Publicado originalmente em inglês em 10/05/2021
Será que o ouro vai superar US$1.850 nesta semana e o petróleo conseguirá se aproveitar do ataque cibernético ao oleoduto americano Colonial e dos números de consumo nos Estados Unidos para se livrar da consolidação na qual está inserido?
Embora essas sejam as questões mais prementes para os investidores dos ativos, será travado nesta semana um debate mais amplo não só nos mercados de commodities, mas também no ambiente financeiro global.
De fato, as altercações começaram logo após a publicação dos números do mercado de trabalho nos EUA para abril, na sexta-feira. O choque de ver a criação de apenas 266.000 vagas contra uma previsão de 1 milhão deixou muitos traders sem saber o que dizer, antes de as atenções se voltarem para a direção da inflação no curto prazo.
Até semana passada, defendia-se praticamente um sentido único para a inflação, em vista da disparada de preços de commodities como petróleo, cobre, minério de ferro, madeira serrada e até mesmo soja. Além disso, não faltavam argumentos que defendiam uma restrição maior à política de afrouxamento monetário do Federal Reserve, bem como uma alta nos juros de curto prazo para evitar um superaquecimento da economia.
Mas a impressionante desaceleração no mercado de trabalho em abril, frente aos números revisados de 770.000 em março, acabou reforçando a visão do Fed de que as pressões de preço vistas no início do ano eram “transitórias” e que a retomada pós-Covid iria esfriar nos próximos meses e se tornar mais gradual.
Dúvidas sobre a inflação
Jeff Halley, diretor de pesquisa para Ásia-Pacífico da corretora OANDA, afirmou que o centro do debate nas próximas semanas será sobre o “comportamento da recuperação mundial, com um pouco de ceticismo sobre a inflação”.
Diversas autoridades do Fed farão pronunciamentos nos próximos dias e seus comentários serão acompanhados de perto para saber quem pode vencer a queda de braços entre as ações de valor e crescimento, o que também deve se estender a outras classes de ativos, como as commodities.
Além do vice-presidente do Fed, Richard Clarida e do governador Lael Brainard, falarão nesta semana os chefes das sucursais de Atlanta Raphael Bostic; Dallas, Robert Kaplan; Nova York, John Williams; Filadélfia, Patrick Harker; e São Francisco, Mary Daly.
Quanto aos dados econômicos, teremos na quarta-feira os números do índice de preços ao consumidor de abril como destaque do calendário desta semana.
O índice de preços ao produtor sairá na quinta-feira, seguido das vendas no varejo, na sexta. As vendas de varejo saltaram em março graças ao auxílio emergencial, cujos efeitos devem se fazer sentir ao longo de abril.
Ouro pode testar US$ 1900 com fechamento acima da média móvel de 200 dias
No ouro, os investidores acreditam num fechamento acima do nível de US$ 1.850 capaz de pavimentar um retorno à faixa de US$ 1.900 e, quem sabe, às máximas de US$ 2.000 tocadas em agosto.
O grafista especialista em ouro, Dhwani Mehta, disse o seguinte em uma publicação no site FXStreet:
“O gráfico diário do ouro mostra que as chances continuam favoráveis aos compradores, que estão de olho na média móvel de 200 dias a US$1851. Antes disso é preciso superar a máxima de sexta a US$1843.”
“Apenas um fechamento diário acima da MMD 200 pode abrir espaço para um reteste da barreira psicológica de US$1900.”
Mehta disse que o IFR, ou Índice de Força Relativa, estava um pouco abaixo da região sobrecomprada, atualmente a 68,44, apontando para mais altas.
“Entretanto, se a correção ganhar força, os preços do ouro podem voltar para a mínima de sexta a US$ 1813”, afirmou.
“O patamar de US$1800 pode se tornar um forte suporte para compradores.”
Após meses de ação anêmica, os preços do ouro de repente fizeram um rompimento na quinta-feira, tentando seguir o rali nas commodities que estão reagindo às pressões inflacionárias nos EUA desde o início do ano.
Mas o que está faltando é convicção no ouro desde que o metal passou recuar após tocar as máximas de agosto, tornando-se um declínio sistêmico a partir de novembro, quando foram reveladas as primeiras vacinas eficazes contra a Covid-19.
Muitos investidores se afastaram do ouro após a movimentação do ativo nos últimos seis meses, que chegou até a tocar a mínima de 11 meses abaixo de US$ 1675.
Por isso, com a retomada do nível de US$ 1.800 na quinta-feira após uma batalha de 10 semanas, diversos analistas estabeleceram preços que precisam ser vencidos pelo mercado para que o ouro finalmente renasça.
O primeiro deles é US$ 1,850, quase atingido na sexta-feira. Esse é um preço-chave que precisa ser cruzado para que o ouro volte a demonstrar a glória passada.
Oleoduto Colonial e situação global da Covid prendem as atenções no petróleo
No petróleo, a principal operadora de oleodutos dos EUA, Colonial Pipeline, desativou toda a sua rede sem dizer quando voltará a operá-la, após um ataque cibernético envolvendo um ransomware na sexta-feira.
A Colonial é a principal fonte de gasolina da Costa Oeste e também abastece alguns dos maiores aeroportos dos EUA. O incidente colocou em destaque a vulnerabilidade da infraestrutura energética americana a hackers.
Uma ociosidade prolongada da rede pode gerar elevações de preço nas bombas de gasolina antes do pico da estação de viagens automotivas de verão, com o aumento de consumo interno e a retomada econômica pós-pandemia.
Essa situação também pode afetar as refinarias de petróleo na Costa do Golfo, caso seja necessário reduzir o processamento de petróleo por causa do desligamento do sistema de distribuição.
O petróleo registrou sua segunda semana de alta na sexta-feira, mas os preços entraram novamente em consolidação por conta de preocupações com a desaceleração da geração de vagas de emprego nos EUA em abril e a catástrofe da Covid no terceiro maior país consumidor de petróleo: a Índia.
O barril de West Texas Intermediate, referência do petróleo nos EUA, fechou na sexta a US$64,90, uma alta de 2% na semana. Na janela asiática de negociação, o WTI atingiu a máxima de US$ 65,75, na esteira do rali da gasolina por causa da desativação dos oleodutos da Colonial.
Já o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência mundial para o petróleo, fechou o pregão de sexta cotado a US$ 68,28, uma alta de 1,5% na semana. Na janela asiática desta segunda, atingiu a cotação de US$69,19.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.