observando que a aliança, em princípio, já havia selado um acordo de redução de 2,1 milhões de barris por dia (bpd).
“Essa redução de 3,1 milhões de bpd será a maior restrição de oferta em mais de uma década", afirmou Chirichella.
“Ainda não está claro se a Rússia, segunda maior produtora dentro da aliança, assinará o acordo."
Até as 15 h do pregão desta segunda-feira em Cingapura, o West Texas Intermediate (WTI), referência do petróleo nos EUA, subia US$ 1,36, ou 3%, a US$ 46,12 por barril. O WTI caiu 5% na sexta-feira e 16% na semana, sua maior queda semanal desde meados de dezembro de 2008, quando houve a Grande Recessão.
O Brent, negociado em Londres e referência mundial do petróleo, valorizava-se US$ 1,69, ou 3,4%, a US$ 51,36. O Brent se desvalorizou 4,8% na sexta-feira e 15% na semana.
Síria, dados da EIA e expectativas com o Fed também podem ajudar o petróleo
Além da Opep, a segunda-feira nos mercados de petróleo começou agitada pelo conflito na Síria, depois que a Turquia derrubou dois aviões de guerra sírios e lançou extensos ataques aéreos contra posições do país vizinho, desencadeando uma guerra por procuração que pode envolver Irã, Rússia e possivelmente a OTAN em um conflito mais amplo.
“Embora o efeito do coronavírus tenha potencial de infligir mais perdas aos preços do petróleo, já que a Opep+ está sentada sobre as mãos, uma escalada da guerra por procuração na Síria, tornando-se um conflito aberto entre duas grandes potências na região, pode ter um efeito muito mais potente nos preços do petróleo”, afirmou Jeffrey Halley, analista da OANDA.
O relatório semanal de oferta e demanda da Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês), agendado para a quarta-feira, também pode atuar a favor dos touros do petróleo. No conjunto de dados da semana passada, a EIA registrou estoques de petróleo, gasolina e destilados nos EUA melhores do que os esperados.
Mas os dados de emprego nos EUA referentes a fevereiro, agendados para sexta-feira, podem gerar ventos contrários. As expectativas são que o crescimento da folha de pagamentos não agrícola será de 175.000, contra 225.000 em janeiro.
Apostas de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) cortará as taxas de juros nas próximas duas semanas – em uma possível ação coordenada com outros bancos centrais – também podem dar suporte ao petróleo e outros ativos de risco.
O anúncio feito por Jerome Powell, presidente do Fed, ao final da sexta-feira, dizendo que o banco central estava monitorando os riscos aos EUA por causa do coronavírus e que usaria as "ferramentas apropriadas" para dar suporte à economia, foi o sinal mais claro de que cortes de juros estavam a caminho.
O último ciclo de flexibilização do Fed se encerrou em dezembro, após três meses de cortes seguidos de 25 pontos-base cada.
O Bank of America afirma que espera um corte de meio ponto na próxima reunião do Fed, em 17-18 de março. O Goldman Sachs vê pelo menos mais dois outros cortes após o de junho.
O vírus ainda é uma incógnita
Apesar desses eventos positivos, ainda é possível que os temores do coronavírus acabem sendo o fator mais relevante nesta semana, principalmente se houver um aumento nas infecções ou fatalidades nos EUA. Nesse caso, Wall Street pode afundar ainda mais, como ocorreu na crise financeira. Naquele momento, a questão pertinente era: até quanto o petróleo pode cair?
Depois de o WTI cravar mínima a US$ 43,85 nesta semana, o próximo alvo dos ursos do petróleo norte-americano pode estar abaixo do fundo de dezembro de 2018, a US$ 42,36. Ao fechamento de sexta-feira, a U$ 44,76, ainda podemos ver uma queda de mais US$ 2,50 para o petróleo ficar abaixo daquela marca.
Para o Brent, que afundou até US$ 48,95, a nova mínima a ser batida seria o fundo de julho de 2017 a US$ 46,11. Considerando o fechamento de sexta-feira a US$ 49,67, a referência mundial do petróleo precisaria perder mais de US$ 3,50 para registrar uma nova mínima.
Ouro brilha novamente
O ouro, enquanto isso, deve compensar a perda inesperada da semana passada, sofrida por quem acreditava no porto seguro.
Com a forte queda dos mercados mundiais na sexta-feira, o ouro era o ativo que todos esperavam ver uma alta. No entanto, os futuros do ouro e os preços à vista do lingote caíram mais de 3% cada na sexta-feira, com a realização de lucros dos hedge funds.
As maiores margens impostas às negociações de ouro também retiraram alguns comprados no mercado.
Mas, no pregão asiático desta segunda-feira, o ouro já havia voltado para cima do patamar de US$ 1.600.
Os futuros do ouro com entrega em abril se valorizavam US$ 36,05, ou 2,3%, a US$ 1.602,75 por onça.
O ouro spot, que rastreia as negociações em lingotes em tempo real, subia US$ 17,14, ou 1,1%, a US$ 1.601,88.