Com tanta tensão na saúde, na economia e no campo político, uma pergunta paira sobre muito investidor por aí: para onde vai o Ibovespa?
Na última semana, a sequência de altas do Ibovespa tem sido comemorada como a volta “antecipada” do bull market, gerando grande pragmatismo sobre o descolamento dos preços das ações e os fundamentos de suas empresas, tornando cada movimento do índice da bolsa brasileira uma manchete nas redes sociais. Como analista e ser humano, sem a intenção de ser o dono da razão, entendo que tem muita gente esquecendo ou ignorando os principais fundamentos das análises, sejam elas técnicas ou fundamentalistas, partindo para o calor do mercado.
Vejamos primeiro o Ibovespa por uma análise técnica, mas de maneira simples para que todos possam acompanhar o raciocínio.
O primeiro ponto a ser considerado é o fato de o índice não ter consolidado uma tendência de alta para o médio prazo. Para que isso aconteça, ele precisa recuar até a região dos 87.000 pontos, formando um novo fundo, respeitá-lo, criando o terceiro toque na linha de alta, para só depois afirmar que há cenário para continuidade do movimento. Resumindo, antes, ele precisa cair para depois confirmar a tendência de que os preços continuarão subindo.
No lado da análise fundamentalista, sabemos que a temporada de balanços no segundo trimestre tende a ser um mar de sangue nos resultados de grande parte das companhias, evento que já foi parcialmente precificado, no meu ponto de vista. Mas, tratando-se de fundamentos e visão de longo prazo, será um momento importante de reavaliação dos ativos em carteira.
Um bom exemplo do que estou falando são as ações da Gol (SA:GOLL4), cujos preços subiram 90% em uma semana, mas, de longe, faz parte de um setor que é um dos mais afetados pela interrupção na demanda devido à pandemia de Covid-19. Não se trata de dizer que a empresa irá fechar as portas, mas, sim, se ela irá atender aos bons fundamentos para que se justifique a sua inclusão ou retirada da carteira.
Outra leitura perigosa que me parece ganhar força no mercado é a entrada de capital estrangeiro que vem aumentando na bolsa brasileira. Para o estrangeiro de país de primeiro mundo, a bolsa de valores está barata com a depreciação do real, além de sermos um país emergente e a melhor opção na América Latina. Certamente, tem o lado positivo, mas não se leve apenas pela ideia de que se estão comprando é porque sabem o que estão fazendo.
O número de brasileiros na B3 mais que dobrou no comparativo de maio de 2019, somando 2.511.947 milhões de investidores ativo na bolsa. Talvez, essa seja uma das principais razões para o descolamento dos preços.
Finalmente, existem muitas boas oportunidades por aí, mas que devem ser encaradas com racionalidade, usando a probabilidade e os fundamentos ao seu favor e sempre respeitando o seu perfil de investidor. Afinal, não se trata de uma corrida e, sim, de uma decisão confortável no melhor momento oferecido.