O presidente dos EUA será capaz de influenciar a dinâmica do petróleo nesta semana com sua força política renovada?
Diante de tudo o que está acontecendo para debilitar os fundamentos do petróleo (desde o rali da semana passada, com o aprofundamento dos cortes da Opep, até início cambaleante desta semana, em meio aos temores de recessão nos EUA), Donald Trump melhorou muito suas chances de reeleição em 2020, depois de ter sido inocentado de acusações envolvendo a Rússia em uma investigação do Senado, o que não deixa de ser uma variável que pode aumentar ainda mais os ruídos imediatos no mercado de petróleo.
A conclusão do procurador especial dos EUA, Robert Mueller, de que não encontrou evidências de que Trump fez um conluio com a Rússia para vencer as eleições presidenciais de 2016 elimina a acusação central de desonestidade na campanha feita pelos Democratas durante dois anos.
Embora essa possa ser uma arma poderosa para a campanha do presidente no ano que vem – e ele já deve aproveitá-la em um evento de campanha na quinta-feira, na cidade de Grand Rapids, Michigan – os analistas também dizem que os processos legais de Trump podem ir além da acusação de Mueller.
Por enquanto, ainda não está claro como essa renovada força política de Trump poderia afetar o petróleo. Como a primeira notícia relevante sobre as descobertas de Mueller saiu no domingo, qualquer impacto no mercado deve ocorrer na segunda-feira, em Wall Street, com a retomada dos negócios nos EUA.
Paradoxo da força política de Trump para o petróleo
A maior estabilidade política de Trump poderia ter um efeito paradoxal no petróleo.
O que os investidores geralmente desejam nos mercados é que a estabilidade política seja fruto de um governo fortalecido pelo próprio posicionamento do presidente. Do contrário, o dólar pode subir e pesar sobre os preços das commodities, que geralmente seguem a direção contrária da moeda americana.
Não é segredo para ninguém que Trump não gosta de preços altos para o petróleo, e sua tendência é combatê-los com o que estiver ao seu alcance, desde tuítes desencorajadores até isenções a importações do Irã, além de vendas emergenciais do abastecimento de petróleo americano, se necessário.
Fortalecido pela vitória imediata na investigação de Mueller, o presidente pode voltar a se envolver em outra batalha de alto risco contra a Opep para tentar reduzir os preços do petróleo West Texas Intermediate, que atingiram as máximas de quatro meses de mais de US$ 60 na semana passada, antes que as preocupações econômicas fizessem o mercado recuar.
Desde o início do ano, a Opep, ou mais precisamente, a Arábia Saudita, entrou em rota de colisão com o presidente, prometendo não retroceder em seus cortes de produção, que já fizeram os preços do WTI e do Brent subirem 30%.
Mas as vitórias de Trump, ao forçar Pequim a revisar suas práticas de distorção comercial, podem levar o mercado de petróleo a acreditar que o presidente pegou emprestada uma ou duas páginas do seu livro de estratégias contra a China para lidar com a Opep, que essencialmente é um cartel que coloca seus próprios interesses em primeiro lugar.
Ações em queda podem evitar atuação mais contundente
Se a tendência das ações no início do pregão de segunda-feira servir de indicativo, pode ser que Trump não precise fazer nada de imediato. As ações asiáticas abriram em forte queda, pressionando também o petróleo, por causa do nervosismo com os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 10 anos, que despencaram para as mínimas do início de 2018 e abaixo da taxa de três meses pela primeira vez em 12 anos. Além disso, pelo terceiro mês consecutivo, houve uma queda nos dados de produção industrial da Alemanha, maior economia europeia.
O resultado final do crescimento do PIB norte-americano no quarto trimestre será o principal evento para os mercados financeiros nesta semana, enquanto os investidores ficam de olho em outros sinais sobre a economia.
Dominick Chirichella, diretor de risco e negociação de petróleo do Instituto de Gestão Energética, em Nova York, declarou o seguinte, em uma nota emitida no fim de semana:
“Uma possível desaceleração da demanda de petróleo pode ser antecipada por uma ampla queda dos mercados mundiais de ações, se o achatamento ainda maior da curva de rendimento dos títulos do Tesouro for interpretado pelo mercado como um sinal de que uma recessão está logo à frente.”
Dados desanimadores são a alegria dos investidores do ouro
Mas, independente do que acontecer com os preços do petróleo, o ouro pode começar a disparar. Nesta segunda, os preços do metal amarelo avançaram no importante território dos US$ 1.300, à medida que os investidores corriam para ativos de segurança, em meio a problemas políticos e econômicos cada vez maiores.
Além do relatório sobre o PIB, o calendário desta semana também terá dados sobre a inflação dos gastos com consumo pessoal, a métrica de inflação preferida do Federal Reserve.
Os players do mercado também ficarão atentos aos comentários de um grupo de autoridades do Fed nesta semana, para ter alguma ideia de qual será a perspectiva de política monetária nos próximos meses. Na semana passada, o Fed se absteve de aumentar as taxas de juros novamente neste ano, um movimento que pode sinalizar o fim do seu ciclo de três anos de aperto na política monetária.
A ação do Fed e o pesadelo dos investidores com uma dupla desaceleração na Europa e na China provavelmente farão com que o lingote e os futuros de ouro tenham ganhos constantes no nível dos US$ 1.300.
Os analistas da TD Securities escreveram em uma nota:
“A esperada deterioração dos dados ajudará na disparada do ouro, à medida que as taxas de juros continuam caindo no contexto de uma economia global em desaceleração.”