De volta aos holofotes
Em fevereiro deste ano, ao analisar o recente follow-on de Cogna (COGN3) aqui no Nord Insights, deixamos bem claro o quanto admiramos e gostamos da empresa (acesse o artigo aqui).
Seu histórico de crescimento, fundamentado em fusões e aquisições, é realmente admirável.
Mas devido a expectativa de um 2020 difícil (mesmo antes da crise existir) e da falta de visibilidade de crescimento recomendamos não participar da oferta, entendendo que o momento talvez não fosse o mais favorável.
De lá para cá, a empresa divulgou um resultado decepcionante no 4T19 (fechando 2019 abaixo do seu próprio guidance), e um resultado pior ainda no 1T20 (já impactado pela crise).
Mas uma divisão específica da empresa tem deixado o mercado animado com seu potencial. É a plataforma de serviços voltada ao ensino básico, denominada Vasta.
Com a recente divulgação do registro da intenção de realizar um IPO da plataforma nos Estado Unidos, o mercado voltou a colocar a Cogna no centro das atenções.
E o que todos querem saber no Condado da Faria Lima (ou melhor, no aconchego de suas casas, trabalhando em home office) é: chegou a hora de investir em Cogna?
Segmentos de atuação da companhia. Fonte: Cogna.
Alteração de percurso
Se após o follow-on a empresa pretendia voltar para estratégia onde se já provou vencedora, realizando uma grande aquisição no ensino superior com os 2,6 bilhões de reais levantados, agora, a principal preocupação é com a preservação de caixa em função dos impactos da pandemia em sua receita, rentabilidade e geração de caixa operacional.
Endividamento. Fonte: Cogna.
Com o caixa que tem hoje e o cronograma atual de amortização da sua dívida, sua alavancagem financeira não é um fator preocupante no curto prazo.
Entretanto, a empresa já vinha decepcionando o mercado mesmo antes da COVID-19 e é pouco provável que essa situação se inverta em plena crise.
Resultado 1T20. Fonte: Cogna.
No braço de ensino superior (responsável por ~70 por cento da receita da companhia), a crise vai ter efeitos nocivos nos números de captação, evasão, inadimplência (uma vez que o financiamento próprio foi gradativamente substituindo o FIES após 2014), e consequentemente, nas margens deste que ainda é o principal negócio da empresa.
Para complicar ainda mais, a crise coincidiu com o último ano de grande pressão de queda na receita, por conta da formatura dos últimos alunos matriculados via FIES, que concluem os cursos mais longos e caros (engenharias e medicina).
Como o resultado consolidado da empresa é altamente dependente do desempenho da Kroton, a queda no 1T20 foi significativa, e ao que tudo indica, o resto do ano também será bastante desafiador.
Resultado por empresa. Fonte: Cogna.
Nas plataformas de ensino (principalmente na Vasta) e no ensino básico, os resultados são mais resilientes e o potencial de crescimento no longo prazo é enorme, mas várias perguntas permanecem sem respostas, tais como:
- Quem garante que focando nas plataformas de serviços voltadas a outras instituições de ensino (IEs), a Cogna não criará competição para si mesma?
- A Vasta vai conseguir deixar de ser governo-dependente?
- Será possível replicar a estratégia de sucesso adotada nas IEs do ensino superior, nas IEs do ensino básico?
- A empresa vai conseguir alocar corretamente o capital entre suas unidades de negócio?
Preço e visibilidade de crescimento
O IPO da Vasta, caso se concretize, pode destravar bastante valor na companhia, tendo em vista que suas ações negociam atualmente a 12x Ebitda e que a empresa com quem a Vasta quer se comparar, a também brasileira Arco Plataform (Nasdaq: ARCE), negocia a impressionantes 122x Ebitda lá fora.
IBOV (branco), YDUQ3 (laranja), ANIM3 (rosa), SEER3 (amarelo) e COGN3 (azul). Fonte: Bloomberg.
Mesmo com preço não tão atrativo dentre os pares, as ações de Cogna foram as que mais subiram durante a recuperação da bolsa e a companhia tem hoje o segundo maior múltiplo EV/Ebitda do setor, mesmo apresentando as maiores quedas de resultado nos últimos trimestres.
Gostamos bastante da Cogna e de seu potencial de crescimento no longo prazo, mas tendo em vista as dificuldades que a empresa enfrentará no curto prazo, o Investidor de Valor prefere aguardar por um momento mais favorável ao principal braço da empresa (Kroton), assim como por mais visibilidade no crescimento dos demais braços.
Além disso, existem outras empresas na bolsa menos dependentes da atividade econômica e com muito mais visibilidade de crescimento negociando a preços similares.
Um abraço.