O BC persiste com o álibi de considerar “quase tudo” que nos afeta para pior como temporário, mas a realidade é que o preço que se eleva, sabidamente no Brasil, não retrocede, portanto são danos definitivos, e a elevação se sustenta na manutenção do preço elevado do dólar e este tem baixíssimas perspectivas de retração e nem a demanda externa.
Então, efetivamente o temporário tende a consolidar-se como definitivo e o que pode ocorrer, muito provavelmente, é o arrefecimento da demanda com a redução das benesses financeiras dos programas assistenciais do governo com foco nas populações carentes.
Mas, na sua ata, já melhora a sua visão prospectiva sobre o que de negativo e, desta forma, coloca a possibilidade de adequar o seu “forward guidance” à efetiva realidade e não preponderantemente ao anseio.
A questão fiscal é sinalizada como preocupante, ainda que não ocorra o rompimento do teto orçamentário.
Ontem, o Senado aprovou a autonomia, relativa diga-se, do BC com duplo mandato e agora será encaminhado à Câmara, após quase 30 anos de expectativa em torno do assunto. O novo perfil impõe ao BC responsabilidades mais amplas, o que, obrigatoriamente, exigirá que seja mais assertivo ao formular “forward guidance”.
O mundo convive com as expectativas em relação a eleição presidencial nos Estados Unidos e, em especial, do Congresso americano que é crucial para o próximo presidente.
E mais, tem perspectivas absolutamente nefastas em torno da 2ª onda da pandemia do coronavírus, extremamente preocupante e já neutralizante da atividade econômica de economias importantes impondo determinações de “lockdown” em países relevantes e que, muito provavelmente, poderão atingir também os Estados Unidos, logo após as eleições presidenciais.
O Brasil convive com a sua “encruzilhada” onde impera a necessidade de adequação e continuidade imperativa dos programas assistenciais do governo às classes menos favorecidas, evitando assim a proliferação da miséria e forte impacto de retração no consumo, e, a dura realidade da escassez de recursos para financiamento destes programas e o expressivo e impagável déficit fiscal, ainda crescente.
Empresários mais céticos sobre os sinais iniciais de recuperação passam a indagar: “até quando”, pois tem consciência de que a grande força de consumo advém da intervenção financeira do governo fomentando a demanda, e, que isto é evidente, pois não há homogeneidade nos sinais positivos e o setor de serviços continua responsivo muito abaixo do necessário.
Por outro lado, é perceptível que o número de desempregados passa a agregar os desalentados que voltam a procurar emprego e assim o número tende a crescimento exponencial.
Enfim, embora ainda se propague um ambiente otimista, sem que efetivamente o seja, vem se acentuando a percepção de que há riscos consideráveis em perspectiva. Um dado importante a ser considerado é a da confiança dos empresários em outubro que caiu 0,4%, segundo a FGV, antepondo-se a expansão recorde em outubro com alta histórica de empregos na indústria, de acordo com o PMI.
Na margem, visto que o Brasil sequer saiu da 1ª onda da pandemia do coronavírus, assistimos o caos que se restabelece nas principais economias mundiais consequente já da 2ª onda da pandemia, e que, é de se supor que se vier a ocorrer no Brasil será traumática, visto que o país não revela deter recursos financeiros para reimplementar programas assistenciais à população.
O mercado financeiro reagiu ontem com serenidade, porém, hoje a grande preocupação é com a judicialização do resultado ainda não conhecido, e isto sim poderá estressar muito o ambiente global. Certo é que seja qual for o vencedor não haverá diferença substantiva, não sendo nem descartável a ocorrência de empate.
Tudo leva a crer que passada a concentração de atenção na eleição americana, ganhará dimensão maior no mundo a “retomada” da crise da pandemia em seu 2º ciclo e as medidas de “lockdown” e reações, e, no Brasil aflorarão as discussões políticas em torno da crise fiscal, no primeiro momento, e isto tende a dar sustentação ao viés de alta do dólar no nosso mercado.
Continua presente a necessidade da ação profilática e preventiva do BC ofertar contratos novos de swaps cambiais, o que tem relutado em realizar.