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Ciclos econômicos: Como entendê-los pode mudar a sua forma de investir?

Publicado 18.09.2024, 10:00

Os ciclos econômicos representam as oscilações na atividade econômica ao longo do tempo e são fundamentais para compreender como e onde investir. Cada ciclo apresenta características únicas que influenciam o comportamento de mercados, setores e ativos, criando oportunidades e riscos para investidores em todo o mundo.

Em termos simples, um ciclo econômico é dividido em quatro fases principais: expansão, “boom”, retração e recessão. Cada uma dessas fases reflete as condições econômicas prevalentes, como o crescimento do PIB, a inflação, o nível de emprego e as taxas de juros. Compreender essas fases é fundamental para a construção de uma estratégia de investimento inteligente.

Hoje, quero conversar com vocês sobre como esses ciclos influenciam nossos investimentos. Vamos lá.

Durante a fase de expansão, a economia está crescendo de forma constante. O PIB aumenta, o desemprego começa a cair, e as taxas de juros permanecem relativamente baixas para estimular o crescimento. Os investidores, nesse momento, costumam alocar seus recursos em ativos mais arriscados, como ações de empresas de valor e “small caps”, que tendem a crescer à medida que a economia se expande.

A fase de “boom” é caracterizada por um crescimento econômico robusto, com pleno emprego e inflação sob controle. O PIB atinge níveis elevados e a confiança do consumidor e dos negócios é alta. Neste período, setores como tecnologia, consumo de luxo e bens de capital tendem a performar bem, uma vez que os consumidores e empresas estão dispostos a gastar mais.

A retração marca o início de uma desaceleração econômica. Os Bancos Centrais, geralmente, aumentam as taxas de juros para controlar a inflação, o crescimento do PIB desacelera, e o desemprego começa a subir. Nesse contexto, os investidores devem começar a migrar para ativos defensivos, como títulos de renda fixa, ações de empresas de bens de consumo básico e utilidades públicas.

A fase de recessão é o ponto mais baixo do ciclo econômico. Durante esse período, o desemprego atinge níveis elevados, o crescimento do PIB é negativo e a inflação diminui devido às altas taxas de juros. Os investidores procuram ativos ultra defensivos, como títulos de renda fixa de alta qualidade, ouro, e setores como saúde e consumo básico, que tendem a ser mais resilientes em tempos de crise.

A política monetária, como vocês podem ver, desempenha um papel relevante em cada fase do ciclo econômico. Por exemplo, em tempos de recessão, os bancos centrais frequentemente reduzem as taxas de juros para estimular o crescimento, enquanto durante períodos de “boom”, as taxas podem ser aumentadas para conter a inflação. As decisões de política monetária podem criar oportunidades ou riscos para os investidores, dependendo de como ajustam suas carteiras para cada fase.

No cenário global, após a pandemia de COVID-19, muitos países se encontraram em diferentes fases do ciclo econômico. Países desenvolvidos, como os Estados Unidos, injetaram trilhões de dólares em suas economias para evitar uma recessão profunda, resultando em um “boom” temporário seguido por uma fase de retração. Já o Brasil, antecipando a alta da inflação, o Banco Central aumentou a taxa básica de juro rapidamente e passou de uma fase de retração para uma recessão.

No Brasil, atualmente, estamos debatendo um novo ciclo de alta de juros (fase de recessão). De um lado, os que advogam por uma alta relevante dos juros argumentam que a demanda dos consumidores e das empresas é maior do que o que a economia pode atender de maneira sustentável e, por isso, precisamos de um aperto monetário que ajuste a inflação à meta estabelecida pela autoridade monetária. Do outro lado, temos os que defendem que os maiores responsáveis pela atividade aquecida foram os sucessivos impulsos fiscais realizados desde 2022, que tenderão a diminuir significativamente nos próximos meses.

Para os investidores, compreender onde um país se encontra no ciclo econômico é fundamental para ajustar a alocação de ativos. Durante uma fase de expansão, por exemplo, o foco deve ser em ações de crescimento, enquanto na recessão, a preferência deve ser por ativos defensivos, como títulos de renda fixa e ações de setores essenciais.

