De maneira geral, a citricultura paulista registrou preços elevados em 2020, segundo mostram pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Com a menor produção de laranjas no cinturão citrícola (São Paulo e Triângulo Mineiro) na safra 2020/21 devido ao clima adverso, a necessidade de matéria-prima por parte da indústria continuou alta ao longo do ano, fator que sustentou os valores da fruta.
Primeiro, após as floradas ocorridas no segundo semestre de 2019, as altas temperaturas e o clima seco, principalmente em setembro e outubro, limitaram o pegamento dos frutos. Assim, houve perda significativa na florada principal e maior participação das frutas de segunda florada. Depois, durante o período de enchimento, no segundo semestre de 2020, novamente a seca e as altas temperaturas atingiram as regiões citrícolas paulistas, o que prejudicou tanto o tamanho das laranjas quanto a taxa de queda de frutas.
Segundo o relatório de 10 de dezembro do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), o cinturão de São Paulo e do Triângulo Mineiro deve ter a maior quebra de safra (em termos percentuais) desde 1988/89, quando se inicia a série histórica. No total, a produção de laranja deve cair 30% na temporada 2020/21, totalizando 269,36 milhões de caixas de 40,8 kg.
Ressalta-se que as safras mais recentes do cinturão têm sido marcadas por elevada oscilação na produção. Desde o início do Projeto PES (Pesquisa de Estimativa de Safra), do Fundecitrus (na temporada 2015/16), observa-se elevada variabilidade entre o volume produzido entre uma safra e outra, caracterizando uma bienalidade de produção, muito mais influenciada por questões climáticas do que propriamente fisiologia da planta.
PREÇOS INDUSTRIAIS – Ainda que as processadoras tenham iniciado a temporada 2020/21 com bons volumes de suco em estoque – 471 mil toneladas de suco em equivalente concentrado, de acordo com a CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) –, o cenário de baixa oferta de matéria-prima manteve a necessidade industrial por frutas elevada, o que se reflete nos preços oferecidos.
As primeiras propostas (em abril) estiveram entre R$ 20 e R$ 22/cx de 40,8 kg, colhida e posta na fábrica, mas, assim que a primeira estimativa do Fundecitrus foi divulgada, em maio, os valores já subiram para até R$ 25/cx. Em dezembro, a única grande indústria estava comprando no segmento spot a R$ 27/cx – vale lembrar, contudo, que a maioria dos produtores comprometeu suas frutas antecipadamente, reduzindo significativamente a participação do mercado spot.
MERCADO DE MESA – A maior demanda industrial diminuiu a disponibilidade de frutas no mercado de mesa, visto que houve casos de produtores tipicamente do segmento que preferiram direcionar suas frutas à indústria, diante das incertezas da pandemia e dos preços atrativos no processamento. Este cenário somado às adversidades climáticas (que acentuaram a baixa disponibilidade de frutas com padrão para a mesa) e à demanda aquecida impulsionaram as cotações das laranjas de mesa em praticamente todos os meses de 2020.
A laranja pera rio atingiu o maior patamar de 2020 em novembro, quando média foi de R$ 43,35/cx de 40,8 kg, na árvore, 54,6% acima da observada no mesmo mês de 2019, em termos nominais. Mesmo em julho, período em que normalmente os preços registram o menor valor do ano, a fruta foi negociada na média de R$ 26,83/cx de 40,8 kg, na árvore, alta de 48,6% em relação à do mesmo mês de 2019.
TAHITI – A oferta de lima ácida tahiti foi bastante elevada de janeiro a abril, período de pico de safra. Ainda que as exportações tenham sido aquecidas nestes meses, os preços foram pressionados pela alta disponibilidade. A elevada carga das plantas naquele período, por sua vez, resultou em queda nas produções seguintes, elevando os preços, especialmente a partir de julho, quando passaram a operar em patamares recordes nominais da série histórica do Cepea (iniciada em 1996). A maior média do ano, de R$ 85,15/cx de 27 kg, foi observada em agosto, com avanço de 183% frente à do mesmo mês de 2019. A baixa produção do segundo semestre, em alguns períodos, foi agravada pela estiagem. Quanto às exportações da fruta, atingiram recorde em 2020.
FLÓRIDA – Relatório divulgado em dezembro pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima a safra 2020/21 de laranja da Flórida em 56 milhões de caixas de laranja de 40,8 kg, queda de 17% frente à temporada anterior. Assim, como na safra brasileira, o desenvolvimento das frutas da Flórida foi prejudicado pelo clima – temperaturas muito elevadas antes do período de floração e volumes insuficientes de chuva no desenvolvimento, que limitaram a produtividade.
EXPORTAÇÕES – A temporada 2019/20 (de julho/19 a junho/20) de exportações de suco de laranja registrou desempenho positivo por mais um ano. O bom resultado se deve à maior produção paulista e à possível necessidade de abastecimento dos estoques das engarrafadoras europeias. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil enviou a todos os destinos 1,11 milhão de toneladas de suco em equivalente concentrado, alta de 14% em relação a 2018/19.