O cenário de inflação causado pela pandemia e conflitos geopolíticos tem sido combatido pelos Bancos Centrais de todo o mundo. Ainda que no Brasil a pressão sobre os preços esteja, de certa forma, controlada, não podemos dizer o mesmo do restante do mundo.
No último dia 26 de outubro, o Copom manteve a Selic em 13,75% a.a. e este nível deve ser mantido até meados do segundo trimestre de 2023, caso não haja nenhum novo choque inflacionário.
Atualmente, o panorama que temos visto tem sido favorável, com os núcleos de bens e serviços em queda. Porém, mais do que isso, a desaceleração tem sido observada inclusive sem considerar os administrados, em que boa parte das quedas derivaram da isenção de impostos anunciada pelo governo.
Por isso, ao longo do primeiro semestre do próximo ano, devemos ter uma inflação no acumulado de 12 meses na casa de 3% a 3,5%, o que produzirá um juro real bastante elevado.
Diante disso, a possibilidade de redução da Selic no 2° trimestre de 2023 é elevada e consideramos que o espaço para redução é relevante, com a taxa Selic atingindo 9,0% a.a. em dezembro de 2023.
Lá fora, desde a última reunião do Fed, tivemos uma sequência de dados de atividade e inflação que forçam a necessidade de continuação do aperto nos juros. Portanto, acreditamos que uma elevação de 75 bps deve ser a decisão mais provável na reunião de novembro.
No entanto, a grande discussão que gira em torno do tema diz respeito ao ritmo e tom dos ajustes uma vez que, a depender do peso da “mão da autoridade monetária norte-americana”, uma recessão econômica indesejada pode ser gerada.
Portanto, para continuar a perseguir as metas inflacionárias sem gerar ruídos, o Fed precisará ser cuidadoso e passar duas mensagens em nossa visão.
A primeira diz respeito ao tamanho do ajuste. Sabemos que 75 bps é um ritmo de aperto relativamente forte e já tivemos quatro reuniões consecutivas com este nível.
Por isso, faria mais sentido moderar o ritmo para 50 bps a fim de não haver exageros.
O segundo ponto mostra um cenário de inflação persistente, que não deixa o Federal Reserve terminar o ciclo mais cedo. Hoje, a sinalização é de um encerramento na faixa de 4,75% a.a., mas entendemos que isso pode chegar a 5% a.a., com a provável revisão das projeções de inflação e desemprego do Fed, que resultará na necessidade de novos apertos de juros além do sinalizado na reunião de setembro.
Por fim, a grande questão para o Fed é sobre como fazer uma comunicação ao mercado que não passe a imagem de descompromisso com a questão inflacionária, mas ao mesmo tempo não coloque a economia em recessão intensa. Um equilíbrio tênue que requer “haver tanto arte quanto ciência nas atividades de bancos centrais”. Bons negócios!