Cada fase do ciclo econômico oferece diferentes oportunidades de investimento. Durante uma expansão, investir em ações de empresas de valor, setores cíclicos como energia e materiais, e “small caps” pode gerar retornos significativos, pois essas empresas se beneficiam do aumento da demanda e do crescimento econômico.

Em um “boom”, é recomendado pensar em ações de crescimento, tecnologia e consumo de luxo, uma vez que os consumidores e empresas estão dispostos a gastar mais. Setores como tecnologia e bens de capital tendem a se destacar, aproveitando a confiança elevada do mercado e a expansão dos investimentos.

Na fase de retração, é prudente migrar para ativos defensivos, como ações de empresas de bens de consumo básico e utilities, que geralmente mantêm desempenho estável, mesmo quando a economia desacelera. Além disso, os títulos de renda fixa se tornam atraentes, especialmente quando o Banco Central começa a aumentar as taxas de juros para controlar a inflação.

Durante uma recessão, a estratégia de investimento deve focar em ativos ultra defensivos, como títulos do governo, ouro, e ações de setores como saúde e consumo básico. Esses ativos tendem a ser mais resilientes em tempos de crise, pois oferecem proteção contra a volatilidade do mercado.

É importante lembrar que eventos inesperados, como a pandemia de COVID-19 ou conflitos geopolíticos, podem causar mudanças abruptas no ciclo econômico. Tais eventos destacam a importância de uma carteira diversificada, que possa se ajustar rapidamente às novas condições de mercado.

Reflexão

Quando os juros sobem, o custo do dinheiro se torna mais caro. Isso significa que as empresas têm que pagar mais para tomar empréstimos e financiar suas operações. Além disso, o valor presente dos fluxos de caixa futuros das empresas é descontado a uma taxa de juros mais alta, reduzindo o valor atual de suas ações. Portanto, geralmente, as ações das empresas tendem a se desvalorizar em períodos de alta de juros.

Perceba que mesmo que as empresas se desvalorizem devido ao aumento dos juros, essa desvalorização também pode ser vista como uma oportunidade de compra em alguns casos. No entanto, o foco principal em termos de ciclos econômicos é alinhar os investimentos com o cenário econômico mais amplo.

Muitos grandes investidores, como Warren Buffett, seguem uma abordagem contrária ao mercado, que envolve comprar quando outros estão vendendo (ou quando os preços estão baixos) e vender quando outros estão comprando (ou quando os preços estão altos). A lógica por trás dessa estratégia é aproveitar as oportunidades que surgem quando o mercado, por medo ou euforia, leva os preços a se desviarem de seus valores intrínsecos.

Por exemplo, quando os juros sobem, as ações tendem a se desvalorizar, como mencionei acima, porque o custo do financiamento aumenta e os fluxos de caixa futuros são descontados a uma taxa maior. No entanto, para alguns grandes investidores, essa desvalorização é exatamente o que torna o mercado atraente. Eles veem esse momento como uma oportunidade para comprar boas empresas a preços mais baixos, esperando que, no longo prazo, a economia se recupere e os preços das ações subam novamente.

O que você precisa saber é que investir na contramão do ciclo econômico requer uma visão de longo prazo, paciência e uma forte convicção na análise dos fundamentos de empresas ou ativos. Enquanto o mercado como um todo pode estar em queda, grandes investidores estão dispostos a enfrentar perdas de curto prazo em troca de retornos potencialmente maiores no longo prazo. Essa abordagem, entretanto, carrega riscos: nem sempre é fácil determinar o "fundo" do mercado ou prever quando a recuperação começará. Se a análise estiver errada ou se o investidor subestimar a gravidade da recessão, ele pode enfrentar perdas significativas.

Em conclusão, entender os ciclos econômicos e suas implicações é crucial para qualquer investidor que deseja alinhar seu portfólio ao momento econômico atual. Ao adaptar suas estratégias de investimento de acordo com a fase do ciclo, os investidores podem maximizar seus retornos e minimizar riscos, navegando com mais confiança pelas incertezas do mercado.

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