Com Vinicio Almeida*
Imagine investir em um produto que parece proteger seu dinheiro, mas que, sem que você perceba, esconde riscos consideráveis. Certificados de Operações Estruturadas (COEs) são assim: parecem seguros à primeira vista, mas o perigo pode estar logo abaixo da superfície. Com a nova Resolução 5.166 do Conselho Monetário Nacional (CMN), os grandes bancos agora têm mais liberdade para emitir COEs lastreados em créditos imobiliários e outros instrumentos de crédito. Para o investidor comum, isso pode parecer uma nova oportunidade, mas será que você sabe exatamente o que está comprando?
Os COEs ganharam popularidade por prometerem uma mistura sedutora: a chance de ganhar mais que em produtos tradicionais, com uma “proteção” parcial do capital investido. Mas, como qualquer bom investidor sabe, quando algo parece bom demais para ser verdade, vale a pena investigar mais de perto.
Na prática, o COE é um produto estruturado que combina derivativos com outros ativos financeiros. Isso significa que seu retorno depende de uma série de fatores de mercado que podem mudar rapidamente. Com a nova regulamentação, os bancos podem atrelar esses COEs a créditos imobiliários e outros títulos, como CRIs e CRAs. Traduzindo: você pode estar investindo em algo que depende da saúde financeira de quem tomou esses créditos. Se o crédito falha, seu investimento também corre risco.
Entendendo o Risco: Quando o Lastro é o Problema
Para entender o verdadeiro risco de um COE de crédito, é importante saber o que está por trás dele: os ativos que “lastreiam” o produto. No caso dos novos COEs, esses ativos podem ser financiamentos imobiliários, títulos do agronegócio ou outros instrumentos de crédito. E aqui está o ponto central: se esses créditos falharem – por exemplo, se o tomador de um empréstimo imobiliário não pagar – isso afeta diretamente o valor do seu investimento.
Diferente de produtos como CDBs, que têm a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), muitos COEs não têm essa rede de segurança. Produtos como LCI e LCA, embora também tenham lastro em crédito, são cobertos pelo FGC, mas apenas se o banco emissor quebrar. No caso dos COEs de crédito, se o ativo que lastreia o produto falhar, o emissor não tem a obrigação de garantir seu investimento. O risco é seu.
O Emissor Lava as Mãos – E o Risco Vai Para Você
No COE de crédito, há uma diferença fundamental em relação aos COEs tradicionais: o emissor, que normalmente assume o risco no caso de produtos financeiros, agora apenas intermedeia a operação. Ou seja, ele "lava as mãos" e transfere o risco totalmente para o investidor. Se o crédito por trás do COE der errado, você arca com a perda. Parece justo? Muitos investidores podem pensar que estão protegidos, mas a verdade é que, na prática, você está exposto a mais risco do que imagina.
Conflito de Interesses: O Que Não Estão Te Contando?
Além dos riscos intrínsecos aos COEs, há outra questão importante: o incentivo econômico por trás da venda desse tipo de produto. Instituições financeiras e distribuidores muitas vezes são incentivados a vender COEs, e isso pode levar a um conflito de interesses. A grande pergunta é: será que estão te oferecendo esse produto porque ele é realmente bom para você, ou porque traz benefícios financeiros para quem o vende?
A falta de transparência, somada à complexidade desses produtos, faz com que muitos investidores acabem comprando COEs sem entender os riscos por completo. E, no final, quem paga a conta é o próprio investidor, que pode perder dinheiro sem ter sido adequadamente informado.
O Perigo da Falta de Clareza
Uma das maiores críticas aos COEs sempre foi a falta de clareza nas informações sobre os riscos envolvidos. Muitos investidores são atraídos pela promessa de altos retornos e não percebem que os cenários de perdas são, muitas vezes, tão prováveis quanto os de ganhos. Com os novos COEs de crédito, essa falta de transparência se torna ainda mais preocupante, pois agora o risco depende de fatores externos, como o pagamento de empréstimos ou a saúde financeira de empresas do agronegócio.
Você, como investidor, precisa exigir clareza e perguntar sempre: “O que acontece se esse crédito falhar?” Se a resposta não for totalmente transparente, cuidado.
O Que o Regulador Está Fazendo?
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já expressou preocupações sobre a transparência dos produtos financeiros oferecidos ao investidor de varejo. Mas, com a Resolução 5.166, os bancos agora podem emitir COEs de crédito sem passar por securitizadoras, que são sujeitas a regras mais rígidas. Isso significa que há uma brecha regulatória, e os investidores podem acabar pagando o preço.
Com menos supervisão sobre esses produtos, quem investe precisa redobrar a cautela e entender que o COE de crédito, embora sofisticado, é um produto arriscado. Não há atalhos para obter altos retornos sem assumir grandes riscos.
Não se Deixe Iludir Pela Proteção Aparente
A Resolução 5.166 abre novas oportunidades para o mercado financeiro, mas também traz consigo perigos ocultos, especialmente para o investidor de varejo. Produtos como os COEs de crédito podem parecer uma boa ideia à primeira vista, mas é crucial entender que o risco é real e pode custar caro.
Antes de investir, pergunte-se: Eu realmente entendo o que está por trás desse produto? A promessa de proteção parcial pode ser sedutora, mas o risco escondido nos ativos de crédito é algo que não deve ser ignorado. Informação é poder – e, nesse caso, pode ser a diferença entre um investimento seguro e uma perda significativa.
5 Cuidados Essenciais ao Investir no Novo COE de Crédito
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Entenda o Lastro
Verifique quais ativos sustentam o COE, como créditos imobiliários ou do agronegócio, e avalie os riscos de inadimplência ou desvalorização. -
Sem Proteção do FGC
Diferente de CDBs, COEs de crédito não têm cobertura do FGC. Se o ativo lastreado falhar, você pode sofrer perdas consideráveis. -
Complexidade do Produto
COEs são produtos sofisticados. Certifique-se de que todas as condições e riscos foram explicados de forma clara antes de investir. -
Conflito de Interesses
Desconfie de incentivos ocultos por parte de distribuidores que possam recomendar o COE sem considerar seu perfil de investidor. -
Baixa Liquidez e Possíveis Perdas
A liquidez dos COEs é limitada, e a proteção de capital pode ser insuficiente. Esteja preparado para manter o investimento até o vencimento e enfrentar possíveis perdas.
*Professor e PhD em Finanças