As perspectivas dos três maiores frigoríficos de carne bovina com operações no Brasil – JBS (JBSS3 (SA:JBSS3)), Marfrig (SA:MRFG3) e Minerva (SA:BEEF3) – indicam que, nos próximos meses, a oferta de boi gordo será maior por conta da virada de ciclo pecuário, que deve levar à queda da arroba em termos reais e à melhora das margens nos próximos meses.
Ciclo pecuário
O ciclo pecuário reduz o principal custo dos frigoríficos: a compra do gado. Primeiro, é preciso entender que o mercado pecuário passa por comportamentos sazonais, com ciclos de alta e de baixa oferta.
Em um ciclo de baixa da pecuária, os preços pouco atrativos estimulam o abate de fêmeas, reduzindo gradativamente a produção e, consequentemente, a oferta de bezerros. Por outro lado, quando a produção de bezerros está maior, como consequência, o preço dos bezerros diminui e o produtor aumenta a quantidade de vacas disponíveis para abate.
Perceba como o ciclo nada mais é do que um jogo entre oferta e demanda de bezerros e a decisão do produtor, conforme o mercado, de aumentar a venda de vacas e novilhas.
Ciclo positivo para frigoríficos
Os frigoríficos estão entrando em um cenário que favorece margens maiores nos próximos meses, uma vez que o preço do boi gordo ficará mais barato, devido ao ciclo positivo, e os preços da carne bovina devem permanecer fortes. Não vemos, por enquanto, aspectos preocupantes em relação ao consumo.
Otimismo para exportadoras
O mercado externo é importante para a indústria engordar margens. No primeiro quadrimestre deste ano, as exportações brasileiras de carne bovina cresceram +30 por cento em relação ao mesmo período de 2021, de acordo com a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
Para os próximos meses, continuamos a ver tendências sólidas à frente com forte demanda ao redor do mundo, sobretudo da China conforme o lockdown é removido no país asiático.
Minerva é quem mais se beneficiará do cenário
A Minerva é quem mais se beneficiará do cenário, uma vez que sua produção está concentrada na América do Sul, com forte relevância no Brasil, onde o ciclo pecuário está favorecendo os frigoríficos. Seus concorrentes, por sua vez, têm operações fora do Brasil, onde o ciclo não está favorável. Assim, a perspectiva é de aumento nas margens de Minerva frente aos concorrentes. Nesse contexto, a companhia controlada pela família Vilela de Queiroz pode comprar gado mais barato e escolher para onde exportar seus cortes de carne.
A exportação representa 80 por cento dos negócios da Minerva e as vendas internas 20 por cento. Com isso, a empresa consegue contornar o fraco consumo da proteína no Brasil.
Apesar de melhores preços nas prateleiras para o consumidor final, o mercado espera que o consumo de carne no Brasil não cresça em 2022 devido à inflação alta, que faz o consumo da proteína animal cair e mudar o cardápio para opções mais baratas.
Mercado estrangeiro deve compensar demanda doméstica fraca
A Minerva deve continuar se beneficiando de uma demanda global aquecida por proteína nos próximos anos, especialmente porque os países desenvolvidos continuam aumentando o consumo de carne bovina per capita (doméstico).
A Minerva possui relevância e eficiência no mercado asiático (especialmente na China) e nos Estados Unidos, com a representação de 30 por cento e 10 por cento dos negócios, respectivamente.
Principais riscos
Na ponta negativa, questões climáticas desfavoráveis podem prejudicar a operação, bem como a alta do dólar, que impacta diretamente nos preços de commodities agrícolas. A depender da cotação do dólar e do preço da arroba, os resultados podem ter interferência negativa.
Por fim, vemos a persistência da inflação como um risco para Minerva e outros frigoríficos no geral, uma vez que a demanda por carne bovina está relacionada à renda.
Potencial de valorização
Ainda vemos potencial de valorização para as ações da Minerva. Diante da demanda externa e virada do ciclo, a companhia pode entregar forte crescimento de receita e EBITDA. A empresa negocia hoje a múltiplos de 5,5x EBITDA 2022, abaixo da média histórica dos últimos 10 anos e entregando um dividend yield de 5 por cento nos últimos 12 meses.