Será que Jerome Powell e o Federal Reserve vão acelerar a redução de compras de títulos nos EUA e concluí-la até março do ano que vem?
Se houver um “tapering” duas vezes mais rápido do que se previa e uma alta de juros com um trimestre de antecedência, não se sabe como o ouro reagiria a essa situação.
Durante a janela de negociações na Ásia, nesta segunda-feira, o contrato futuro mais ativo do ouro subia US$2,15, ou 0,1%, negociado a US$1.786,95 por onça-troy, estendendo o pequeno avanço da semana passada de 0,1%.
A estranha “calmaria antes da tempestade” no metal precioso pode estar surpreendendo quem apostava na sua queda antes da reunião do banco central americano a partir desta terça-feira, que culminará com a coletiva de imprensa de Powell na quarta.
Além do Fed, também teremos as decisões de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), do Banco da Inglaterra e do Banco do Japão no fim desta semana. O BCE pode reduzir pela metade o volume de ativos que vem adquirindo por mês desde abril, segundo um levantamento da Reuters.
No Fed, são grandes as expectativas de que Powell fique ao lado dos seus colegas que defendem uma redução mais célere dos estímulos monetários, cortando em US$30 bilhões as aquisições mensais do banco central americano, em vez dos US$15 bilhões declarados anteriormente. Com isso, o chamado tapering pode ser concluído em um pouco mais de três meses, abrindo as portas para a primeira alta de juros pós-pandemia em abril.
Mas alguns operadores posicionados na compra do ouro argumentam que, nas últimas duas semanas, foram tão intensos os rumores de um aperto mais cedo nos EUA que o metal precioso acabou ficando insensível a eles. Talvez isso explique a ação anêmica dos preços do metal amarelo nas últimas sessões.
O analista técnico Sunil Kumar Dixit, contribuidor regular do Investing.com, afirma que o ouro precisa se firmar acima de US$1768 na próxima semana para evitar um derretimento até US$1700 ou mais.
Caso isso aconteça, o ouro pode surpreender e voltar a subir, defende Dixit.
“Um movimento respaldado por um volume maior acima de US$1797 pode desencadear uma corrida até a próxima grande pernada de alta de US$1825”, declarou o analista.
O ouro e o grande “I”
O ouro também está se segurando por outra razão: a inflação.
Notícias sobre altas de juros são sempre ruins para o ouro. Desta vez, entretanto, os operadores parecem estar mais concentrados nos dados de inflação dos EUA, permitindo que o metal exerça seu tradicional papel de proteção contra a perda de poder aquisitivo, embora a forte ação do Fed para corrigir a situação ainda possa ser negativa para ele.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 6,8% no ano até novembro, seu ritmo mais acelerado de alta nas últimas quatro décadas, tal como ocorreu em outubro, segundo o Departamento de Trabalho, na sexta-feira.
“O ouro está lentamente voltando a brilhar após o relatório de inflação ficar dentro das estimativas”, disse Ed Moya, da plataforma de negociação online OANDA, na sexta-feira.
“Grande parte da inflação é mais aderente do que muitos pensavam, o que pode reforçar uma perspectiva de alta no ouro no médio e longo prazo”.
Mas Moya também alertou que um ciclo acelerado de alta de juros é um grande risco e pode gerar “vendas de pânico” no ouro, diante das maiores chances de o Fed proceder dessa forma a partir de agora.
“O ouro precisa sobreviver a um firme consenso em relação a como se darão as altas de juros do Fed no ano que vem”, declarou.
“A recente faixa de negociação do metal, entre US$1760 e 1800, pode continuar em vigor até a próxima decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto.”
O pêndulo do ouro irá ser decidido, evidentemente, pelas oscilações do mercado de títulos do Tesouro americano, os chamados treasuries, e pelo comportamento do dólar.
No pregão asiático desta segunda-feira, o rendimento da nota referencial de 10 anos do Tesouro americano subia levemente, para 1,49%, em comparação com a mínima da semana passada, de 1,34%, no que alguns investidores classificaram como contínua ascensão devido a especulações de uma alta de juros.
O Índice Dólar também ficou estável, subindo 0,1%, para 96,18, surpreendendo por não ter subido mais na semana passada, devido aos dados do IPC.
Os investidores correram para moedas de proteção há algumas semanas, embora novas notícias sobre a variante ômicron da Covid indicassem que a cepa não era tão nociva quanto se temia, provocando uma reversão nos fluxos na semana passada.
“Tudo o que queremos para o Natal é clareza”, afirmaram analistas do Barclays (LON:BARC) em nota.
Greg Anderson, diretor global de estratégia de câmbio internacional da BMO Capital Markets, declarou que era normal a redução das posições dos participantes do mercado até o fim do ano, de modo que o recuo do dólar na sexta-feira “provavelmente foi um prelúdio disso”.
“O mercado de câmbio internacional está extremamente comprado em dólares há semanas, portanto, com esse número vindo benigno, estamos quase fora de eventos que possam fazer o dólar subir de forma acentuada antes do fim do ano”, declarou Anderson.
O argumento de uma alta de juros nos EUA não poderia ser mais convincente do que agora. Além de a inflação estar em seus níveis mais altos desde 1982, de acordo com a leitura do IPC na sexta-feira, o mercado de trabalho também registrou o menor número de pedidos de seguro-desemprego em 52 anos na semana passada. A desocupação entre os americanos, enquanto isso, ficou apenas 0,2% acima da meta do Fed para o pleno emprego até novembro.
Cabe ressaltar ainda que a transformação de Powell, de "pombo” para “falcão”, foi quase absoluta durante seu depoimento ao Senado, no fim do mês passado, ao dizer que já era hora de parar de chamar a inflação nos EUA de “transitória”. Ele também alertou que “a ameaça de uma inflação persistentemente alta cresceu”, devido à emergência da ômicron, e que a disparada dos preços poderia muito bem perdurar no “ano-novo".
Mesmo assim, o presidente do Fed reconheceu que a Covid representava “riscos de queda no emprego e na atividade econômica”.
Diante de uma perspectiva tão complexa, será que o Fed dobrará o tapering?
Powell nos dirá isso na quarta-feira.
Petróleo pode se valorizar com redução das preocupações com a ômicron
No petróleo, os preços dispararam durante a sessão asiática desta segunda-feira, recuperando mais do que haviam cedido nas seis semanas anteriores, graças ao otimismo maior em relação ao impacto restrito da ômicron no crescimento da economia e da demanda de combustível global.
O barril de West Texas Intermediate, que serve de referência de preços nos EUA, subia US$1,03, ou 1,4%, para US$72,70. Na semana passada, o WTI subiu 8,1%. Antes disso, ele atingiu a mínima de quatro meses de US$62,48 por causa dos temores relacionados à ômicron, após tocar a máxima de sete anos de US$85,41 em meados de outubro.
O analista técnico Dixit observou que, após seis semanas em queda livre, o WTI havia encontrado suporte em US$62,40, que atua como piso sólido desde março de 2021.
“O maior volume de compras acima dessa região pode estender ainda mais a recuperação para US$76,60 e US$80”, complementou.
A volatilidade também foi registrada no barril de Brent negociado em Londres, que serve de referência mundial dos preços. O Brent se valorizava US$1,13, ou 1,5%, para US$76,28. Na semana passada, o Brent subiu 7,7%. Antes disso, em meados de outubro, ele caiu para US$65,80, após atingir US$86,70, preço visto pela última vez em 2014.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.