- Inflação mais alta sugere que economia está atuando a favor do petróleo;
- Ouro se mantém como proteção em um ambiente de preços mais altos;
- Mas bancos centrais não descartam mais aumentos de juros, com destaque para o Federal Reserve (Fed), Banco da Inglaterra (BoE) e Banco Central Europeu (BCE).
Agora que vamos entrando na segunda metade do ano, o petróleo e o ouro novamente se encontram em uma difícil encruzilhada.
A inflação acima do nível preconizado pelas autoridades dos Estados Unidos e da Europa é um indicativo que as economias em ambos os lados do Atlântico estão se recuperando a contento e sustentando a demanda de petróleo. Além disso, os preços mais elevados ao consumidor fazem com que a função de proteção do ouro ganhe mais relevância.
No entanto, como os bancos centrais não descartam novas altas de juros, com destaque para o Fed, BoE e ECB,o dólar e a taxa dos títulos do Tesouro dos EUA (treasuries) podem voltar a subir e, com isso, pesar sobre a cotação do metal precioso e do petróleo.
Na sexta-feira, os investidores terão uma ideia melhor da possível trajetória de juros no futuro, com a divulgação dos dados de maio do índice de preços PCE, medida de inflação preferida do banco central dos EUA.
Inflação é a palavra da moda
Nos últimos 12 meses até abril, tanto o índice PCE quanto a inflação básica estavam acima da meta de 2% do Fed.
Os números da inflação influenciarão as expectativas dos investidores em relação à próxima decisão de juros do Fed em julho, após o banco central ter interrompido o aperto monetário em sua reunião de junho, mas sinalizado mais aumentos no futuro. Além disso, as atenções também estarão voltadas à confiança do consumidor na terça-feira, que atingiu o nível mais baixo em seis meses em maio. A expectativa é que os números de junho mostrem um novo aumento.
Na sexta, a zona do euro divulgará os dados preliminares de inflação para junho. Apesar da expectativa de arrefecimento da inflação geral, os analistas esperam ver um aumento na inflação subjacente, o que destaca o desafio enfrentado pelo BCE.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, adotou um tom mais duro ("hawkish") do que o esperado após a última reunião de política monetária do banco, reiterando a necessidade de aumentar as taxas novamente para atingir a meta de inflação de 2% e manter as taxas nesses níveis pelo tempo necessário.
Os operadores agora estão apostando em um aumento das taxas pelo BCE em julho e esperam outro aumento até outubro.
Na quarta, os investidores terão a oportunidade de ouvir Lagarde, juntamente com o presidente do Fed, Jerome Powell, e outros líderes de bancos centrais globais, em um painel de discussão no fórum anual do BCE em Sintra, Portugal. A inflação provavelmente será um tema central nesse debate.
O ano começou com otimismo em relação à recuperação pós-Covid na China, maior resiliência na economia global e alívio em relação ao pico da inflação. No entanto, desde então, eventos como a crise bancária nos EUA, o colapso do Credit Suisse (SIX:CSGN) e a luta para conter a inflação têm feito os últimos seis meses parecerem uma longa jornada nos mercados.
Todos esses fatores estão colocando o dólar em disputa com o ouro como opção de “porto seguro”.
Ouro se mantém firme
Como afirmou Ed Moya, analista macro da plataforma de negociação online OANDA, na sexta-feira:
"O dólar está se fortalecendo com a alta demanda por títulos do Tesouro americano, diante da preocupação dos investidores com a perspectiva de crescimento global. Depois de cair para o nível de US$ 1.920, o ouro está começando a atrair fluxos de segurança, à medida que a queda do mercado de ações se intensifica".
O contrato futuro do ouro com entrega em agosto na Comex de Nova York ficou acima da marca de US$ 1935 por onça durante a janela asiática de negociações desta segunda-feira, 26, com uma alta de 0,4%. Nas negociações de sexta-feira, o ouro para agosto alcançou a máxima de três meses de US$ 1.919,85. Ainda na semana passada, o ouro futuro registrou seu mais forte movimento de queda semanal desde janeiro, desvalorizando-se 2%.
O preço do ouro à vista, que reflete a cotação do metal físico em lingotes e é acompanhado mais de perto pelos operadores, fechou a sexta-feira em US$ 1925, após atingir a mínima de três meses de US$ 1.910,24.
Até agora em junho, o ouro caiu 2,6% após uma queda de 1,8% em maio. Apesar disso, o ouro ainda acumula alta de mais de 5% no ano.
Petróleo atento a dados da China e de inflação
No que diz respeito ao petróleo, os dados econômicos da China também estarão em destaque, uma vez que a recuperação da segunda maior economia do mundo enfrenta dificuldades. Os eventos na Rússia também serão observados de perto após uma tentativa de insurreição desafiando o controle do presidente Vladimir Putin ter sido evitada.
A China vai divulgar os índices de gerentes de compras (PMIs) de junho na sexta-feira, e espera-se que os dados reforcem a narrativa de que a recuperação da segunda maior economia do mundo está perdendo força.
A China reduziu suas taxas referenciais de empréstimos na semana passada, na tentativa de estimular o crescimento, mas as preocupações com o mercado imobiliário fizeram com que o afrouxamento não fosse tão grande quanto o esperado.
Más notícias podem ser vistas como positivas se os operadores acreditarem que isso pressionará as autoridades a oferecer mais apoio à economia - desde que isso aconteça eventualmente. No entanto, se as expectativas estiverem elevadas, a paciência se esgota: vários bancos de investimento globais reduziram suas previsões de crescimento do produto interno bruto (PIB) da China para 2023 depois que os dados econômicos de maio ficaram abaixo das previsões.
O petróleo West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova York, ficou acima de US$ 69 o barril na sessão asiática de segunda-feira, após atingir o menor nível em três semanas, de US$67,36, na sexta-feira. O petróleo de referência nos Estados Unidos encerrou a semana passada com queda de 3,7%.
Já o petróleo Brent, negociado em Londres, ficou acima de US$ 74 após atingir o menor nível em três semanas, de US$72,12, na sexta-feira. Ao longo da semana passada, o petróleo que serve de referência mundial, inclusive para a Petrobras (BVMF:PETR4), teve uma queda de cerca de 4%.
Analistas do Goldman Sachs (NYSE:GS) afirmaram que os mercados podem precificar uma probabilidade moderadamente maior de que a volatilidade doméstica na Rússia leve a interrupções no fornecimento. No entanto, os analistas acrescentaram que o impacto pode ser limitado, na medida em que os fundamentos do mercado físico não mudaram.
Aviso: O conteúdo deste artigo é puramente educativo e não representa qualquer recomendação de compra ou venda de qualquer ativo tratado. O autor Barani Krishnan não possui posições nas commodities ou investimentos sobre os quais escreve. Ele geralmente utiliza uma variedade de visões além da sua para promover a diversidade da análise de qualquer mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias.